Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Regina Ribeiro

O POVO

"Imprensa, pesquisa e edição" copyright O Povo, 7/9/02

"A corrida atrás dos votos para o preenchimento de cargos públicos eletivos e essa expectativa em torno das campanhas eleitorais acontecem de forma tão intensa, que algumas vezes chego a pensar que as pesquisas são até mais importantes do que o discurso dos candidatos. É inegável que as sondagens da opinião pública, no Brasil, são também uma forma de medir a eficiência da mensagem criada em torno dos candidatos e da megaestrutura montada pelos grandes publicitários. Daí se tornarem um dos ingrediente mais importantes do bolo eleitoral, que será distribuído pelos eleitores no próximo dia 6 de outubro.

Os veículos de comunicação são irmãos siameses desse processo. Sem eles, as pesquisas se resumiriam a calhamaços de papéis a serem destrinçados pelos coordenadores de campanha. O mais estranho é que as pesquisas envolvem os eleitores de tal forma que o País inteiro se esquece que elas têm muitas histórias de acertos, mas também de erros. O que costuma acontecer no entanto, é que no período eleitoral, os números transformados em índices de intenções de votos ganham uma áurea de verdade absoluta para muitas pessoas e a forma como os veículos publicam as pesquisas está submetida a leituras de toda ordem.
Não estou querendo dizer que haverá leitura única para uma informação, tenha ela qualquer conteúdo. É importante dizer que, em veículos impressos, o leitor observa não apenas a informação em si, mas os títulos, as legendas de fotos, o lugar que a matéria ganha na página e o dia em que ela é publicada. É o conjunto disso tudo que é lido.

Caso Datafolha

Por duas vezes – nos dias 18 de agosto e 1? de setembro – O Povo deixou de veicular o resultado da pesquisa do Instituto Datafolha, do jornal Folha de S. Paulo, na edição de domingo, como fez o Diário do Nordeste. Os leitores reagiram de forma crítica à ausência da informação, na própria edição dominical, alegando que seria uma ?omissão por parte do jornal? para privilegiar esse ou aquele candidato.

No dia 18 de agosto, a reação da maioria dos leitores, teve como ponto principal o fato de o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, ter crescido três pontos, segundo a pesquisa. No domingo passado, 1?, a leitura foi que a informação não beneficiaria o candidato Ciro Gomes que, de acordo com os novos índices, apresentava um empate técnico com o candidato do PSDB, José Serra.

Nos dois casos enviei à Redação a comunicação dos leitores reclamando da ausência da informação. O que deve ser observado nesse episódio:

A edição do O Povo, aos sábados, chega às ruas no final da tarde, por questões mercadológicas. O debate sobre esse aspecto industrial, que divide os leitores – e não é de hoje – ficará para uma próxima vez. O fato é que, por adequação ao horário de fechamento da edição, algumas informações ficam de fora do primeiro clichê, ou do jornal que é vendido nas ruas e bancas;

O Povo tem um segundo clichê – jornal que os assinantes recebem em casa. Essa edição, mais atualizada, é que permite a veiculação de informações que chegam mais tarde e que não comprometem o horário de fechamento da publicação;

Ou seja, nos dois casos, embora o primeiro clichê não permitisse a veiculação das informações em torno da pesquisa do Datafolha, no segundo clichê, havia sim a possibilidade.

A Redação defende que não houve ?omissão? por parte do jornal, uma vez que, na segunda-feira seguinte, nos dois casos, as matérias foram publicadas com os dados da pesquisa. Acontece que, para os leitores, a publicação da informação está vinculada também ao tempo. Eles reivindicaram detalhes de uma informação que, no sábado à noite, já estavam à disposição de todos os jornais de TV. E estavam disponíveis nas agências de notícias, já que o Diário do Nordeste trouxe o resultado da pesquisa no domingo.

Na última sexta-feira, a Chefia da Redação informou que O Povo publicará as próximas matérias da pesquisa do Datafolha do próprio domingo.

Só para explicar melhor, o jornal não está trabalhando com a pesquisa do Instituto Datafolha este ano e sim, com o Instituto EMData do jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte, segundo matéria publicada no início de junho. Por conta dessa opção, O Povo não fica sabendo com antecedência a data exata de publicação da pesquisa do Instituto da Folha de S. Paulo. Apenas os jornais que adquirem a pesquisa é que dispõem do calendário de divulgação dos dados que são veiculados simultaneamente com o jornal paulista. Os demais veículos recebem o material pelas agências de notícias. O resultado da sondagem vem com os principais índices, sem os gráficos, nem as informações complementares.

São detalhes técnicos para ajudar os leitores na compreensão dos fatos. No entanto, o leitor tem razão de criticar a ausência da notícia. Se ela está disponível no sábado e pode ser utilizada na edição de domingo, não há motivo para que os leitores do O Povo só recebam a informação na segunda-feira. Nesses momentos, fica difícil pedir para que os leitores, antes de vincular o jornal a qualquer candidatura política, façam uma análise mais cuidadosa do conteúdo da cobertura.

Corrigindo

No domingo passado ao tratar de um evento político envolvendo jovens afirmei que o projeto era uma realização do Unicef com o apoio do O Povo e TV Jangadeiro. Na verdade, o encontro Tendas da Juventude, foi realizado pelo Instituto da Juventude Contemporânea. O apoio é que foi dado pelo Unicef e os veículos citados."