Friday, 11 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Richard Waters e Christopher Grimes

AOL / TIME WARNER

"Fim da bolha ameaça futuro da fusão da AOL com Time Warner", copyright Folha de S. Paulo / Financial Times, 21/04/02

"Será que a AOL Time Warner será desmantelada? A sugestão pareceria absurda um ano atrás, quando o gigante da mídia causava pânico nos rivais.

Mas as percepções às vezes mudam rapidamente. Embora outros conglomerados de mídia se tenham beneficiado de esperanças quanto ao final da recessão no setor de publicidade norte-americano, a AOL Time Warner está afundada em problemas operacionais, financeiros e estruturais.

Comecemos pela America Online. Foi ela a propulsora do crescimento que transformou a antiga AOL em uma matadora de gigantes, dando a ela a possibilidade de adquirir a Time Warner, uma empresa de porte muito maior. Era também a principal fonte de receitas da empresa.

O serviço on-line já não parece ser o poderoso propulsor de crescimento que foi um dia. Para agravar as coisas, está também claro que ele será capaz de realizar uma transição bem-sucedida para a era da banda larga. Isso é preocupante, porque foi o potencial da banda larga para unir o conteúdo de entretenimento e os sistemas de TV a cabo da Time Warner com o serviço interativo on-line que inspirou a fusão.

Atualmente, a maior parte dos 34 milhões de assinantes da AOL usam conexões discadas para obter acesso a e-mail e serviços de mensagens instantâneas, mas o crescimento de assinantes por via discada está se esgotando. A AOL depende também da publicidade, e ninguém tem idéia de quando o mercado de publicidade on-line se recuperará.

Avanço retardado

Robert Pittman, o diretor operacional da AOL Time Warner, insiste em que o segmento de conexões discadas ainda tem bastante a oferecer. No entanto deixa claro que o futuro do serviço on-line depende de persuadir os consumidores a adotar serviços de internet em banda larga, mais caros.

Poucos analistas acreditam, agora, que essa transição será rápida. Eles não concordam que se trate apenas de uma questão de converter os usuários existentes em clientes de serviços de alta velocidade.

Como diz Holly Becker, do banco de investimentos Lehman Brothers, o segmento nascente dos serviços de banda larga na AOL deve ser visto como “uma área de investimento, e não simplesmente como uma transição para os consumidores”. Pior, diz ela, os serviços de banda larga podem acabar tendo impacto neutro sobre as finanças da empresa, já que a receita mais elevada terminaria compensada por margens de lucro inferiores.

Com Wall Street apontando para a AOL como um problema para todo o grupo, o ressentimento vem crescendo na antiga Time Warner. Alguns alegam que a melhor coisa seria transformar a AOL em empresa independente, ou seja, desfazer a fusão.

Por enquanto, essa conversa é pouco mais do que uma demonstração de humor sardônico. Steve Case, o fundador da AOL, continua firme como presidente do grupo. Desfazer a fusão não faria muito para resolver algumas das outras questões que prejudicam as finanças da AOL Time Warner.

Acordos e alianças, alguns formados durante o período da bolha da internet, começam a ressurgir do passado. A dívida do grupo atingiu US$ 22,8 bilhões no final do ano passado, antes ainda que a AOL Time Warner pagasse US$ 7 bilhões à Bertelsmann, da Alemanha, para sair de uma parceria formada no pico da expansão das empresas de internet.

Desintegração

O pagamento à Bertelsmann deixou à America Online pouco espaço para realizar mais negócios. Como resultado, ela não conseguiu ganhar um leilão pelos sistemas de cabos da AT&T no ano passado. Se tivesse vencido, isso lhe daria a plataforma de cabos dominante nos EUA, um posto perfeito para o lançamento do serviço de banda larga da AOL.

Outras parcerias estão começando a se desfazer, igualmente. Entre elas está uma sociedade no setor de cabos com a família Newhouse, proprietária do grupo editorial Condé Nast.

Enquanto isso, com o final de sua aliança européia, a AOL Time Warner terá de incluir em seus resultados uma operação que rendeu prejuízos de US$ 600 milhões no ano passado. O colapso de uma parceria formada três anos atrás com a Sun Microsystems, que rendeu US$ 320 milhões em receita em 2001, significa que os números piorarão em 2002.

Tudo incluído, as parcerias fracassadas poderiam reduzir em mais de US$ 1,6 bilhão os resultados anteriores aos juros, impostos, depreciação e amortização do grupo, com base nos números de 2001. Essas dificuldades em si talvez não bastassem para fazer com que a empresa mude de rumo. Mas elas a enfraqueceram, e os predadores estão de olho.

No mês passado, John Malone, investidor do ramo de mídia que controla 4% da AOL Time Warner, solicitou às autoridades norte-americanas que cancelassem uma restrição que o impede de usar os direitos de voto conferidos por suas ações. Ele poderia usar sua participação para pressionar por um lugar no conselho da AOL Time Warner, onde se uniria ao seu antigo aliado Ted Turner.

Famoso pelo interesse compulsivo em engenharia financeira, Malone no passado usou uma posição no conselho da AT&T para agitar com sucesso pela divisão do grupo em quatro empresas separadas. A AOL talvez ainda consiga evitar esse destino. Mas, se as ações do grupo continuarem caindo por muito tempo, será mais difícil resistir aos complôs das criativas mentes financeiras envolvidas na história. (Tradução de Paulo Migliacci)"