Thursday, 03 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Regina Ribeiro

O POVO

"A mosca no flanco do jumento ", copyright O Povo, 23/3/02

"?Comigo isso jamais aconteceria. Se acontecer, eu sei o que fazer.

Da próxima vez não vai ser tão fácil. Quem já não passou por isso??

José Paulo Paes, poeta

?Desligo o telefone com um misto de frustração e decepção?. Foi assim que um leitor começou a contar a história dele, como autor de um texto publicado no Jornal do Leitor no último domingo, 17. Ele diz que o título da poesia que ele escreveu mudou, alterando totalmente o significado e interferindo no conteúdo do texto. Ligou para o editor do suplemento e não gostou do que ouviu.

Antes de continuar com esse caso específico, precisamos conversar um pouco sobre esse relacionamento entre O Povo e os leitores que contribuem com cartas e artigos. Existem três tipos de articulistas no O Povo: os convidados pelo próprio Jornal, que fazem parte de um grupo de pessoas que escrevem com regularidade. Há também os que são convidados para escrever esporadicamente, dependendo do tema a ser abordado, e há ainda aqueles que enviam artigos com o desejo de contribuir para um debate específico. No caso das cartas, o espaço é disponibilizado para todo e qualquer leitor que queira escrever para o jornal. O Jornal do Leitor é um suplemento aberto à participação dos leitores.

Devo dizer ainda que O Povo tem liberdade de edição do material publicado no caso das cartas e isso depende de uma série de fatores. Também poderá publicá-las ou não. No caso dos artigos de pessoas que enviam contribuições, o editor responsável avalia o material e pode publicar ou não, ou ainda transformar o artigo em carta, com o consentimento do autor.

O título das cartas e artigos podem sofrer alterações devido ao padrão gráfico do O Povo. Para explicar melhor, os títulos variam de uma coluna (no caso das cartas), até quatro ou cinco colunas, no caso dos artigos, e isso segue medidas, com fontes e tamanhos pré-determinados. O que O Povo não deve é mudar o sentido do título. O editor não deve alterar o texto sem o consentimento do autor.

Motivada por reclamações que tenho recebido, já conversei algumas vezes com a Redação sobre a desinformação de muitos leitores que enviam uma contribuição para publicação no Jornal. Concordo que não há condições de haver uma grande quantidade de regras e uma rigidez imperiosa, para definição de publicação de cartas e artigos, por várias questões subjetivas, mas uma delas é vital e objetiva: o espaço para publicação é sempre muito menor do que o número de contribuições que chegam ao Jornal. Daí a necessidade de edição: escolha ou seleção e adequação.

No entanto, algumas reclamações que tenho recebido, me deixam muda. Na minha função não tenho de ter argumentos para justificar os procedimentos do Jornal, mas meu trabalho é também educativo, e embora nesses casos, concorde quase sempre com o leitor, me sinto na obrigação de explicar certos detalhes do dia-a-dia do jornal.

Já recebi queixas de leitores que tiveram seus artigos transformados em cartas sem nenhuma comunicação prévia. Outros reclamam de contribuições que nunca são publicadas e mesmo com a insistência do autor, algumas vezes, não há quem informe se serão publicadas ou não; se prestam ou não para publicação.

Alguns casos

Um leitor liga para dizer que escreveu uma carta elogiando um prefeito cearense que havia recebido um prêmio nacional. Procurou saber o motivo da não publicação. Foi informado que a carta tinha uma forte conotação política e o editor havia decidido não publicá-la. Tudo bem, disse o leitor. Na última segunda-feira,12, no entanto, O Povo publicou uma carta com rasgados elogios ao prefeito de Maranguape, Marcelo Silva. ?O que é isso? Por que a minha carta não pôde ser publicada e essa foi, se o conteúdo era basicamente o mesmo??, perguntou o autor da carta elogiosa.
Um outro leitor reclamou que a carta dele foi ?tosada?. Ligou para reclamar e ouviu que o texto havia sido editado para dar oportunidade a outras contribuições. O Povo está certo, concluiu o leitor. ?Mas, muitas vezes O Povo publica uma única carta, bem grande, sem dar oportunidade a mais ninguém?, observou. O rapaz estava ser referindo a uma carta publicada no início de fevereiro defendendo o prefeito de Sobral, Cid Gomes, de uma acusação de cunho administrativo.
Nesses dois casos, o que se tem são vários pesos e várias medidas que confundem o leitor que o faz sentir-se desrespeitado e frustrado.

De volta ao jumento

Voltemos ao caso do início da coluna. Trata-se de um leitor que enviou uma poesia com o título: ?A mosca no flanco do jumento?. O poema foi publicado com o seguinte título: ?A mosca e o jumento?. O poeta, acadêmico de direito, ligou para reclamar a mudança do título e ouviu o seguinte: ?meu amigo, você entende de poesia, mas eu entendo de espaço gráfico. Você não falou sobre uma mosca e um jumento??.

O poema não tinha nada de mosca, tampouco de jumento. O título fazia uma paródia a uma metáfora utilizada pelo filósofo grego, Sócrates.

Em resumo, a imagem de uma empresa, ou de uma instituição, se faz, ao longo do tempo, com o peso das pequenas coisas, com a convivência, no dia-a-dia. Esse relacionamento não precisa ser perfeito. Terá falhas sempre. Mas não pode haver indiferença, desrespeito, descaso. Isso arranha a imagem de qualquer empresa. O Povo deve melhorar o atendimentos aos seus leitores, oferecer informações sobre os procedimentos a quem contribui com artigos e cartas, se errar, resolver o problema: publicar um ?erramos?, ou dar uma resposta respeitosa ao leitor."