Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>O grande confronto
>>As três questões do dia

O grande confronto


Está marcada para o dia 30, quinta-feira, aquela que a imprensa e os partidos políticos consideram como a batalha decisiva para a definição da eleição presidencial.


No debate organizado pela Rede Globo de televisão serão lançadas as últimas cartas dos candidatos de oposição para tentar reduzir a vantagem que dá à candidata do governo a perspectiva de vencer no primeiro turno.


Dos três principais jornais, tidos como de influência nacional, a Folha de S.Paulo é o que aposta mais explicitamente nessa possibilidade, em reportagem no seu caderno especial sobre as eleições 2010, nesta sexta-feira.


Segundo o diário paulista, os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff e José Serra, estão sendo preparados por seus assessores para o último debate considerando que ele pode acontecer num cenário de indefinição, caso a candidata do governo perca alguns pontos durante os próximos dias.


Interessante notar que o Globo, que teoricamente deveria ter mais interesse em chamar a atenção para o debate na emissora do grupo, ainda não produziu uma grande reportagem sobre o evento, previsto por alguns analistas como um momento crucial da disputa.


Juntamente com o Estado de S.Paulo, o Globo tem preferido investir na exploração dos escândalos envolvendo familiares da ex-ministra Erenice Guerra e o filho do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, Cláudio Martins.


Observe-se que apenas um jornal, o Brasil Econômico, procurou o filho do ministro para ouvir sua versão dos fatos e publicou um desmentido dele à denúncia de que teria atuado para favorecer uma empresa de tecnologia no processo de criação da Empresa Brasileira de Comunicação.


Mas, como se sabe, em tempos de disputa eleitoral valem mais as versões gritadas pela mídia do que os fatos.


Os fatos ficam para depois das eleições, para a lenta rotina dos procedimentos judiciais.


No entanto, os candidatos em disputa estocam esse noticiário como armas letais.


Para a candidata do governo, servem para demonstrar que a imprensa é tendenciosa.


Para os candidatos oposicionistas, representam munição poderosa para desestabilizar a adversária no último debate, a três dias da eleição.


Por trás das câmeras, toda a cúpula da TV Globo deverá estar a postos na próxima quinta-feira para bem conduzir a edição do espetáculo e dos telejornais que virão a seguir.


As três questões do dia


Alberto Dines:


– A mídia impressa assumiu o papel de oposição? As denúncias da mídia impressa são infundadas? O governo federal ameaça a democracia? Estas três questões hoje comandam a disputa eleitoral e estão mais presentes no debate político do que na atuação dos candidatos. É uma perigosa distorção que poderá deixar marcas indeléveis em nosso processo político porque essas questões não estão sendo formuladas com a intenção de desarmar os espíritos, ao contrário, só aparecem para exacerbar os ânimos.


Resposta à primeira questão: a mídia impressa assumiu, sim, o papel de oposição, o que não é  correto, mas a mídia impressa está reagindo  a uma fortíssima e indevida intervenção do chefe do Executivo, o presidente Lula, em favor de seus candidatos. O presidente Lula joga pesado quando esquece que é presidente de todos os brasileiros e  a mídia está reagindo da mesma maneira, jogando pesado e pisoteando seus compromissos com o equilíbrio jornalístico.


Resposta à pergunta dois: as denúncias da mídia impressa não são infundadas, são geralmente consistentes, tanto assim que o governo reage com uma inédita rapidez para punir e apurar as malfeitorias. Porém, a formulação das denúncias desrespeita  todos os postulados do jornalismo valorizando suposições, ilações e inferências.


Resposta à pergunta três: a retórica de palanque utilizada pelo presidente Lula constitui uma ameaça à democracia ou à liberdade de expressão? Esta retórica enfezada é imprópria, não há duvidas, mas quando o governo esperneia mas demite quem prevaricou está apenas disfarçando o seu desconforto. Se a imprensa não consegue perceber nem valorizar estas sutilezas só lhe resta apelar para a radicalização.