Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Seth Schiesel

NEWS CORP.

"Murdoch, o homem dos grandes lances, e uma pergunta: qual o lance agora?", copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 17/03/02

"Rupert Murdoch, cujo nome é sinônimo da empresa por ele dirigida, a News Corp., é conhecido no mundo da mídia como um homem de grandes idéias. Na década de 1960, foi além de sua cadeia de jornais australianos chegando até Londres, onde comprou The News of the World, um jornal de escândalos, e The Sun, mudando o foco deste último para o sexo e as fofocas e transformando-o no diário mais vendido na Inglaterra. Em meados da década de 1970, estendeu seus negócios aos Estados Unidos, comprando o New York Post e a revista New York. No início da década de 1980, Murdoch comprou The Times of London, enfrentou os poderosos sindicatos trabalhistas e, como resultado, transformou o jornal em rentável. Mais tarde, ainda na década de 1980, conseguiu criar a Fox, primeira nova rede comercial de sinal aberto nos Estados Unidos desde os primórdios da televisão.

Na década de 1990, ele apostou e acertou na TV por satélite na Inglaterra e na Ásia. Criou a Fox News em 1996, quando a CNN parecia reinar soberana, sem qualquer rival, no campo do noticiário por TV a cabo. Agora, a Fox News está vencendo a batalha.

Mas há muito tempo os investidores temiam que Murdoch, chairman e diretor-executivo da News Corp., estivesse muito mais preocupado em ?gerar filhos de seu cérebro? do que em gerar os constantes lucros que alimentam Wall Street. Embora a maioria dos planos de Murdoch tenha sido compensadora a longo prazo, às vezes esses planos fizeram declinar os resultados financeirros da companhia durante meses ou anos. Murdoch costumava desdenhar essas preocupações.

Mas não agora. Não com o mercado publicitário ainda fraco e sem brilho. Não com os lucros operacionais de sua companhia em declínio. E não com as perdas acumulando-se na rede Fox de sinal aberto.

Low profile – Numa entrevista dada na semana passada, apareceu um Murdoch diferente, quase cauteloso, um Murdoch sem planos grandiosos e concentrado em detalhes operacionais. ?Simplesmente, fiquem esperando: nossos lucros vão voltar a crescer?, disse Murdoch, quando lhe perguntaram qual o seu recado para Wall Street.

E qual será seu próximo passo? ?Nenhum novo passo?, disse ele.

?Pensamos que este é um tempo bom para ficar construindo e aperfeiçoando e trabalhando nossos ativos existentes, melhorando suas posições competitivas e aumentando seus lucros. Queremos melhorar nossos dividendos por ação a partir dos ativos que possuímos?.

Levando em conta a história dos negócios e dos investimentos de alto risco de Murdoch, talvez seja difícil acreditar que ele ainda possa se manter por muito mais tempo, especialmente agora que muitas outras empresas de mídia parecem dispostas a crescer. Na realidade, Murdoch teria concluído uma aquisição de US$ 22,5 bilhões, se a EchoStar Communications não o tivesse derrotado no final do ano passado, apresentando uma oferta maior, de US$26 bilhões, para a compra da unidade Hughes Electronics, da General Motors, que inclui a companhia de televisão por satélite DirecTV.

Ninguém ficaria surpreso se Murdoch anunciasse algum outro grande negócio.

Mas Murdoch pode estar conservando seca sua pólvora para o futuro próximo, pois ele já passou por tudo isso antes: sua companhia esteve prestes a requerer falência durante a última recessão global, 12 anos atrás.

?Aprendemos nossa lição?, declarou Murdoch com um sorriso infeliz, em sua entrevista na matriz operacional da News Corp. em Manhattan.

Aprendizado – Na recessão passada, Murdoch foi pego de mau jeito porque estava financiando grande parte das necessidades de capital operacional da companhia com empréstimos bancários de curto prazo.

Quando o financiamento bancário secou, a companhia esteve à beira do colapso.

Murdoch saiu do aperto. Quando as nuvens da tempestade econômica se dissiparam poucos anos atrás – contou -, ele fechou as brechas financeiras, transferindo a dívida da companhia para bônus de longo prazo. Embora a companhia ainda precise pagar juros mais altos, os empréstimos só vencerão daqui a muitos anos.

?Dissemos que, no momento em que conseguíssemos transformar nossos débitos em papéis em poder do público, mesmo que isso custasse 7%, 7,5%, 7,75%, em comparação com dívida bancária a 5%, pagaríamos a diferença, obrigado?, disse Murdoch, esmurrando sua mesa de café.

?Dormir melhor. Estar em melhor forma. É aí que estamos agora?, afirmou o chairman. Wall Street começa a comprar a promessa, literalmente. Porque a News Corp. obtém quase um terço de sua receita do mercado publicitário americano, a companhia, junto com a Viacom, parece muito bem posicionada para sair lucrando com qualquer reaquecimento da publicidade. O preço das ações da News Corp. subiu cerca de 20% nas duas últimas semanas, fechando sexta-feira a US$ 29,87.

?Pode-se dizer com segurança que, embora não tenhamos para com nossas ações a mesma obsessão dos sujeitos lá na Times Square, eis algo com que também nos preocupamos?, disse Peter Chernin, chefe de operações da companhia, referindo-se à Viacom e a seu chairman, Sumner M. Redstone.

Apesar da News Corp. ter gasto US$ 4 bilhões na compra da Chris-Craft Industries, com suas dez emissoras de TV, no ano passado, a companhia está vendendo alguns ativos e unidades deficitárias e conseguindo um bom preço por elas. Ela vendeu a operação de TV Fox Family à Walt Disney no ano passado, por US$ 5,2 bilhões em dinheiro, e assumindo dívidas, um negócio considerado pelo mercado a grande sacada da News Corp.

Desempenho – Agora Murdoch tenta vender grandes investimentos fracassados na Itália e na Alemanha.

Ele ainda tem trabalho pela frente. A recessão no ramo publicitário prejudicou a maioria das grandes companhias de mídia, mas os resultados financeiros da News Corp. em 2001 foram especialmente ruins. O ano fiscal da companhia encerra-se em junho, mas os números seguintes referem-se a anos civis, de 1.? de janeiro a 31 de dezembro.

A receita foi essencialmente neutra, em cerca de US$ 14,23 bilhões, ao passo que a renda operacional diminuiu quase 12%, para US$ 1,57 bilhão – em 2001 ela havia sido de US$ 1,78 bilhão em 2000. A renda operacional diminuiu em quatro das seis principais unidades da companhia.

Na divisão de jornais, que é o alicerce financeiro da companhia, a renda operacional diminuiu 17,1%. Lachlan Murdoch, filho mais velho de Murdoch e seu herdeiro aparente, que supervisiona a divisão, disse que seu único jornal nos EUA, The New York Post, teve importante aumento de tiragem, mas ainda estava dando prejuízo.

A maior queda ocorreu no grupo de TVs, que inclui a rede Fox, as emissoras locais da companhia e sua operação por satélite na Ásia. Na divisão de TVs, as rendas operacionais caíram 25%, para US$ 446 milhões, no ano passado – haviam sido de US$ 595 milhões em 2000. A queda teria sido até maior sem as estações Chris-Craft.

A grande estrela da companhia foi no entanto sua constelação de canais de TV pagos, que incluem redes esportivas regionais, a FX, o Speed Channel, o National Geographic Channel e, com maior destaque, a Fox News. A receita operacional nessa unidade aumentou 11,7%, para US$ 115 milhões – no ano anterior, fora de US$ 103 milhões.

O mercado americano – Parece que a equipe de Murdoch passa mais tempo pensando no mercado americano de televisão do que em qualquer outra coisa. Grande parte do motivo desse interesse concentrado é que a impossibilidade de a companhia ficar com a DirectTV deixou a News Corp. no papel de espectador em vez de participante da consolidação dos distribuidores de TV paga nos EUA.

Se a aquisição, em compasso de espera, dos negócios a cabo da AT&T pela Comcast se concretizar e se a compra da DirecTV pela EchoStar for aprovada pelos reguladores, seis companhias – mas não a News Corp. – servirão a mais de 80% dos lares americanos que pagam por programas de televisão. Cada uma dessas companhias quer pagar menos aos produtores de canais a cabo, incluindo à News Corp.

?Porque fornecemos ou tentamos fornecer uma série de canais a cabo?, disse Murdoch, ?nós e, creio, todos que estão numa situação idêntica, estamos preocupados com a força dos bilheteiros (os distribuidores dos programas).?

Chernin descreveu o relacionamento da companhia com as portadoras a cabo e por satélite em termos mais incisivos, chamando-o de ?questão crítica que precisamos solucionar de alguma forma? No mês passado, um tribunal federal em Washington revogou normas que proibiam uma companhia de possuir uma portadora a cabo e uma estação de TV de sinal aberto no mesmo mercado, o que abriu as vias para a News Corp.

adquirir uma grande companhia a cabo. Mas Murdoch e Chernin sugeriram na semana passada que não existem à disposição companhias dignas de serem compradas.

Tática – Por enquanto, as tentativas da News Corp. de conseguir suporte nos distribuidores de programas pode limitar-se a variações na tática padrão da indústria televisiva de empregar redes populares para obter acesso a novos serviços. Chernin, por exemplo, poderia induzir uma companhia a cabo que precisa de uma das redes esportivas regionais da Fox a ficar com os serviços da FX.

Para a News Corp. também é importante atrair influentes emissoras locais de sinal aberto e fortes redes de sinal aberto para tais conversações. Se alguma das companhias a cabo não cooperar, a News Corp. pode ameaçar retirar o direito de a portadora a cabo transmitir o sinal de uma estação local pertencente à companhia de Murdoch.

As 33 estações locais da News Corp., em sua maioria coligadas da Fox, estão se saindo relativamente bem. Embora seus ganhos antes do desconto de juros, impostos, depreciação e amortização tenham diminuído 11% no ano passado, elas continuam sendo as mais rentáveis de todas as operações da companhia.

Mas Chernin disse que a companhia não pretende comprar muitas novas estações, embora pareça que os reguladores vão provavelmente afrouxar as normas que restringem o número de estações que uma companhia pode possuir.

?Não temos interesse em sair por aí comprando outras 10, 20, 30, 40 estações de televisão?, disse.

Mas a companhia poderia tentar comprar uma segunda estação em grandes mercados onde possui apenas uma, como Boston, Chicago e Filadélfia. A companhia já tem duas estações em Nova York, Los Angeles e outras cinco cidades.

Novos programas – O grande problema é a rede Fox.

?A temporada tem sido ruim?, disse Murdoch. Maus desempenhos de ex-sucessos como The X-Files e Ally McBeal arrastaram para baixo os índices de audiência da Fox.

Sandy Grushow, o presidente da rede, disse esperar recuperação a ser trazida por novos programas, nos últimos meses do ano, a cargo dos criadores de Ally McBeal e Buffy the Vampire Slayer, bem como pela estréia, em meados do ano, de Pop Idols, um programa caça-estrelas em que espectadores escolhem por votação seus preferidos entre os novos artistas jovens.

Murdoch poderia recorrer a um novo sucesso que o ajudasse a esquecer a ?surpresa, choque e profundo desapontamento? que disse ter sentido em 28 de outubro do ano passado, quando a companhia por pouco não conseguiu ficar com a DirecTV.

Sabendo que era luta perdida, Murdoch retirou-se naquele anoitecer para seu apartamento na zona SoHo de Manhattan talvez com uma dezena de amigos da família. Eles assistiram a Shallow Hal, filme cômico da Fox sobre um homem que só vê a beleza interior das pessoas. ?Não foi um filme tão envolvente?, disse, ?que desviasse nossas mentes do assunto (o fracasso na aquisição da DirecTV)?.

 

DESREGULAMENTAÇÃO / EUA

"Uma torradeira com imagens", copyright O Estado de S. Paulo / The Washington Post, 17/03/02

"A recente decisão do Tribunal Federal de Recursos de Washington de aliviar as restrições sobre a posse de estações de televisão tem sido elogiada pelas redes e condenada pelos defensores do consumidor. No contínuo debate sobre a desregulamentação da mídia, mais uma vez foram demarcadas as fronteiras entre o poder das empresas e o interesse da população. E, mais uma vez, o interesse do público saiu perdendo.

A finalidade da Lei de Telecomunicação de 1996 foi a de ser um meio pelo qual as empresas de mídia pudessem permanecer competitivas em uma nova economia multimídia, dominada pelos grandes conglomerados. Mas, se a lei de 1996 incentivou a competitividade econômica entre as indústrias, sufocou a concorrência no mercado de idéias por reduzir o número de proprietários e assim consolidar, centralizar e homogeneizar vozes antes díspares.

Os efeitos foram mais dramáticos na indústria do rádio, que foi quase completamente desregulamentada em 1996. Desde então, houve mais de 10 mil transações de estações de rádio no valor de mais de US$ 100 bilhões e hoje existem no mínimo 1.100 estações de rádio a menos – uma diminuição de quase 30% em seis anos.

O resultado é que, em quase metade dos maiores mercados, as três maiores empresas controlam 80% dos ouvintes do rádio. Hoje, no momento em que o que restou da regulamentação televisiva preservada pela lei de 1996 é finalmente removido, a conclusão inevitável é que de uma nova onda de fusões, desta vez entre redes e estações de TV, vai acontecer.

Do ponto de vista da concorrência econômica, o relaxamento nos limites sobre a propriedade e a suspensão das normas sobre propriedade de diferentes tipo de mídia são positivos, criando oportunidades para crescimento e lucros. Na medida que as matrizes das empresas controlam cada vez mais não apenas o conteúdo da mídia de massa (televisão, cinema, jornais, revistas, livros, etc) mas também os sistemas nacionais de distribuição desse conteúdo (redes, sistemas de satélite e telefone), estas ganham alavancagem financeira, aumentam os ganhos e expandem o controle sobre suas propriedades, monetarizando-as desde a concepção à recepção.

Sensacionalismo – Porém, os benefícios econômicos para os conglomerados de mídia custaram à população o acesso a um mercado saudável de idéias. Tome o exemplo do noticiário de televisão. Para aumentar as margens de lucro, os gigantes da mídia estão fechando salas de redação, fundindo equipes e produzindo múltiplos noticiários levados ao ar em diferentes estações a partir da mesma mesa. À medida que programas noticiosos comerciais – inseridos em empresas de entretenimento cujas metas são proporcionar diversão e atrair receita – tentam manter uma audiência que tem centenas de canais à disposição, a qualidade jornalística despencou e os editores de noticiário cada vez mais estão recorrendo ao sensacionalismo, ao escândalo e à simplificação para manter os índices de audiência e o fluxo de dinheiro.

O noticiário mundial, particularmente, foi uma baixa na linha de frente nas guerras das fusões. Um estudo do Shorenstein Center de Harvard mostra que o tempo de noticiário televisivo dedicado à cobertura internacional caiu de 45% na década de 70 para menos de 14%, em 1995. Portanto, não é surpresa que tantos americanos tenham um entendimento tão escasso sobre as forças que levaram aos acontecimentos de 11 de setembro.

Alguns setores podem prosperar com pouca ou nenhuma supervisão, mas a mídia é uma exceção. A televisão continua sendo nosso mais poderoso meio para divulgação de notícias, informações, conscientização cultural e disseminação de idéias. Da mesma forma como travamos batalhas para preservar a vitalidade da livre expressão, devemos defender a integridade e a abertura da mídia por intermédio da qual manifestamos essa expressão. Para tanto, precisamos nos voltar para uma liderança e percepção que seja representativa não apenas dos acionistas de uma corporação e das leis de oferta e demanda, mas dos indivíduos e da sociedade como um todo.

Os tribunais deixaram para a Comissão Federal de Comunicações (FCC) a incumbência de justificar o limite de 35% sobre a propriedade de estações nacionais – isto é, a norma que impede as empresas de adquirirem estações adicionais se aquelas que já têm abrangerem mais de 35% da audiência nacional. O presidente do conselho da FCC deixou claro que não está interessado em preservar os limites de propriedade além das restrições impostas pelas leis antitruste que regem outros setores. Agora está nas mãos do Congresso assumir uma posição realizando audiências públicas com vistas a proteger a qualidade e a diversidade da mídia americana por meio da legislação.

A desregulamentação está concentrando poder, reduzindo oportunidades e diminuindo a qualidade por atrelar o conteúdo televisivo ao resultado final.

Ao tratar a televisão como uma mera commodity, endossamos a filosofia de um ex-presidente do conselho da FCC, que disse: ?A televisão é uma torradeira com imagens.?

Essa declaração voltará para nos assombrar. Como nossos parques nacionais, as ondas aéreas são um bem confiado à nação. Se deixados desprotegidos, nossos parques dentro em breve serão desflorestados. Sem uma regulamentação esclarecida, nossas ondas aéreas continuarão a serem sufocadas. (Wiliam F. Baker é presidente da Thirteen/WNET New York, a maior estação PBS do país e co-autor de Down the Tube: An Inside Account of the Failure of the American Television. Nota da tradução: PBS é a abreviatura de Public Broadcasting Service, ou seja, Serviço de Transmissão Pública.)"

 

PERU

"Filho de Vargas Llosa se torna clandestino", copyright Folha de S. Paulo, 17/03/02

"Principal assessor de Alejandro Toledo até o primeiro turno das eleições presidenciais do ano passado, o jornalista e escritor Alvaro Vargas Llosa vive hoje na clandestinidade, escondido em algum lugar do Peru, acreditando-se vítima de um complô para prendê-lo.

Filho do escritor Mario Vargas Llosa, Alvaro, 36, é alvo de dois processos, movidos por empresários acusados por ele de corrupção em contratos com o governo. No fim de dezembro, a Justiça proibiu a saída de Alvaro do país até a análise do mérito de uma das ações de calúnia e difamação.

O jornalista havia acusado os empresários israelenses Adam Pollack, Gil Shavit e Joseph Maiman, próximos a Toledo, de fazer lobby em favor de um consórcio alemão para assumir um contrato de manutenção de aviões MiG-29 que haviam sido comprados pela Força Aérea durante o governo de Alberto Fujimori (1990-2000), em negociações suspeitas.

Em entrevista à Folha, feita por e-mail (ele não fala mais ao telefone e não revela sua localização), Alvaro diz que resolveu se esconder ao verificar que os processos contra ele tinham ?uma grande quantidade de irregularidades?.

?Simplesmente resolvi tomar minhas precauções?, diz. Segundo ele, apesar de a Justiça ter-lhe dado ganho de causa num primeiro momento e de os empresários acusados não terem apelado, a mesma ação foi reiniciada em outro tribunal, de maneira ilegal.

?Não se pode voltar a entrar com o mesmo processo em outro tribunal. Porém ele aparece subitamente em outro tribunal no qual o juiz o acolhe e decreta meu impedimento de sair do país e dá ordem de levar-me à força ao tribunal, algo reservado a delitos graves e a pessoas que evadem a Justiça?, diz ele.

?Diante dessas irregularidades, percebi que corria sério risco de ir preso. Não posso aceitar minha própria perseguição. Passei os últimos anos denunciando essas barbaridades que aconteciam com Vladimiro Montesinos [ex-assessor de Fujimori que está preso, acusado de tortura, assassinatos e corrupção?. Não posso aceitá-las agora também?, disse.

O caso de Alvaro Vargas Llosa foi denunciado na semana passada pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF). A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) também deve emitir nota em sua reunião semestral, iniciada anteontem.

?Acho que ele [Toledo? tem interesse de me amedrontar e de enviar, por meio do meu caso, uma mensagem para que a imprensa não investigue os assuntos militares?, diz Alvaro, para quem o governo está por trás dos processos.

?A relação entre Toledo e os demandantes é umbilical. Isso todo o Peru sabe, porque é uma relação pública e foi um dos motivos de meu rompimento com ele?, diz.

Alvaro rompeu publicamente com Toledo pouco antes do segundo turno das eleições presidenciais, após tê-lo assessorado durante a maior parte da campanha. Seu pai, porém, continuou apoiando Toledo, ao lado de quem apareceu publicamente há algumas semanas, durante visita ao palácio de governo, na qual recebeu uma condecoração.

A Folha tentou ouvir Mario Vargas Llosa sobre o assunto, mas sua assessoria disse que ele não poderia responder às questões da reportagem por estar com sua agenda carregada pelo lançamento de seu livro ?A Festa do Bode? no Reino Unido, neste mês.

Em entrevista recente, porém, o escritor havia dito que não poderia atacar ?um governo que está reconstruindo a democracia com gente íntegra e incapaz de permitir a menor desonestidade?. ?Não avalizo a denúncia de meu filho contra o governo porque não sei absolutamente nada sobre ela.?

O governo peruano também não quis comentar o assunto.

Para Alvaro, o apoio de seu pai a Toledo é, ?na realidade, o apoio ao processo de transição democrática?. ?Mas nossas percepções vão se aproximar, com o tempo, porque suas últimas declarações indicam que já começa a sentir que há um reflexo algo autoritário?, diz.

Segundo ele, apesar de o processo de democratização estar avançando, o governo ?naufraga na impopularidade? (de quase 70%, segundo as últimas pesquisas) pelo não-cumprimento de ?demagógicas promessas eleitorais?. ?Minha crítica maior é o intervencionismo na Justiça e nos meios de comunicação?.

Controle da mídia

Outra acusação de Alvaro contra o governo é um suposto plano para controlar a mídia, no qual também estariam envolvidos os mesmos empresários.

Há algumas semanas, Toledo propôs a desapropriação de dois canais de TV pertencentes a empresários ligados a Montesinos e que apoiaram o regime de Fujimori. A proposta de desapropriação foi apoiada por Mario Vargas Llosa, mas criticada por seu filho.

Alvaro acusa o empresário israelense Baruch Ivcher, dono do canal de TV Frecuencia Latina, de participar desse suposto plano para controlar a mídia.

Durante o governo Fujimori, Ivcher teve cassada a cidadania peruana, que lhe permitia ser dono da TV, após emitir denúncias contra o governo. Ivcher é sogro de Gil Shavit, um dos três supostos lobistas no caso dos MiG-29.

Joseph Maiman, outro dos supostos lobistas, também é acusado por Alvaro de participar de um plano de controle da mídia. ?Maiman, ex-agente do Mossad [serviço secreto israelense?, segundo o jornal ?The Wall Street Journal?, é outro amigo próximo a quem Toledo pediu diante de mim, durante a campanha, que comprasse um canal de TV para tirar do jogo seus cr&iiacute;ticos?, disse Alvaro à Folha.

?Há uma tendência intervencionista que me preocupa?, afirma. ?Não se esqueça de que, ao romper com Toledo, eu denunciei a tentativa de controlar os meios de comunicação?, diz."