BOSTON GLOBE
Ebadullah Ebadi, 31 anos, assistente do Boston Globe em Cabul, foi espancado por soldados afegãos aliados aos EUA. Formado em Medicina, ele trabalha como tradutor do Globe desde 8 de fevereiro. Em 10/4, Ebadi e um repórter tentaram se aproximar de um comboio de 10 veículos transportando forças especiais americanas e soldados afegãos fortemente armados. Os soldados impediram a dupla de aproximar, e quando um pedido de entrevista foi entregue a soldados americanos, um deles fez sinal para um afegão, que empurrou o tradutor.
Outros soldados começaram a chutar e bater com os rifles em Ebadi, e só pararam quando outro soldado interferiu. Conflitos semelhantes foram relatados por jornalistas estrangeiros e soldados afegãos ligados a forças americanas. Em dezembro, três fotógrafos trabalhando para a AP e o New York Times foram detidos em Tora Bora.
Depois do espancamento, um oficial americano que se aproximou para dizer que os soldados relutavam em dar entrevistas ficou surpreso ao ser informado do incidente. Um comandante afegão, que não estava presente, pediu desculpas em nome dos soldados e se ofereceu para bater publicamente no agressor. O tradutor recusou a oferta, e o afegão reprovou os soldados por "espancarem um convidado, em vez de impedi-lo de chegar aos americanos". Segundo Indira A. R. Lakshmanan [The Boston Globe, 11/4/02], Ebadi comentou: "Se os americanos não conseguiram ver que eu estava sendo espancando na frente deles, como podem se proteger da al-Qaida atacando a distância?"
NATURE
A revista científica Nature revelou, em editorial incomum, dada sua preocupação em conferir dados, que um artigo sobre cultivo de milho transgênico publicado no ano passado não tinha sido suficientemente pesquisado e não deveria ter saído.
Na matéria dizia-se que, embora isto seja proibido pelas leis mexicanas, no estado de Oaxaca se pratica agricultura com sementes geneticamente alteradas. A denúncia ganhou mais importância pelo fato de a região constituir centro internacional para diversidade do milho. Além disso, afirmou-se que os genes modificados são instáveis, o que contraria conceitos fundamentais da biotecnologia agrícola.
A revista não explicitou em seu editorial a qual dos trechos controversos se referia. Os autores do artigo, David Quist e Ignacio Chapela, respectivamente pós-graduando e professor da Universidade de Berkeley, afirmam que com relação à primeira colocação estão certos e que a segunda pode ter sido fruto de má-interpretação de alguns estudos, mas que também não estaria de todo errada.
"Os autores cometeram erros que alunos de primeiro ano já aprendem a evitar, o que demonstra que não estavam comprometidos com a ciência, mas com um dogma religioso", acusa Val Giddings, da Organização da Indústria de Biotecnologia.
Marc Kaufmann, do Washington Post [4/4/02], conta que ativistas antitransgênicos usavam o estudo de Quist e Chapela para demonstrar que o uso da biotecnologia estava se espalhando de forma indiscriminada, à revelia da lei.