Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Provão & mercado

Paulo Polzonoff

 

O

mercado não quer o profissional do Provão. Profissional com cultura ampla, curiosidade intelectual, criatividade, domínio do idioma e das estruturas narrativas e expositivas aplicadas às mensagens jornalísticas: eis o perfil profissional elaborado pela equipe de especialistas do MEC. Acontece que os especialistas do MEC (quem?) estão redondamente enganados. Não é este o profissional que o marcado quer e admira.

O jornalista já foi um intelectual por definição. Hoje é um profissional como qualquer outro, quase um técnico. Lide, sub-lide, pirâmide invertida – basta saber algumas técnicas básicas e se está pronto para entrar no mercado de trabalho. Ah, sim: deve-se também saber que toda frase começa com letra maiúscula, que se devem levar pilhas extras para o gravador e que uma lauda corresponde a 1.400 caracteres. Convém, se você quiser impressionar, saber que Romeu e Julieta morrem no final da peça, que Ulisses foi escrito por James Joyce e é a história de um tal de Bloom e que foi Picasso quem pintou Guernica. Ótimo, bem-vindo ao maravilhoso mundo do jornalismo.

Exagero, claro, mas estamos andando neste caminho. As faculdades de comunicação têm sua parcela de culpa, é óbvio. Mas também as empresas ávidas por mão-de-obra cada vez mais barata e “maleável” são culpadas de tal fenômeno. O jornalismo está se tornando cada vez menos humanista e mais tecnicista. Há até um professor de Santa Catarina que propunha, há alguns anos, aproximar o curso de Jornalismo de sua faculdade com o de Engenharia de Produção. Não se exige mais do aspirante a jornalista conhecimentos, mesmo que rudimentares, em filosofia, sociologia, história, artes. E essa não-exigência se reflete, de imediato, nos estudantes. E as poucas empresas que exigem “cultura ampla” o fazem de modo catastrófico, com provinhas que exigem do candidato, no máximo, resumos de livros. O fato de os estudantes lerem em média três livros por ano (por ano!!!!) não é causa, e sim conseqüência.

Basta dar uma passada nas faculdades: as aulas de filosofia estão vazias e são as primeiras a ser excluídas em qualquer reforma curricular. Há muitas faculdades que não têm em seus currículos História do Brasil. Literatura? É um luxo de poucos. Há quem passe os quatro anos da faculdade sem ter tocado num livro de ficção – e isso não é exagero. E, de certo modo, entendo-os: para que o fariam?

 


Paulo Scarduelli (*)

 

Este será um março diferente para o Projeto Universidade Aberta, do Curso de Jornalismo da UFSC. Desde 1991, quando foi criado com um programa diário na extinta Rádio União FM, o terceiro mês do ano significava o reinício dos trabalhos. Este ano, porém, a história não se repetiu. O Projeto, que foi crescendo com o tempo e até dezembro passado manteve noticiários sobre a UFSC em três emissoras de rádio e duas de TV de Florianópolis, além de um site premiado na Internet e de páginas em jornais da grande imprensa, não conseguiu retomar sua produção em 1999. Motivo: falta de recursos.

De acordo com o coordenador do Projeto, Eduardo Meditsch, os problemas financeiros vinham se agravando a cada ano até que ficou impossível a sua continuidade. Não daria para garantir aos veículos de comunicação, integrados com o Projeto, que o material prometido estivesse sempre pronto no prazo acertado. “Durante oito anos nunca atrasamos o envio de um programa para as emissoras e não queremos fazer isso agora”, argumenta.

Mantido como atividade de extensão, o Projeto recebeu durante o ano passado 35 bolsas para o trabalho dos alunos que participavam do Projeto. Cada bolsa equivale a 75% do salário mínimo, ou cerca de R$ 96 mil. São os únicos recursos garantidos pela administração para 1999, mesmo significando quase 20% do total de bolsas de extensão da universidade.

Mesmo assim, o Projeto precisa de recursos para pagar os técnicos necessários à produção de vídeo e áudio. No ano passado, os recursos para esse fim vinham de patrocinadores (BESC, Casan e Celesc) e de clientes importantes (Gerasul e Funcitec). Mas os convênios não foram renovados.

Meditsch argumenta que o Universidade Aberta não teria problema se a reitoria aceitasse a proposta de incluir o Projeto no orçamento da UFSC, que, segundo a própria reitoria, significava um custo mensal de R$ 13 mil. Em ofício encaminhado ao diretor do Centro de Comunicação e Expressão, Felício Margotti, no último dia 24, o reitor Rodolfo Pinto da Luz diz que “não há possibilidade de incluir no orçamento da UFSC projetos de extensão” e que a solução seria a “busca de patrocínio externo”. Na tarde do mesmo dia, o reitor teve audiência com os responsáveis pelo Projeto para discutir o problema.

Estudantes de Jornalismo, que na tarde anterior não puderam participar da audiência, fizeram assembléia geral na manhã de quinta-feira para receber os informes do coordenador do Projeto e decidiram criar estratégias para lutar pela manutenção do Universidade Aberta.

Por não incluir o Projeto em seu orçamento, a administração da UFSC, segundo Meditsch, revela falta de visão de comunicação institucional. Ele também não vê condições de desenvolver um trabalho articulado com a Agência de Comunicação. E cita dois motivos: “Um histórico mau relacionamento com o diretor da Agecom, Moacir Loth, que nem é formado em Jornalismo, e uma visão diferente de política de comunicação para a UFSC”.

(*) Jornalista da Agência de Comunicação da UFSC

 

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