REDES DE RÁDIO
Felipe Lemos (*)
Longe de querer criticar o modelo de redes de rádio em franca expansão no país. Grandes grupos de comunicação, principalmente do FM, estão investindo nesta idéia com maior força, utilizando a internet como aliada importante. É a carta na manga de quem pretende economizar e atingir a todos com uma programação em rede nacional de boa qualidade. Feliz ou infelizmente, aumentam as emissoras de "um ou dois funcionários". Tudo ou quase tudo é via satélite. Os gastos são menores e os resultados, espera-se, satisfatórios.
A verdade é que há um antagonismo quando se fala em formato de rádio no Brasil. De um lado, a tendência das empresas de comunicação é que se criem redes com uma programação local cada vez mais reduzida e uma superprodução gerada a partir de bem-estruturada "cabeça de rede". Só que o governo federal tomou providências para legalizar as rádios comunitárias, presença maior nas vilas, nos bairros, nas favelas, no interior dos estados. Ou seja: há duas correntes visivelmente distintas e que parecem seguir em trajetórias opostas. É necessário chegar a uma equação capaz de solucionar o dilema entre se aproximar da comunidade e, ao mesmo tempo, ter lucratividade. Certamente é uma tarefa difícil, mas obrigatória numa nação continental como a nossa.
Busca do equilíbrio
As emissoras de televisão já compreenderam, há muito tempo, a necessidade de estar mais perto das pessoas. As TVs comunitárias, ligadas às redes, são bom exemplo disso, embora ainda ínfimas em relação ao contingente de telespectadores. A difusão das culturas, dos costumes, das características regionais deste Brasil de multifaces passa necessariamente pela regionalização da televisão e do rádio.
Já há projeto de lei, tramitando no Senado, prevendo que emissoras brasileiras de rádio e televisão devem dedicar pelo menos 30% de sua programação à cultura local e regional no prazo de cinco anos. Segundo a idéia, a porcentagem mínima para a veiculação de programas locais valerá para os horários das 18h às 22h, na televisão, e das 6h às 18h, no caso do rádio. As emissoras que deixarem de cumprir as novas normas poderão ser multadas. Claro que uma lei sempre adquire um caráter de obrigação, e não de educação e conscientização.
À medida que as redes de rádio proliferam, com esta padronização, temo que o rádio como instrumento de apoio à sociedade desapareça. Teremos, por exemplo, um noticiário "globalizado" a ponto de ignorar os problemas de cada cidade, estado e região? E os abraços para fulano, cicrano e beltrano, ali da lanchonete da esquina, cairão no esquecimento?
O rádio é um veículo respeitado porque, ao longo dos anos, demonstrou capacidade de se tornar íntimo de seu público. Essa intimidade se dá no relacionamento próximo. É como nas relações humanas. Pensar em economia drástica e adoção de medidas com a finalidade de manter programações destituídas de cultura e informação local pode ser viável financeira e administrativamente, mas vai de encontro ao rádio comunitário no melhor sentido do termo.
Reclamamos tanto das empresas ausentes das comunidades, que só atendem pelos seus 0800 espalhados pelo Brasil afora, e agora aceitamos isso nas rádios. Sim, nos veículos que deveriam ser os companheiros inseparáveis do dia-a-dia. Tomara que o bom senso prevaleça e o equilíbrio seja encontrado nesta questão. Para o bem das redes, sobretudo para o bem da comunidade.
(*) Produtor de rádio em Florianópolis