Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sinal amarelo no Grupo Liberal

MÍDIA PARAENSE

Lúcio Flávio Pinto (*)

A crise, que aflige a imprensa no mundo inteiro, chegou ? um tanto tardiamente, mas com um vigor surpreendente ? ao Grupo Liberal, que edita o diário O Liberal, de Belém (PA). Ou será que para o encolhimento do principal grupo de comunicação do Norte do país influíram outros fatores específicos, como as divergências e os desencontros entre os filhos de Romulo Maiorana, que herdaram o império construído pelo pai?

Esta dúvida divide a avaliação do corte de despesas que vem sendo aplicado nas duas últimas semanas. A sucursal da TV Liberal em Brasília, com sete pessoas, foi fechada. O mesmo destino teve a sucursal do jornal em Macapá. As redações de Belém sofreram as primeiras de uma série de demissões. Em toda a corporação, elas poderiam atingir entre 200 e 400 funcionários. Mas havia quem previsse até mais. Um número exato, de 438 cortes, chegou a circular.

Na sexta-feira (5/4), os empregados tiveram o dissabor de não encontrar seus salários do mês anterior depositados no banco. Os atrasos têm sido freqüentes. Mesmo assim, o principal executivo da empresa, Romulo Maiorana Júnior, fazia uma excursão Belém-Miami-Las Vegas-Ilhas Caymán-São Paulo-Belém no seu jatinho executivo Citation, com convidados. A empresa de táxi aéreo, aliás, só não estaria no vermelho graças a um grande cliente, o governo do estado, que a ela tem recorrido para os deslocamentos do governador Almir Gabriel.

Reação tardia?

Mas, além de o faturamento das empresas mais antigas ter caído ? inclusive porque as relações comerciais quase se transformaram em escambo, pela prática sistemática das permutas com credores e devedores ?, empréstimos e prejuízos operacionais estão se acumulando, enquanto novos negócios afundam, como a ORM Cabo e a Libnet. O passivo do grupo é medido em dezenas de milhões de reais, projetado como uma incógnita contra um pano de fundo de dificuldades. Problemas que se agravam com gastos paralelos ociosos ou mesmo suntuários. Rominho acabou de importar mais um carro de luxo, um Porsche de R$ 300 mil, enquanto constrói uma nababesca mansão no condomínio fechado Lago Azul.

Esses e muitos outros problemas já foram identificados internamente, mas permanecem sem solução. Tempos atrás o economista Frederico Andrade foi contratado, logo depois de deixar a superintendência da Sudam, para "arrumar a casa". Mal iniciou a limpeza financeira, econômica e contábil, e foi dispensado. Quando o grupo recorreu ao BNDES atrás de um empréstimo de R$ 50 milhões, sua estrutura administrativa se mostrou incompatível com o tamanho do pedido, numa instância pública do porte e da qualidade do banco federal de desenvolvimento.

De lá para cá a situação não melhorou, embora a posição assumida por Rosângela Maiorana Kzan tenha obrigado os controladores efetivos do grupo, os irmãos Romulo e Ronaldo Maiorana, a ajustar os procedimentos internos e a prestar contas efetivas do que estava sendo feito. Será o suficiente para começar a enfrentar o acervo de dificuldades, está aquém do desafio ou a reação vem tarde, além do mais como efeito do passado, e não como causa de futuro? É o que cabe responder nos próximos meses.

(*) Jornalista