Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Violência contra a mulher
>>Fugindo da raia

Violência contra a mulher


Nesta sexta-feira, 9 de julho, faz exatamente um mês que a jovem Eliza Samudio foi, segundo a polícia, barbaramente espancada e morta por ordem do goleiro do Flamengo Bruno Fernandes.


A descrição das torturas, feita por duas testemunhas, deixou transtornado até mesmo um experiente delegado que acompanha o inquérito.


Das páginas dos jornais emerge o atleta com um perfil monstruoso, um jovem cujos pais têm passagens pela polícia e que parece capaz de matar o próprio filho.


O assunto virou obsessão da imprensa e nos últimos dias as emissoras de televisão acompanham freneticamente a movimentação dos acusados e da polícia.


Desde o caso da morte da menina Isabella, encerrado há três meses com a condenação do casal Nardoni, não se via tanta movimentação de jornalistas em torno de uma história policial.


As revistas semanais já haviam estampado em suas capas, nas edições do dia 7 deste mês, a história do desaparecimento de Eliza Samudio, mas apenas na quarta-feira a imprensa teve acesso aos detalhes escabrosos do crime.


Ao se encerrar a semana, a polícia não tem mais dúvidas e a imprensa já crava seu veredicto.


No entanto, falta um detalhe ao noticiário.


Esse detalhe foi levantado pela repórter Eleonora Paschoal, no Jornal da Band, da Rede Bandeirantes de Televisão, na quinta-feira, dia 8 de julho [ver a reportagem].


Trata-se da questão da violência contra a mulher, tema central do caso Bruno Fernandes, assunto que a imprensa costuma contornar.


A repórter da Band relatou casos de agressões que eram crônicas de morte anunciada, e que no entanto não geraram a atenção necessária da mídia e das autoridades para evitar o desfecho trágico.


Citou, evidentemente, o assassinato da jornalista Sandra Gomide, cujo autor, Antonio Pimenta Neves, segue impune.


Nesta sexta, o Globo reproduz declarações das candidatas à Presidência da República Dilma Rousseff e Marina Silva, lamentando mais um caso de violência contra a mulher, mas não aparece uma linha de iniciativa dos jornais propondo uma análise dessa perversidade social que ainda envergonha o Brasil.


Fugindo da raia


Alberto Dines:


– O presidente Lula foi duro com Ricardo Teixeira, o dono do futebol brasileiro. Mas os jornalões não tiveram a coragem de destacar o pito do mais futebolista dos presidentes brasileiros no super-cartola responsável pela  manutenção de Dunga no comando da seleção. Nesta que será a sua última tournée africana, quando ainda estava no Quênia o presidente lamentou o desastre brasileiro perante a Holanda e tentou aliviar as culpas do selecionador.


Na etapa seguinte, Tanzânia, o peladeiro Lula foi mais afirmativo, esqueceu o futebol e foi em cima da política do futebol. Disse que não podia intrometer-se numa entidade privada como a CBF e acabou intrometendo-se ostensivamente ao afirmar que a direção da CBF deveria ser trocada a cada oito anos, tal como acontecia no Sindicato dos Metalúrgicos em S. Bernardo quando foi o seu presidente e líder inconteste.


Esta inédita intervenção não mereceria um destaque na capa dos jornais? Claro que merecia, mas foi enfurnada nos cadernos da Copa, atulhados de matérias sobre o embate Holanda-Uruguai. No dia seguinte, nem sombra do que Lula afirmou, como se nada tivesse acontecido e o poderoso Ricardo Teixeira não tivesse sido sutilmente convidado a deixar o comando da CBF depois de 21 longos anos no cargo.


Teria havido uma gestão palaciana para que os jornais não destacassem a declaração, ou  o abafamento foi iniciativa dos próprios jornalões? Em qualquer hipótese, fica evidente o “vacilão” da grande imprensa que não se atreve a encarar o poderoso chefão do futebol. Se depois do vexame de 2006 apenas um dos grandes jornais tivesse iniciado uma cruzada pela renovação da CBF nosso país não estaria hoje amargando tamanha desmoralização. Para garantir a Copa no Brasil em 2014, preservou-se Ricardo Teixeira na CBF. A mídia enfrentou Dunga mas não enfrenta quem vai contratar outros Dungas nos próximos quadriênios.