FÓRUM DE JORNALISMO
Descrito pelo professor Octavio Ianni e idealizado pela globalização neoliberal, o "Príncipe Eletrônico" desvirtua e descaracteriza a atividade jornalística. Ela deixa de ser um olhar possível sobre a realidade e passa a trabalhar com realidades pré-estabelecidas, estereotipadas e ideologizadas, que fragmentam e desconstróem o mundo e seus significados, as sociedades, os sentimentos e as interpretações, procurando ainda impor, de maneira autoritária, uma única verdade possível.
Remando contra a maré, e com a consciência dos problemas e dificuldades aqui envolvidos, é preciso resgatar os valores e os princípios que sempre foram a razão de ser e a identidade de todo o jornalista. É preciso reapropriar-se de nossa profissão. É preciso, sobretudo, resgatar o aspecto humanista daquilo que fazemos ? seu caráter ético e questionador, sua responsabilidade social, sua indignação, seus laços com a verdade e a cidadania, a preocupação com os direitos humanos e as minorias e marginalizados, sua criatividade a autenticidade. É preciso ainda recuperar o espírito do jornalista-autor, idealizando e consolidando outras linguagens, conteúdos e formatos, plurais, diversos e democráticos, capazes de se aproximar e de dialogar com os diferentes segmentos da sociedade e com os mais distintos públicos-leitores.
Esse é um desafio coletivo ? e também de cada um de nós, em tarefas individuais, em batalhas que se travam tanto no cotidiano da resistência das grandes redações quanto nos veículos da mídia alternativa e independente. Trata-se, no limite, de reafirmar, a todo instante, uma postura crítica diante do mundo, dos fatos e das pressões instaladas, que questione desde a escolha das pautas, das fontes e dos enfoques até a redação e edição finais ? e que faça desse exercício o seu compromisso com o bem-estar público e com a democratização da informação.
É preciso que, a cada pauta realizada e cumprida, o olho brilhe e o coração bata mais forte. É preciso paixão, a cada e a todo momento. É preciso que o jornalismo seja, para cada um de nós, uma atividade lúdica. Somos, mais do que nunca, historiadores do presente.
O espaço para a formação desse "velho-novo" jornalista é, por excelência, a Universidade, palco de debates, de trocas, de encontros e desencontros, de crises, experimentações e de erros. Ela deve, assim, canalizar e articular essas expectativas, demandas e ansiedades, assumindo, de maneira firme e inequívoca, a perspectiva de formação crítica e reflexiva, desde o primeiro ano do curso. É função dela estimular e incentivar o mergulho de pensamento, a articulação e o debate de idéias.
Partindo dessas colocações, e sempre com o foco voltado para os princípios e valores aqui elencados, o grupo apresenta seis propostas de atuação concreta:
** Constituir um Grupo de Trabalho para estudar e realizar contatos com entidades da área educacional com o objetivo de desenvolvimento de um programa de formação crítica para a comunicação, especialmente junto aos alunos dos ensinos fundamental e médio.
** Criar um Grupo de Discussão na internet, específico sobre a questão dos valores e princípios da prática jornalística, e buscar também o intercâmbio, articulação e integração com os outros grupos de crítica da mídia.
** Fazer com que os órgãos laboratoriais dos diversos cursos sejam o reflexo e representação fiel desse jornalista crítico e de seu repertório de linguagens, recusando os modelos e camisas-de-força. Deseja-se, além disso, estreitar os laços de contato que estão se formando entre as diversas Universidades, na tentativa de viabilizar algum veículo que possa ser interinstitucional.
** Viabilizar outros espaços de discussão para o amadurecimento dessa perspectiva de gênese de um jornalismo crítico, a partir de experiências e situações concretas e factíveis, de matérias e reportagens que possam ser debatidas, criticadas, incorporando sugestões e contribuições.
** Garantir, no próximo Fórum dos Cursos de Jornalismo ou em alguma de suas próximas atividades, um espaço para a apresentação de trabalhos práticos e de reportagens desenvolvidos pelos participantes.
** Levar as discussões feitas no grupo para as diversas Universidades e cursos.