FÓRUM , FABICO & PROVÃO
Marcia Benetti Machado (*)
Antes de mais nada, quero dizer que conheço bem e admiro Daniel Cassol, que é meu aluno de Redação Jornalística 3. Não é demagogia, e ele sabe. Sempre tivemos excelente diálogo e concordamos em muitas coisas, portanto não é com prazer que venho ocupar este espaço para esclarecer questões colocadas pelo Cassol nesta mesma edição. Apesar de entender que não é um ataque pessoal e que no fundo, como ele sempre faz, a idéia era defender a Fabico, a UFRGS e o ensino público, pelo bem da informação do leitor não posso deixar de me manifestar.
Aos 37 anos, percebo que de fato a gente nunca pára de aprender. Aprendo agora, por exemplo, que a verdade já não vale muito no jornalismo: ela perdeu o jogo para as impressões e suposições. É possível fazer qualquer associação, correspondente à verdade dos fatos ou não, e publicá-la. Pode-se insinuar que a Fabico pintou parte do prédio e reformou seu auditório apenas para receber o V Fórum Nacional de Professores de Jornalismo. Mais: pode-se insinuar que esta foi uma tentativa grosseira de maquiar ou esconder as nossas deficiências.
Também aprendo agora que os estudantes "ficaram indignados" porque começamos a pintar as paredes da Fabico. Um tempo atrás, compramos cadeiras novas para as salas de aula. Para azar meu, as cadeiras foram entregues dois dias antes da visita de alguém, nem lembro quem. Fui obrigada a ouvir dos alunos que tinha comprado as tais cadeiras "às pressas" apenas para fazer média com a tal pessoa. Patético.
O auditório da Fabico era o mesmo há 12 anos. Desde que entrei na faculdade, em 1998, ouvia todo mundo reclamando de suas péssimas condições. Quando assumi a Direção, pensei que os alunos iriam gostar de um novo auditório. Batalhamos recursos, que só foram liberados em fevereiro deste ano. A reforma durou dois meses, e o auditório ficou pronto antes do início do Fórum. Pecado grave, parece. Ou azar meu, de novo.
Autonomia respeitada
A Fabico, dizem, é "o prédio mais feio da UFRGS". Não sei avaliar isso nem me interessa. Nossa preocupação é com as pombas que gostam de ficar por ali, trazendo risco à saúde de todos, e há mais de um ano buscamos recursos para resolver a questão definitivamente. Como tudo na UFRGS, o processo que trata disso é público e pode ser consultado. Nossa preocupação é com as infiltrações que atingem algumas salas, muitas já solucionadas, com a segurança das pessoas em caso de incêndio, a reestruturação do espaço de convivência dos alunos, a ampliação do espaço físico, a aquisição de equipamentos, a ampliação de vagas para docentes e técnicos. Parece pouco para os "estudantes fabicanos que freqüentam diariamente o prédio"? Talvez seja.
O complicado mesmo é ver as coisas sendo misturadas. O Fórum de Professores ? promovido por nós porque duas professoras idealistas acharam que a UFRGS, em virtude de sua grandeza e apesar de suas fragilidades, merecia sediar discussão tão importante quanto o ensino de Jornalismo ? nada tem a ver com o Provão, o MEC ou o INEP. Nada. O Fórum não é nem mesmo reflexo da "concepção de avaliação do MEC", ele é anterior às avaliações e ao Provão.
É absolutamente injusto para com o Jornalismo da UFRGS compará-lo às universidades que oferecem cursinhos pré-Provão. Nunca fizemos isso, por dois motivos muito simples: primeiro, porque muitos dos nossos professores, eu inclusive, não concordam com o Provão como método de avaliação; segundo, porque sabemos que, apesar de tudo e contra todas as expectativas baseadas na aparência, nossos alunos tirariam A se respondessem a todas as questões.
Também é injusto trazer, como se fosse exemplo da prática da Fabico, a história de uma professora que teria indicado livros apenas porque isso seria exigência da Avaliação das Condições de Ensino. Fiquei sabendo disso pelo texto do Cassol. Jamais sequer imaginei uma cena dessas. Até porque é prática, na Fabico, não apenas indicar livros como comprá-los. Mas, como em todos os lugares, há professores bons e ruins, assim como há alunos bons e ruins. Lamento que ninguém tenha tido coragem de denunciar a atitude dessa professora. Não há intocáveis na UFRGS.
É estranho ver a Fabico sendo atacada publicamente por quem pretende defendê-la. Também quero tudo aquilo, e mais, que o Cassol deseja em seu penúltimo parágrafo. Por querer e trabalhar por isso, tenho certeza de que não somos e nunca seremos uma Faculdade podre por dentro. Há pessoas que gostam de dizer isso, porque pensam que essa imagem pode justificar a inércia delas (não estou falando do Cassol). São pessoas que adoram culpar os outros por seu próprio ostracismo.
Feliz de mim se pintar as paredes fosse tudo a ser feito. Feliz da professora Sandra de Deus, que trabalhou exaustivamente um ano inteiro para realizar o Fórum de Professores na UFRGS, possibilitando aos alunos o acesso a duas preciosas discussões sobre ética e jornalismo, se tivesse recebido, em sua própria Faculdade, os aplausos e o reconhecimento que vieram de fora. Felizes dos alunos que têm sua autonomia respeitada e podem tirar "E" no Provão sem serem execrados por isso. Na Fabico eles podem. Com cheiro de tinta e tudo.
(*) Jornalista, diretora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS