Sunday, 06 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Silvana Arantes

QUALIDADE NA TV

ASPAS

CULTURA E ARTE

"MinC inaugura hoje a TV Cultura e Arte", copyright Folha de S. Paulo, 30/04/01

"Entra no ar hoje, às 22h, a TV Cultura e Arte, transmitida pelas operadoras a cabo Net e TVA em todo o país. O investimento de R$ 2 milhões para exibir duas horas de programação, de segunda a sexta, e três, aos sábados e domingos, é do Ministério da Cultura.

Para a viabilização técnica do projeto -item que consome quase todo o seu orçamento- o MinC firmou acordo com a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura de São Paulo. As duas TVs serão parceiras também na produção de programação, viabilizada com recursos das leis de incentivo fiscal e que poderá ser exibida em ambos os canais. A estimativa do ministério é de que sua TV atinja público potencial de 8 milhões de telespectadores. Atualmente, o conjunto de domicílios com assinantes de TV paga no país soma 3,4 milhões .

?Duas horas de programação é pouco, mas é melhor que nada?, disse o ministro da Cultura, Francisco Weffort, durante entrevista coletiva em que anunciou o lançamento da TV, em São Paulo.

Lembrando que a lei 8.977, de 1995, que prevê a criação de um canal educativo e cultural, estabelece o compartilhamento de programação pelas esferas federal, estadual e municipal do poder público, Weffort acrescentou: ?Este canal é um condomínio. Se as secretarias do Rio e de São Paulo começarem a desenvolver o projeto, teremos um canal cultural?.

Pelo menos nos próximos três meses, a programação da TV se assenta em produtos audiovisuais viabilizados com incentivo das leis de renúncia fiscal. ?Com isso, atendemos à exigência de divulgar projetos beneficiados pelas leis?, diz o secretário do Audiovisual, José Álvaro Moisés.

Dividida nos módulos Cenários, Escritores, Memória, Artes, Perfis, Encontros e Sessão de Cinema, a programação começa hoje com o documentário ?Tambores?, de Gustavo Brandão, sobre ritmos musicais brasileiros. A sessão de cinema será sempre aos domingos e exibirá, até o fim de maio, ?Gaijin?, de Tizuka Yamasaki, ?Baile Perfumado?, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, ?Banana Is My Business?, de Helena Solberg, e ?Os Matadores?, de Beto Brant."

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"Qualificação do canal é polêmica", copyright Folha de S. Paulo, 30/04/01

"A qualificação da TV Cultura e Arte como o canal educativo e cultural previsto pela lei 8.977 é ponto polêmico. A lei obriga as operadoras a tornar disponíveis seis canais com destinações específicas, e o governo já ocupa todos a que tem direito.

No caso da operadora Net, a TV Cultura e Arte terá sua programação exibida pelo canal já utilizado pelo NBR, que é vinculado à Secretaria de Comunicação do Governo e tem atuais 19 horas diárias de programação. Em entrevista à Folha, o secretário do Audiovisual, José Álvaro Moisés, evitou ser incisivo sobre o assunto.

Folha – O canal compartilhado pela TV Cultura e Arte e pelo NBR fica qualificado como sendo educativo e cultural?

José Álvaro Moisés – O que o Ministério da Cultura pode dizer é que só podemos ocupar o canal educativo e cultural. Não podemos responder por outras agências e instituições.

Folha – Na hipótese de ambos desejarem uma mesma faixa de programação, quem decidirá?

Moisés – Essa hipótese não existe. Há entendimentos para que a TV Cultura e Arte utilize o horário das 22h às 24h durante a semana e das 21h às 24h nos finais de semana, do canal educativo e cultural. Não tenho conhecimento de que exista reação ou qualquer tipo de objeção a isso."

"TV do Ministério da Cultura estréia hoje na TV a cabo", copyright O Estado de S. Paulo, 30/04/01

"Depois de muita polêmica, a TV Cultura & Arte, do Ministério da Cultura sai do papel e chega às telinhas hoje às 22 horas, apenas para quem paga uma assinatura de TV a cabo. Ela será sintonizada na grande São Paulo no canal 16 da TVA. O grupo TVA – Neo vai disponibilizar um canal extra para a TV, além dos seis obrigatórios que já estão ocupados. ?Houve uma solicitação do Ministério da Cultura e não havia por que não atender, pois a programação é boa?, afirma o diretor do grupo, Marco Dabus.

Já a NET não aceita retransmitir o sinal, argumentando que os seis canais obrigatórios pela lei da TV a cabo já estão ocupados. Segundo a assessoria de imprensa da NET, a operadora sempre estimulou os canais públicos e a NBR já seria o canal educativo-cultural que a lei exige. Por conta dessa briga, o canal, que deveria estrear no início deste mês, foi adiado. ?Estamos tentando um acordo com a Radiobrás para que a TV Cultura & Arte faça parte da programação da NBR. Enquanto isso, estaremos só na TVA?, explica o secretário do Audiovisual, José Álvaro Moisés.

Entre as operadoras, fala-se que existe a hipótese de as secretarias estaduais e municipais de cultura exigirem uma faixa na programação do canal cultural, já que a lei que regulamenta a TV a cabo prevê a possibilidade.

Brigas à parte, quem sintonizar a TV Cultura & Arte vai poder assistir a uma programação que, na maioria das vezes, será de alto nível, pois reúne a produção que utilizou recursos das leis de incentivo à cultura, fundações como a Funarte e institutos culturais.

O programa de estréia é o elogiado documentário Tambores, com 50 minutos de duração, que faz um levantamento dos ritmos musicais brasileiros. A seguir, às 22h50, é a vez de uma preciosidade: Josué de Castro, Cidadão do Mundo.

Castro foi geógrafo, médico e sociólogo, com uma rápida incursão pela política. Escreveu diversos livros sobre o problema da fome no mundo. O mais famoso é Geopolítica da Fome, traduzido em 14 países.

Cassado pelos militares depois do golpe de 1964 e demitido do cargo que ocupava na embaixada brasileira na ONU, exilou-se em Paris, onde tornou-se professor universitário. Sua atuação internacional e seus trabalhos científicos para tentar combater a fome o tornaram um nome respeitado em todo o planeta e o documentário contribui para torná-lo mais conhecido por aqui. A seguir, três curtas de Gabriela Greeb.

Amanhã também há bons destaques. Às 22 horas será exibido o documentário Volpi, dirigido por Olívio Tavares Araújo, com 20 minutos de duração, que mostra o cotidiano e a arte desse que é um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros. A seguir, é a vez de História da Música Brasileira, que faz um levantamento de 500 anos da música no Brasil. Às 22h50 haverá uma entrevista com o dramaturgo Plínio Marcos.

Na quarta-feira, a escritora Adélia Prado fala sobre sua vida e depois entra um documentário sobre o Modernismo, movimento cultural que agitou os anos 20. Às 22h50, uma entrevista filmada em Paris com o documentarista Jean Rouch, especialista nas culturas africanas. O documentário Maracatu, Maracatus fecha a programação. No sábado, a programação começa mais cedo, às 21 horas, e exibe um documentário sobre o pintor belga Bruegel e a ópera Maria Tudor, com a soprano brasileira Eliane Coelho. No domingo, no mesmo horário, passa a Revista do Cinema Brasileiro, seguido por um programa onde o cineasta Walter Lima Jr. analisa a obra de Alberto Cavalcanti. Aos domingos, às 22 horas, haverá sempre uma sessão dupla, com um curta-metragem seguido por um longa. Os primeiros serão Clandestina Felicidade, seguido por Gaijin, de Tizuka Yamazaki."

REGIONALISMO

"Sotaques em rede", copyright O Estado de S. Paulo, 29/04/01

"Aos poucos, de grão em grão e pelas beiradas, eles chegaram lá. Pela primeira vez na TV brasileira, emissoras estaduais ligadas às grandes redes começam a dar uma virada na relação de dependência com o eixo Rio-São Paulo.

Primeiro, uma virada na produção. Na semana passada, afiliadas à Globo receberam sinal verde para produzir dramaturgia regional para exibição em rede. Batizado de Quadrante, o projeto deve percorrer todos os Estados.

Serão selecionados textos de autores regionais para programas de 35 minutos.

A atração será realizada nos Estados, com diretores e atores da região, e no máximo dois atores do cast da Globo. Quadrante começa a ser produzido no segundo semestre. A direção quer exibir a série no ano que vem, em horário nobre. A rede conta com a força das afiliadas: há pelo menos 17 programas regionais de força (veja os cinco principais na tabela), como Terra da Gente, do interior, jornalístico rural que é base de, em média, quatro Globo Repórter por ano.

A virada na produção, como a apontada pela Globo, espelha outra virada das afiliadas: a financeira. Os canais locais já representam 40% do faturamento de redes como SBT, Band e Record.

Por isso, produções locais em rede nacional estão nos planos do SBT. O jornalismo local, até em função do esvaziamento da produção da matriz, multiplicou-se e hoje está em 80% das 107 afiliadas. Só o diário SBT Rio, em dois anos aumentou em 60% o faturamento da afiliada carioca.

Para o superintendente de Rede, Júlio César Casares, o desempenho local renovou a idéia de retomada do jornalismo nacional do SBT. ?Há interesse em usar cada vez mais material das afiliadas?, diz Casares. ?O fortalecimento e prestígio regional é cada vez mais interessante comercialmente.?

O superintendente explica que há produtos locais que podem ser levados a outras praças. ?Estamos de olho nos formatos que fazem sucesso?, diz Casares. ?É o caso do TV Alterosa Esporte, de Minas.?

O Carnaval de Parintins (AM) foi o primeiro evento local transmitido em 2000 para sete Estados do Norte-Nordeste. Com todas as cotas já vendidas, o SBT levará em junho o boi-bumbá a toda a rede.

Tchan – Na Record, a audiência das afiliadas (63 no País) agrada a matriz paulista. ?Em 1997, tínhamos 3% de share (audiência em relação ao televisores ligados) e em 2000 chegamos a 11,7%, graças às afiliadas?, diz o diretor-comercial de rede, Pedro Gonzales. ?Numa semana de Fala Brasil, aproveitamos material de, no mínimo, 35 afiliadas.?

Este ano, a emissora exibirá flashes do Festival Internacional de Ópera em Manaus. Na Bahia, a morena Sheila Carvalho, do É o Tchan, comandará um programa de auditório na TV Ipapoan, a Record em Salvador, em 2 de junho. O investimento inicial no produto é de R$ 60 mil. ?Queremos retomar a tradição de lançar artistas baianos?, afirma o gerente de programação Ricardo Luzbel.

?Temos um estúdio grande e ocioso.? O programa de Scheila Carvalho, ainda sem nome, será exibido aos sábados, ao meio-dia.

Aposta – A Band comemora o desempenho de suas afiliadas. ?Nossas regionais cresceram 13% no primeiro trimestre?, diz Marcelo Meira, vice-presidente de Rede. A rede dos Saad reserva quatro horas diárias para a produção regional. Quer mais. ?Pretendemos uma atuação mais efetiva no jornalismo das praças, tanto para abastecer a cabeça de rede, em São Paulo, quanto para incrementar noticiários locais.? Do faturamento de R$ 200 milhões em 2000, 40% vieram das regionais e afiliadas, que somam 67 emissoras.

Até redes públicas têm estimulado o boom de produção local. Terça-feira, 22h30, a TVE gaúcha começa a exibir a minissérie, em cinco capítulos, A Hora do Louva-a-Deus, um sonho que o diretor Paulo Nascimento concretiza seis anos após começar a produção, em 1996. A produção gaúcha conta a história de um escritor fracassado, Reynaldo (Eduardo Tornaghi), que retorna à cidade natal para acerto de contas com o passado.

Além de Tornaghi, galã de novelas como A Moreninha, o elenco traz a veterana Carmen Silva e Zé Victor Castiel, o Viriato de Laços de Família. ?Quero tentar exibição em outros Estados por intermédio da TVE?, diz Nascimento, que já vendeu a produção para a TV cubana e, no momento, negocia com a Bolívia, Uruguai e Chile. A presença de Robert Tate (montador de Woody Allen) também garantiu um certo requinte à série.

Shop – Quem quer investir em produtos locais é Luiz Antônio Galebe, dono do Shop Tour. O programa de vendas, que ocupa 21 horas diárias na CBI, vai virar canal. O investimento é de R$ 5 milhões.

Para a assessoria de Galebe, o interesse pelo mercado local se deve a 10% das vendas do programa serem de outros Estados."

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