Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma fraude de publicidade

Edição de Marinilda Carvalho

Alfredo Leão (*)

 

Vendem ao mundo uma Maceió, uma Alagoas, de Terezas Collor, linda, bela, sensual, limpa, bem torneada e gostosíssima. Mentira. Logro. Passível de processo no Conar, Conselho Nacional de Auto-regulamentação (que controla os exageros nas propagandas em território nacional). A minha terra natal está coalhada de corruptos, gente mal- educada, pobres e miseráveis perambulando a esmo, insetos – principalmente mosquitos – que invadem bocas e narinas nos horários de pico, rush de pernilongos, esgotos a céu aberto e, na orla, poluindo o lindo mar que banha esta capital, imagem de desmantelo, desmandos e irresponsabilidades.

A cultura local é, ainda, a da vantagem em tudo. O taxista tenta rodar um pouco mais, aumentando o trajeto, para salvar as horas e mais horas paradas ou “batendo lata”, como se diz por aqui. O vizinho joga dejetos no seu quintal, você reclama, ele quer assassiná-lo. O lixo, às escâncaras, nos terrenos baldios junta-se ao colocado nos devidos lugares para recolhimento três vezes por semana em determinados bairros, noutros nem isto, que são remexidos, vasculhados pelos transeuntes, alguns à procura de comida, outros apenas no intuito de sujar mais ainda a rua. Questionados, dizem: “Todo mundo suja mesmo.” E saem desfilando o rosário de imbecilidades, debilidades mentais.

Horário. Marquei com o diretor de redação de um jornal. 9h. Confirmado? Claro. Às 9h10 pedi para a secretária do indivíduo telefonar, acordei-o. Às 9h45 fui embora deixando um recado: não estou habituado a este tipo de desrespeito. Ele não entendeu. Natural. Entender civilidade, cidadania e educação para este povo, seja de qual classe social for, de qualquer categoria profissional, é, também como dizem por aqui, colocar um jumento à frente de uma igreja. Ameaças e agressões físicas, de todas as ordens, são tão corriqueiras que já não se registram queixas policiais – também porque a polícia é inoperante para os despossuídos. O preconceito racial, punido pela Constituição como crime inafiançável, é rotina. Empregadas domésticas e profissionais liberais quetais (manicure, massagista, babás…) são tratados como subespécie, sub-raça, subumano, maltratadas pelas patroas, aviltadas pelos patrões.

Os colegas, jornalistas, se pautam pela mediocridade, seguem à risca os “manuais de redação” impostos pelos proprietários dos veículos de comunicação, praticamente todos políticos, alguns têm testas-de-ferro.

Acompanhei, por exemplo, o comportamento da Gazeta de Alagoas, maior e mais respeitado jornal impresso local, durante os finalmentes da campanha política. Baixavam o malho na coligação da “esquerda” (eles pensam que são, por incrível que pareça!) e adjacências. Chegavam às raias da difamação diariamente. Denúncias e mais denúncias. De repente, repentinamente (ênfase é ênfase), passaram a falar bem. Motivo: os proprietários do jornal, candidatos vetados pela Justiça Eleitoral, aliaram-se à “esquerda”. Repito. Calma! Os Collor de Mello se juntaram ao próximo governador, Ronaldo Lessa, e o jornal passou a ser “de esquerda” desde criancinha. Pasmem!

Esse mesmo representante maior do Poder Executivo alagoano, logo após ser sagrado campeão das urnas este ano, sentou e amarrou acordos “políticos” com os mesmos deputados estaduais, até com federais, aos quais destinava adjetivos impublicáveis na campanha. A senadora eleita, parece-me com excelente caráter, bem articulada, não compareceu, honrou as tradições do PT de não se meter em conchavos que lesem a população. Palavra. O que se diz não foi dito.

É isto, uma barafunda. Outro diretor de redação, profético, afirmou: “Vou publicar este texto no sábado”. Que sábado que nada, ele não tem testículos, assim como os outros, para colocar o dedo na ferida, fazer a simples pergunta: por que manter esta miséria? A quem serve?

No resto, tudo bem. Os hospitais não funcionam, os médicos em greve. A universidade federal continua nas mãos de poucos à serventia do nada. Os transportes públicos são uma mixórdia. Falta energia freqüentemente. O calor, tão saudável, torna-se incômodo. As praias são depósitos de papéis, plásticos, latas e vidros quebrados. A vendedora do acarajé mais famoso da cidade lhe trata mal. As ruas não têm placas. Os restaurantes levam horas para servir, e mal. A higiene é proporcional à ignorância. O resto, bem, o resto ainda tem um única salvação: a telefonia.

A Telasa é uma empresa que presta bons serviços. Em um dia o telefone foi instalado, com atendimento Primeiro Mundo. Exagerado, pensei, invocando o rock dos anos 80. Não é não. Fatos, infelizmente, inquestionáveis. É só vir pra cá. E fala-se o tempo todo em turismo como maior fonte de renda próxima e futura. Caio na gargalhada ao lembrar de como somos tratados em países civilizados. Na verdade deveria chorar os prantos dos prantos, por todos aqueles que se lhes impõem a miséria, o analfabetismo, a fome, como forma de manutenção do status quo vigente.

(*) Jornalista, autor de Justiça: Realidade ou Utopia?, LTr Editora.


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