Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Taís Mendes, Cristiane de Cássia e Paulo Carvalho

TIM LOPES, ASSASSINADO

"Tráfico julgou e executou Tim Lopes", copyright O Globo, 10/06/02

"Cerca de 50 policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), das delegacias de Repressão a Entorpecentes (DRE), Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), Homicídios, Brás de Pina (38? DP), Penha (22? DP) e Bonsucesso (21? DP) realizaram nesta segunda-feira uma operação na Favela da da Grota, no Complexo do Alemão, na tentativa de encontrar o corpo do jornalista Tim Lopes.

Durante a operação na favela, onde o jornalista teria sido morto, foi encontrado um Fiat Palio roubado. O carro pode ter sido usado para transportar do jornalista até o local da execução. Os policiais estão esperando o dono do carro para ser periciado. Em outro ponto da mesma favela, policiais apreenderam uma pistola 9 milímetros, uma granada, munição e uma moto roubada. A casa seria esconderijo do traficante Ratinho, que também teria participado da barbárie contra Tim Lopes.

Os bombeiros tiveram que suspender as buscas no início da noite sem que tivessem conseguido retirar totalmente a água do terreno onde se suspeita que os restos do repórter tenham sido enterrados. As buscas no local devem continuar amanhã.

O presidente da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, João Rato, está prestando depoimento por duas horas, na 22?DP (Penha). Ele está falando sobre a organização do baile funk que funciona na favela para o inspetor Daniel Gomes, que investiga o desaparecimento e morte do jornalista Tim Lopes. O baile era alvo da reportagem do jornalista, que foi morto no último domingo.

Tráfico julgou, torturou e executou Tim Lopes

Com as mãos amarradas, os pés sangrando em conseqüência de tiros, o repórter Tim Lopes, de 51 anos, foi levado para o alto da favela da Grota, no complexo do Alemão, no final da noite de domingo passado. Os traficantes, comandados por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, improvisaram um julgamento sumário e decretaram a execução do jornalista, que já havia sido espancado pouco antes. O repórter foi morto a golpes de uma espada do tipo samurai e seu corpo foi queimado. Os detalhes da execução foram revelados pelo chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, depois de obter a confissão de dois bandidos da quadrilha do traficante, que foram presos na manhã de ontem.

Tim Lopes, repórter da TV Globo, desapareceu há uma semana, quando fazia reportagem sobre baile funk e tráfico de drogas na favela Vila Cruzeiro, na Penha.

Fernando Sátiro da Silva, de 25 anos, o Frei, e Reinaldo Amaral de Jesus, de 23 anos, o Cabê, foram presos em casa enquanto dormiam, no Morro da Caixa D?água, na Penha, às 7h, durante uma operação que durou 1h30m e mobilizou 50 policiais civis. Eles negam a participação na morte do repórter. No entanto, contam em detalhes o momento em que o jornalista foi levado pelos traficantes e seu assassinato.

Bandidos avisaram Elias Maluco

A operação teve a participação de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais, da Delegacia Anti-Seqüestro, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense e da 38 DP (Brás de Pina), que já tinham um mandado de prisão contra Fernando Sátiro da Silva.

– Segundo os depoimentos, o jornalista foi executado com golpes de espada samurai e depois queimado. Foi um crime com requintes de crueldade que não ficará impune. Antes da prisão dos dois, estávamos trabalhando apenas com informações de denúncias anônimas. Agora avançamos efetivamente nas investigações e não vamos descansar enquanto não encontrar o corpo do Tim – afirmou o chefe de polícia Zaqueu Teixeira.

A governadora Benedita da Silva lamentou a morte do jornalista:

– Assim como chegamos a esses dois, tenho certeza que chegaremos ao principal suspeito desse assassinato cruel, bárbaro. Temos que encarar a situação da violência no Rio como a situação da violência no Brasil. Por isso há a necessidade de ações integradas.

Segundo os traficantes presos, Tim Lopes estava em um bar, na Rua 8, próximo ao local do baile funk, na Vila Cruzeiro, quando, por volta das 23h30m, foi abordado por André da Cruz Barbosa, o André Capeta e Maurício de Lima Bastos, o Boizinho. Os bandidos desconfiaram do jornalista porque perceberam uma luz em sua bolsa. Ao revistarem o jornalista, os traficantes encontraram a microcâmera e, através de um rádio, avisaram a Elias Maluco sobre a presença de Tim na favela. Segundo a polícia, o repórter teria sido espancado no local:

– Segundo os presos, a notícia teria sido recebida pelo traficante como um prêmio. Ele mesmo fez questão de pegar a espada e matar o repórter – disse o delegado Reginaldo Guilherme, titular da 38 DP (Brás de Pina).

Para que não escapasse, Tim foi baleado nos pés e depois levado, com as mãos amarradas, para a vizinha Favela da Grota. No alto do morro, os traficantes Elias Maluco, Boizinho, André Capeta e Renato Souza Lopes, o Ratinho, fizeram um julgamento para decidir a execução do jornalista. A decisão foi rápida e por volta das 24h, Tim foi assassinado. A polícia investiga a informação de que o corpo do jornalista esteja enterrado num cemitério clandestino, naquela favela, ao lado do local chamado microondas, onde traficantes matam e queimam seus rivais.

Outro corpo seria de um estuprador

A polícia acredita que o corpo carbonizado encontrado no dia 3 e cujos restos foram levados para o Instituto Carlos Éboli para exames de DNA não seja do jornalista. Segundo o depoimento dos dois traficantes presos, o corpo seria de um morador do Morro da Caixa D?água, assassinado no mesmo dia que Tim, por ter estuprado uma menina de 11 anos.

– O estuprador foi morto praticamente na mesma hora. Provavelmente o exame não identificará aquele corpo como o do Tim – disse o delegado Reginaldo Guilherme.

Fernando Sátiro da Silva, o Frei, é procurado pela polícia desde o ano passado por tráfico de drogas.

Além de Fernando e Reinaldo, três outras pessoas, sendo um menor, foram detidos, mas liberados por falta de provas. Durante os depoimentos, Fernando e Reinaldo culpavam um ao outro pelo crime:

– Cada um diz que sabe como foi o crime porque ouviu o outro contar, mas com muitas riquezas de detalhes. Vamos continuar as buscas dos outros envolvidos – disse Zaqueu.

Fernando tentou se defender:

– Não sei se ele está vivo ou morto. Tem muita gente que o viu apresentando a carteirinha de jornalista. Eu não vi e não posso nem falar. Eu estava na minha casa, com minha garota, quando fizeram uma batida. Como já tinha um mandado contra mim, me pegaram. Não fiz nada.

No início da tarde, familiares e amigos de Frei tentaram invadir o gabinete do delegado, em Brás de Pina. Horas depois, os bandidos foram transferidos para a Polinter. João Rato, presidente da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, deve depor hoje na 22 DP(Penha). À noite, policiais do Bope voltaram a vasculhar a favela. (COLABOROU: Lavínia Portella)

 

"Repórter é executado pelo tráfico", copyright O Globo, 10/6/2002

"Com as mãos amarradas, os pés sangrando em conseqüência de tiros, o repórter Tim Lopes, de 51 anos, foi levado para o alto da favela da Grota, no complexo do Alemão, no final da noite de domingo passado. Os traficantes, comandados por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, improvisaram um julgamento sumário e decretaram a execução do jornalista, que já havia sido espancado pouco antes. O repórter foi morto a golpes de uma espada do tipo samurai e seu corpo foi queimado. Os detalhes da execução foram revelados pelo chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, depois de obter a confissão de dois bandidos da quadrilha do traficante, que foram presos na manhã de ontem.

Tim Lopes, repórter da TV Globo, desapareceu há uma semana, quando fazia reportagem sobre baile funk e tráfico de drogas na favela Vila Cruzeiro, na Penha.

Fernando Sátiro da Silva, de 25 anos, o Frei, e Reinaldo Amaral de Jesus, de 23 anos, o Cabê, foram presos em casa enquanto dormiam, no Morro da Caixa D?água, na Penha, às 7h, durante uma operação que durou 1h30m e mobilizou 50 policiais civis. Eles negam a participação na morte do repórter. No entanto, contam em detalhes o momento em que o jornalista foi levado pelos traficantes e seu assassinato.

Bandidos avisaram Elias Maluco

A operação teve a participação de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais, da Delegacia Anti-Seqüestro, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense e da 38 DP (Brás de Pina), que já tinham um mandado de prisão contra Fernando Sátiro da Silva.

– Segundo os depoimentos, o jornalista foi executado com golpes de espada samurai e depois queimado. Foi um crime com requintes de crueldade que não ficará impune. Antes da prisão dos dois, estávamos trabalhando apenas com informações de denúncias anônimas. Agora avançamos efetivamente nas investigações e não vamos descansar enquanto não encontrar o corpo do Tim – afirmou o chefe de polícia Zaqueu Teixeira.

A governadora Benedita da Silva lamentou a morte do jornalista:

– Assim como chegamos a esses dois, tenho certeza que chegaremos ao principal suspeito desse assassinato cruel, bárbaro. Temos que encarar a situação da violência no Rio como a situação da violência no Brasil. Por isso há a necessidade de ações integradas.

Segundo os traficantes presos, Tim Lopes estava em um bar, na Rua 8, próximo ao local do baile funk, na Vila Cruzeiro, quando, por volta das 23h30m, foi abordado por André da Cruz Barbosa, o André Capeta e Maurício de Lima Bastos, o Boizinho. Os bandidos desconfiaram do jornalista porque perceberam uma luz em sua bolsa. Ao revistarem o jornalista, os traficantes encontraram a microcâmera e, através de um rádio, avisaram a Elias Maluco sobre a presença de Tim na favela. Segundo a polícia, o repórter teria sido espancado no local:

– Segundo os presos, a notícia teria sido recebida pelo traficante como um prêmio. Ele mesmo fez questão de pegar a espada e matar o repórter – disse o delegado Reginaldo Guilherme, titular da 38 DP (Brás de Pina).

Para que não escapasse, Tim foi baleado nos pés e depois levado, com as mãos amarradas, para a vizinha Favela da Grota. No alto do morro, os traficantes Elias Maluco, Boizinho, André Capeta e Renato Souza Lopes, o Ratinho, fizeram um julgamento para decidir a execução do jornalista. A decisão foi rápida e por volta das 24h, Tim foi assassinado. A polícia investiga a informação de que o corpo do jornalista esteja enterrado num cemitério clandestino, naquela favela, ao lado do local chamado microondas, onde traficantes matam e queimam seus rivais.

Outro corpo seria de um estuprador

A polícia acredita que o corpo carbonizado encontrado no dia 3 e cujos restos foram levados para o Instituto Carlos Éboli para exames de DNA não seja do jornalista. Segundo o depoimento dos dois traficantes presos, o corpo seria de um morador do Morro da Caixa D?água, assassinado no mesmo dia que Tim, por ter estuprado uma menina de 11 anos.

– O estuprador foi morto praticamente na mesma hora. Provavelmente o exame não identificará aquele corpo como o do Tim – disse o delegado Reginaldo Guilherme.

Fernando Sátiro da Silva, o Frei, é procurado pela polícia desde o ano passado por tráfico de drogas.

Além de Fernando e Reinaldo, três outras pessoas, sendo um menor, foram detidos, mas liberados por falta de provas. Durante os depoimentos, Fernando e Reinaldo culpavam um ao outro pelo crime:

– Cada um diz que sabe como foi o crime porque ouviu o outro contar, mas com muitas riquezas de detalhes. Vamos continuar as buscas dos outros envolvidos – disse Zaqueu.

Fernando tentou se defender:

– Não sei se ele está vivo ou morto. Tem muita gente que o viu apresentando a carteirinha de jornalista. Eu não vi e não posso nem falar. Eu estava na minha casa, com minha garota, quando fizeram uma batida. Como já tinha um mandado contra mim, me pegaram. Não fiz nada.

No início da tarde, familiares e amigos de Frei tentaram invadir o gabinete do delegado, em Brás de Pina. Horas depois, os bandidos foram transferidos para a Polinter. João Rato, presidente da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, deve depor hoje na 22 DP(Penha). À noite, policiais do Bope voltaram a vasculhar a favela. (COLABOROU: Lavínia Portella)"

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"Arthur da Távola lamenta a morte de jornalista e critica governo do Rio", copyright O Globo, 9/6/02

"O senador Arthur da Távola (PSDB-RJ) lamentou a morte do jornalista Tim Lopes e criticou a política de segurança pública do Rio de Janeiro.

– Mostra o fracasso da política de segurança pública do Rio, o fracasso do governo Anthony Garotinho, o fracasso do atual governo (Benedita da Silva). Agora, também não são os responsáveis por toda a estrutura sedimentada ao longo de anos. Eles fracassam por outras razões, porque dizem que vão resolver e não resolvem – disse.

O deputado federal Pimenta da Veiga disse que a morte de Tim Lopes é motivo de consternação e de revolta.

Ambos participaram de uma reunião da cúpula tucana no apartamento do presidente Fernando Henrique Cardoso e, em seguida, de um almoço oferecido pelo presidente nacional do PSDB. O presidente já deixou o local e não falou com a imprensa."

 

"Tim Lopes: ministro da Justiça reforça número de policiais", copyright O Globo , 9/06/02

"O ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, disse neste domingo que determinou o envio de agentes da Polícia Federal para auxiliarem a força-tarefa para prisão dos responsáveis pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo.

– Este fato atinge a todos nós, a mim e a toda a sociedade brasileira. A Polícia Federal vai continuar o seu trabalho de inteligência. E, informo que estamos deslocando, de Brasília para o Rio, helicópteros e o comando de operações táticas da Polícia Federal para auxiliarem na força tarefa já instituída e na prisão de todos os responsáveis como garantia da futura punição e esclarecimento completo do caso. Impedir a impunidade é fundamental para a paz social – afirmou o ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior.

Presidente do STF diz que situação no Rio é muito grave

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Marco Aurélio de Mello, afirmou ao lamentar o assassinato do jornalista Tim Lopes, que a situação de violência no Rio de Janeiro é muito grave e defendeu uma cooperação entre as forças policiais estaduais e federal no combate ao crime. Para ele, o acontecimento escancara o grau de delinqüência a que chegamos no país. Disse também que a força policial está se mostrando impotente, porque não consegue dar combate ao tráfico de drogas.

– A situação é gravíssima, nós não poderíamos imaginar há 10 anos tiroteio entre quadrilhas. O estado precisa ocupar o seu espaço. A situação do Rio, pelas favelas e pelos morros, é de gravidade maior – disse o presidente do Supremo."