Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Sharon Moshavi

JAPÃO

"Japão já faz política-espetáculo", copyright Jornal do Brasil / The Boston Globe, 27/7/01

Quem andar zapeando pelos canais japoneses de TV estes dias não poderá deixar de notar uma novidade. Não se trata de mais um programa de jogos ou culinária nem de outro drama de samurais: o Japão está descobrindo o que acontece com a política quando uma câmera de TV se volta para ela.

Por enquanto, nenhum político apareceu na tela usando óculos escuros ou tocando saxofone, mas é evidente que o estilo americano chegou com força na atual campanha para a câmara alta do parlamento japonês. Os candidatos participam de talk shows, contando detalhes de suas vidas e fazendo perguntas pessoais a membros da platéia.

A razão simples para toda esta novidade é uma só: o telegênico primeiro-ministro Junichiro Koizumi. No poder desde abril, e com um índice de aprovação de 80%, Koizumi trouxe personalidade e carisma ao monótono mundo da política japonesa. Como uma estrela do rock, costuma atrair hordas de mocinhas frenéticas, e sua foto é hoje o poster mais popular do país.

Pratos preferidos – Abrindo a campanha em nome de seu Partido Liberal Democrático, o primeiro-ministro esteve num especial de TV chamado 100 Mulheres contra Koizumi. Respondeu a perguntas, a maioria de donas-de-casa, sobre seus planos de reforma da economia japonesa, falou de seus pratos favoritos e mordiscou alguns deles: sopa chinesa de massa e bolinhos gioza.

Se todos esses brilharecos fazem bem ou mal à política chinesa é questão de opinião. ?Políticos capazes de se comunicar são bem-vindos?, diz o professor de ciência política Koichi Nakano, da Universidade Sophia. ?Mas por outro lado a coisa pode ir longe demais, especialmente por ser novidade aqui: parece que no momento estão exagerando um pouco.?

Horizontes – Sob muitos aspectos, de qualquer forma, a TV abriu os horizontes da política japonesa. Koizumi é o primeiro governante a permitir que câmeras de TV registrem suas freqüentes conversas com repórteres. Seus adversários, por sua vez, também intensificaram sua participação. O principal partido da oposição, o Democrático do Japão (PDJ), contratou os serviços de um consultor de marketing e publicidade que trabalhou para a campanha presidencial de Al Gore nos EUA no ano passado.

Até pouco tempo atrás, a política no Japão evitava os excessos da cobertura na mídia eletrônica simplesmente proibindo-a. As regras tornaram-se mais flexíveis no início da década de 90, autorizando propaganda política, mas somente na rede nacional NHK. Mas há três anos a publicidade partidária inunda todos os canais. Cada um deles tem seus critérios para aceitar ou recusar publicidade política, e nada que pareça excessivamente crítico passa na peneira: ?Estamos o tempo todo colidindo com um muro?, diz um dirigente oposicionista. ?Essas estações têm medo de enfrentar o governo.?"

    
    
                     

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