Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Visão equivocada sobre Foz do Iguaçu

TRÍPLICE FRONTEIRA

Márcio Fernandes (*)

A respeito do artigo "Uma região sob o cerco da mídia", de Mário Augusto Jakobskind, publicado neste Observatório [remissão abaixo], cabem algumas considerações. Jakobskind sustentou o texto com propriedade, mas com a propriedade de quem desconhece a região ou, no máximo, por lá passou para conhecer somente as atrações turísticas básicas da Tríplice Fronteira ? Brasil, Paraguai e Argentina.

Vejamos: o texto critica a revista Veja por ter veiculado recentemente matéria na qual afirmava que Osama bin Laden esteve em Foz do Iguaçu em 1995, e pergunta por que apenas agora, oito anos depois da suposta passagem do terrorista pelo lugar, a Veja divulga a história. Certamente os editores da Veja têm melhores respostas a dar. Mas argumentar que a demora se deu por obscuros interesses políticos e econômicos de governos é uma visão parca. Entre outras razões deve estar o fato de que, até setembro de 2001, bin Laden não era o terrorista-mor do planeta e, aos olhos do leitor da Veja, ele seria necessariamente personagem central do cenário internacional.

Graça com a platéia

Mais adiante, o jornalista pondera que as recentes notícias vinculando a região ao terrorismo internacional causaram "sérios prejuízos" à economia de Foz do Iguaçu. Mais parco ainda. Jakobskind diz que, por conta disso, o fluxo de turistas caiu de 1,2 milhão para os atuais 600 mil. Há anos que o número de visitantes de Foz vem decaindo, e entre numerosos motivos está a incrível incapacidade das autoridades da região em se unir e vender melhor a imagem da Tríplice Fronteira mundo afora. O Iguassu Convention & Visitors Bureau, por exemplo, é um fiasco, envolvido em suspeitas de irregularidades administrativas. Não bastasse isso, os índices de criminalidade de Foz (quase um assassinato por dia) e o cenário surrealista do vizinho Paraguai contribuem para tal quadro decadente.

Em Foz, o máximo que o trade turístico (privado ou público) consegue é vender pacotes que incluem diárias de hotel, cataratas brasileiras, cassino e compras no Paraguai, deixando de lado, por exemplo, as impressionantes cataratas argentinas, as minas de pedras de Wanda, os templos religiosos e o Museu Bertoni. Niagara Falls, que nem de longe tem a beleza de Foz do Iguaçu, vende-se infinitamente melhor, a exemplo de Miami, cujas praias ficam devendo bastante às do Nordeste verde-amarelo.

Por fim, Jakobskind aproveita seu texto para divulgar o 1? Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu, como se fosse o evento a redenção da região. Tendo Ziraldo à frente, com certeza o Festival será um sucesso, e deverá contribuir para noticiar positivamente Foz em vários países. Mas daí a dizer que o encontro (previsto para dezembro) é uma tábua de salvação soa como evidente exagero e desinformação. Parafraseando Roberto Pompeu de Toledo (colunista da Veja), quando não se sabe como resolver um problema brinca-se com ele, fazendo graça à platéia. Precisa dizer mais?

(*) Jornalista e professor universitário em Foz do Iguaçu, PR

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