Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Rodrigo Dionisio

TV PAGA EM CRISE

"TV paga se une para enfrentar crise", copyright Folha de S. Paulo, 23/06/02

"O mercado de TV paga vai mudar. Com estagnação do número de assinantes -3,49 milhões de pagantes em 2001, dos quais 70% concentrados na classe A-, as operadoras se reuniram para tentar recuperar o setor. Para o telespectador, isso poderá significar queda no preço dos pacotes e a chance de escolher os canais a serem recebidos. Alguns responsáveis pelo serviço pago admitem: para os padrões brasileiros, a TV por assinatura é cara e carrega um conteúdo muitas vezes excessivo e desinteressante. Desde o início deste ano, grupos de discussão foram criados na ABTA (Associação Brasileira de Telecomunicações por Assinatura) para buscar soluções. ?Antes de brigarmos entre nós, é importante fazer o mercado crescer?, diz o gerente-geral da Directv, Philippe Boutaud. São quatro grupos, que agregam representantes das operadoras e estão rediscutindo a programação, a infra-estrutura, o atendimento ao cliente e a tributação. Uma das alternativas seria criar opções de assinaturas mais baratas e flexíveis, condicionadas à redução de impostos por parte do governo. A intenção é que, até setembro, todas as propostas estejam fechadas e discutidas com o governo e com as programadoras (empresas responsáveis pela compra e negociação dos canais distribu&iiacute;dos pelas operadoras). A ?nova TV paga? seria apresentada entre 15 e 17 de outubro, no congresso da ABTA.

Promoções

Por hora, a Directv lançou os pacotes Prata e Prata Premium. O primeiro, disponível em 143 cidades, custa R$ 44,90 mensais e reúne os canais AXN, Casa Club, MTV Brasil, MTV Latina, Sony, Warner, Band Sports, Discovery, Mundo, People+Arts, Cartoon Network, Bandnews e TNT, além do sinal de três rádios, os canais de áudio e alguns canais da TV aberta (veja na página ao lado as programações básicas de cada uma das principais operadoras do país). O Prata Premium, disponível em todo o país desde o dia 12, agrega ao Prata os canais HBO, HBO2, Cinemax e Cinemax Prime, ao custo de R$ 66,80 mensais. Segundo o gerente-geral da Directv, é como se a TV paga lançasse sua versão do carro popular, o mais barato. ?É um produto mais acessível, mas com qualidade. Ele serve para o consumidor experimentar e, depois, adquirir outros serviços?, diz Boutaud. A Associação NeoTV (que reúne operadoras como a TVA e a Cambras e detém cerca de 20% do mercado) se adiantou às discussões da ABTA, renegociou contratos com programadoras e, segundo seu presidente, Roberto Rio Branco, já oferece atualmente pacotes no interior do país por R$ 20. ?Nossos custos com programação caíram de 40% para 32% do faturamento. Mudamos também a organização dos canais nos pacotes. Não adianta oferecer 80 canais para o assinante se ele só se interessa por 30?, afirma. Com as mudanças, e apesar da estagnação do mercado, a NeoTV pretende crescer 40% até o final deste ano.

Preços

Atualmente, segundo dados da ABTA, o valor médio das mensalidades dos pacotes de TV por assinatura é de R$ 59, quase 30% do salário mínimo vigente (R$ 200).

Isso contribui para que a penetração da TV paga no Brasil seja uma das mais baixas da América Latina: está em 9% dos lares com televisão. O país empata com a Nicarágua e só perde para a República Dominicana (8%). Na Argentina, Uruguai e Colômbia, que detêm os maiores índices, as taxas são de 65%, 63% e 41%, respectivamente, segundo números de 2001 da ABTA.

O setor de TV paga encerrou o ano passado com apenas 48.000 assinantes pagantes a mais do que a base total de 2000 (3,442 milhões). Além da classe A (70%), o consumidor está na classe B (20%), sobrando 10% para as classes C, D e E, ainda segundo a ABTA.

Para o consultor de mídia Antônio Rosa Neto, o perfil da TV paga no país gerou esses números. ?O preço e o conteúdo são para as classes A e B mesmo. Mas o Brasil é um país de classe C, com poder aquisitivo menor e outros interesses culturais. Sem preços mais baixos e programação regional, não há solução.?

O presidente do Grupo de Mídia, Paulo Stephan, diz acreditar que o problema esteja na verdade diretamente ligado à situação econômica do país. ?Há uma demanda reprimida na classe média, porque as pessoas não têm orçamento para gastar com diversão, que é considerada supérflua. Falta dinheiro, e ninguém pode se dar a esse luxo.?

Para ele, o preço das assinaturas se justifica pelos altos investimentos feitos pelas operadoras para implantar redes de cabos ou comprar tecnologia de transmissão por satélite, por exemplo.

Fernando Ramos e Ricardo Rihan, diretores da Net Brasil (responsável pela programação da Sky e de uma série de operadoras ?franquiadas?), afirmam que os percalços enfrentados pela TV paga estão ligados a problemas na distribuição de riquezas no país, que afetariam toda a economia.

Até o encerramento desta edição, só a Net -que detém cerca de 40% do mercado- havia divulgado seu balanço do primeiro trimestre de 2002. Em relação aos últimos três meses de 2001, houve queda de 2,1% no número de assinantes pagantes (29,8 mil a menos) e de 0,7% na receita líquida."

 

"A cabo", copyright Folha de S. Paulo, 23/06/02

"Uma nuvem de desinteresse envolve a televisão a cabo no Brasil. Ou, corrigindo, a televisão por assinatura (aquela que o sujeito só pode ver se pagar ou, o que não é tão incomum, só vê se fizer uma gambiarra clandestina e puxar o sinal ilegalmente). Chamamos toda televisão paga de TV a cabo, o que é um erro. Dos 3,5 milhões de assinantes de TV paga no Brasil, segundo tabelas que se encontram no site da Associação Brasileira de Telecomunicações por Assinatura, pouco mais de 2 milhões são servidos verdadeiramente pelos fios que transmitem de imagens; quanto aos outros, recebem os sinais por ondas (MMDS ou DTH), sem cabo nenhum. O que não importa nada: a expressão TV a cabo designa toda forma de TV que não é aberta. A TV a cabo é a TV de elite, enquanto a TV aberta é a TV do povaréu. A questão que intriga muita gente é que só a TV do povaréu tem repercussão. Da outra, quase nada se comenta. Só o que há é a nuvem de desinteresse, uma nuvem que está por aí há quase uma década e que, portanto, não é nada passageira.

Essa nuvem é persistente. Chega a ser sádica. Dificilmente o telespectador remediado vê um filme inteiro na sua prestigiosa televisão de rico. Assiste mesmo é novela. De seu lado, as empresas que distribuem os canais pagos insistem em demonstrar com números que já dispõem de atrações de boa audiência. Em alguns casos, eles até que têm lá um público visível. Cartoon Network, de fato, é um sucesso ou, digamos, um sucesso mirim: apresenta desenho animado sem precisar de nenhuma loura saltitante que fique gritando entre uma historinha e outra. Tendo a fatídica loura-a-menos, o Cartoon Network tem um atrativo-a-mais (?less is more?, alguém diria). Há outros casos de sucesso retumbante ou, digamos, de sucesso sênior. A TV Senado, em dias em que interroga caciques como Antonio Carlos Magalhães, também atrai a massa. Fora isso, a gente nem se lembra direito do número do canal daquele documentário supercientífico ou daquele filme superartístico. As revistas da TVA e da NET, que circulam mensalmente com suas listas de programas, são menos lidas que esses cardápios de telepizzarias que despencam nas caixas de correio. Há gente que assina televisão paga só porque ela garante uma boa imagem para a televisão aberta. O sujeito paga para nunca mais se preocupar com ajustes na antena. E estamos conversados.

Ah, sim, tem o Futura, que ninguém vê e todo mundo elogia, tem a GloboNews, uma CNN daqui, e até que boa, e… O que mais? Nada que salve. A média da programação da TV paga é tão baixa quanto a da TV dos pobres. Mas seu calvário não é sua (baixa) programação; seu calvário é seu tamanho mínimo. Sendo uma TV de rico, esbarrou no tamanho do Brasil rico, um Brasil de 3,5 milhões de assinantes, que é pequeno demais para garantir relevância pública a um veículo como a televisão num país continental como o nosso. Se fossem 4,5 milhões seria a mesma coisa. Aqui, TV paga é entretenimento privado de alcance privado. É um serviço exclusivo do grande condomínio (virtual) fechado em que se esconde a elite brasileira. É um pequeno luxo particular, privado e privativo, como se fosse uma festa de casamento da filha do Doutor Fulano, as recordações em vídeo das férias em Miami. O Brasil gigante passa do lado de fora da TV paga. Passa sem modos pelo auditório do Ratinho, passa chorando pelos cultos da Rede Record. Quando muito, faz um ?gato?, uma ligação direta, e ?rouba? um programinha. E só. O Brasil da maioria só acontece na TV dos pobres. Daí a nuvem de desinteresse que envolve a TV paga. O problema não é o seu conteúdo, enfim, mas o fato de que, tendo batido nas paredes da casa grande, jamais chegou à senzala, nem à rua. É uma TV que o Brasil não vê e que não vê o Brasil. O que faz dela uma TV menor, quase indigna de nota."

 

PRÊMIO MARIA CABOT

"EUA anunciam vencedores do Maria Cabot", copyright Folha de S. Paulo, 23/06/02

"Um argentino e uma haitiana estão entre os vencedores da versão 2002 do prêmio Maria Moors Cabot, o mais importante dado a um jornalista estrangeiro nos Estados Unidos. Os nomes foram anunciados pela Universidade Columbia, em Nova York.

Os premiados são Sergio Luis Carreras, repórter do jornal ?La Voz del Interior? de Córdoba (Argentina); Michèle Montas-Dominique, diretora de notícias da Rádio Haiti; David Adams, correspondente na América Latina para o jornal ?St. Petersburg Times?, da Flórida; e Robert Rivard, vice-presidente do diário ?San Antonio Express-News?.

Em 2001, um dos vencedores foi Clóvis Rossi, repórter, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha. Criado em 1938 por Godfrey Lowell Cabot, em homenagem à sua mulher, o prêmio é administrado pela faculdade de jornalismo da Universidade Columbia, a mesma do Pulitzer.

Os quatro anunciados foram lembrados ?por sua atuação na cobertura de assuntos pertinentes à América Latina?, disse Tom Goldstein, reitor da faculdade de jornalismo. Cada profissional receberá uma medalha, US$ 5.000 e participa de jantar no dia 10 de outubro, na Columbia."