Tuesday, 15 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Raquel Ulhôa

ASPAS

"ACM critica pressões da opinião pública", copyright Folha de S.Paulo, 30/4/2001

"O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), 73, reclamou ontem de pressões da opinião pública sobre o Senado para cassar seu mandato. ?Esse clima de cassação é porque sou forte. Querem matar um forte.? ACM acha que não merece ?punição nenhuma?.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem [domingo, 29/4], 50% dos paulistanos acham que a iniciativa de violar o painel do Senado partiu do pefelista, e 58% defendem a sua cassação.
O presidente do Conselho de Ética, Ramez Tebet (PMDB-MS), confirma que ?só falam nisso? [o caso do painel] na sua base eleitoral, onde passa o fim-de-semana. Mas o senador reagiu à tese de ACM: ?Não estou sendo movido por ninguém. Estou avaliando que houve violação, o fato é inédito e não pode ser tratado como uma brincadeira?.

Renúncia e pecado

Apesar de se considerar vítima do que classificou de ?linchamento? da imprensa, ACM disse ontem que não acredita que venha a ter o mandato cassado. Por isso, continua descartando a possibilidade de renunciar. Reservadamente, porém, essa é a alternativa considerada pelo senador para evitar tornar-se inelegível até 2011 (oito anos após o fim do seu atual mandato).
Caso venha a ter o mandato cassado, ACM só poderá sonhar com nova eleição em 2014, quando já tiver completado 87 anos.

Para tentar convencer os colegas, ACM alega que o ?pecado? que cometeu é muito menos grave do que as acusações que provocaram a cassação do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF), envolvido no desvio verba pública destina à obra do Fórum Trabalhista de São Paulo.

?Está provado que não dei ordem para Regina. Se o Arruda falou em meu nome e ela acreditou, é outra coisa. Logo, eu só entro [no caso] depois que recebo a lista. Aí acham que eu deveria ter punido Arruda, Regina. É por isso que vão me cassar? Por preservar o Senado de uma dúvida sobre a cassação do Luiz Estevão??, desabafou o senador baiano, que está em Salvador e deve retornar a Brasília na quinta-feira.

O fato de o próprio Luiz Estevão ter dado entrevista defendo punição para ele e Arruda irritou o senador baiano. ?A que ponto nós chegamos? Luiz Estevão já está pedindo cassação de senador. Veja como os pecados são diferentes. No meu caso, se houve pecado, foi não punir para não expor o Senado de dúvidas sobre uma votação que foi correta?, disse.

Na sua opinião, a imprensa não teria transformado esse caso em escândalo, se não fosse ele o senador envolvido com José Roberto Arruda (ex-PSDB-DF) na violação do sistema de votação eletrônico do Senado. ?Se eu não estivesse no jogo, a mídia não estaria dando essa importância. É uma carreira de quase 50 anos de êxito. Querem mostrar que a pessoa não manda mais, chega. Então, em vez de fazer justiça, fazem um linchamento. É isso que está havendo.?

ACM confirmou participação na acareação que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado vai promover entre ele e o senador José Roberto Arruda e a ex-diretora do Prodasen Regina Borges na próxima quinta-feira, às 14h30. A acareação, segundo o baiano, não vai se transformar em um bate-boca.

Para evitar a cassação, ACM e Arruda têm de renunciar antes de ser aberto processo por quebra de decoro parlamentar contra eles. Por enquanto, o Conselho de Ética está na fase de investigação.

O relator Saturnino Braga (PSB-RJ) disse que estará em condições de apresentar seu parecer recomendando ou não abertura de processo cerca de dez dias depois da acareação. O parecer será votado e, depois, poderá ainda ser encaminhado à Mesa Diretora para ser acolhido ou não. Nesse caso, a decisão passará pelo presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), adversário de ACM. ?Espero que a Mesa, que é pluripartidária, faça um juízo correto?, disse o senador pefelista."

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