MÍDIA E CORRUPÇÃO
Chico Bruno (*)
O ano de 2000 e o primeiro semestre de 2001 foram de muito trabalho para a imprensa brasileira. Apesar de, em alguns casos, utilizar métodos não-ortodoxos, a mídia parecia que iria, finalmente, passar a limpo o país. Os principais veículos de comunicação foram a campo e expuseram aos leitores as vísceras da política. Conseguiram mobilizar a opinião pública e derrubar alguns mitos. Imaginamos que não haveria caminho de volta. A mídia brasileira havia alcançado a maioridade. Tinha rompido as amarras do poder. Ledo engano. O que poderia ter sido um longa metragem acabou num curta. Foi apenas um transe. Um espasmo. Uma estranha sensação.
Agora volta tudo ao quartel de Abrantes, como dantes. Talvez tenham se contentado com as renúncias de ACM e José Roberto Arruda, tal qual se contentaram com os desfechos dos episódios de Collor e dos Anões do Orçamento. Do primeiro se espera até hoje os nomes dos corruptores e do segundo um orçamento da União que não seja manipulado por interesses escusos.
Estamos acordando, mais uma vez, do sonho de ver finalmente o Brasil passado a limpo, como cobra quase diariamente o jornalista Boris Casoy. Os textos de jornais, revistas e noticiários de rádio e TV demonstram que tudo voltou a ser como era antes de 2000.
Sinal vermelho
O caso do senador Jader Barbalho aos poucos vai se esvaindo do noticiário. Por pressão de ACM ainda consegue pequena sobrevida. Basta ver o artigo de Eliane Cantanhêde, na Folha, edição de 9 de setembro, escrito após encontro, em Salvador, no apartamento da Graça, com o ex-senador durante as comemorações do seu septuagésimo quarto ano de existência terrestre.
Os indícios de lavagem de dinheiro em Genebra e Jersey de Paulo Maluf não mereceram uma linha sequer nas últimas edições de Veja e Época, apenas uma burocrática matéria de IstoÉ e uma cobertura bem comportada da Folha, ao ponto de o jornal aceitar imposições do dono da Eucatex em recente entrevista publicada.
Outros indícios de escândalo, como o capixaba, o potiguar, o do aeroporto de Salvador, o nepotismo na prefeitura de Salvador, o lixo de São Paulo, a estrada fantasma do Maranhão, a malversação de recursos do Fundef, as casas de Sepetiba, as quentinhas do Rio de Janeiro, a compra de votos do Mão Santa, as propinas da Sudam e da Sudene, enfim um rosário de suspeitas, que poderiam e deveriam ser exaustivamente apuradas pela imprensa, ao contrário estão sendo tratadas de forma pífia, relegadas a segundo plano.
A percepção nos indica que a imprensa vinha em alta velocidade e na perspectiva de avançar o semáforo, o sinal ou a sinaleira, mas brecou o carro por iniciativa do patronato: estava na iminência de cair em uma grande fossa asséptica e trazer à tona a podridão que passeia diariamente pelas ruas e avenidas do poder público e da qual seus capos se locupletaram em passado recente.
(*) Jornalista