Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O futuro da velha imprensa

A segunda versão do estudo ‘Tendências das Redações’, que acaba de ser anunciada pela Associação Mundial de Jornais, não traz boas notícias para a mídia tradicional, que o relatório deste ano chama de ‘velha mídia’. O estudo, produzido pelo Fórum Mundial de Editores, é centrado na imprensa norte-americana mas, como trata de tendências, inevitável pensar no chamado ‘efeito Orloff’: a crise da imprensa americana de hoje é nossa crise de amanhã.

‘As redações enfrentam uma crise de credibilidade sem precedentes na história da imprensa americana’, diz a conclusão do estudo. As principais razões seriam os numerosos casos de plágio, histórias inventadas e reportagens pobres. Além disso, os leitores vêem uma contradição entre a cultura corporative e as grandes margens de lucro dos jornais americanos e seu papel como provedores de serviço comunitário. A maioria dos consultados também acredita que as empresas jornalísticas misturam seus interesses aos das corporações e governos que deveriam fiscalizar.

Quanto aos jornalistas, uma das maiores queixas é de que não conseguem cumprir bem suas tarefas por causa dos cortes nas redações e nos orçamentos, que provocam queda de qualidade dos jornais e perda de leitores.

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Especialistas ouvidos pelos organizadores do estudo pintam cenários diferentes a partir da pesquisa. Philip Meyer, aposentado após respeitável carreira no grupo Knight Ridder, acha que as novas tecnologias ameaçam o modelo econômico que sustenta a mídia impressa, mas a imprensa tradicional vai sobreviver em novos modelos de negócio. ‘Não serão tão rentáveis como no velho modelo, mas vão sobreviver em novos nichos’, aposta Meyer.

Roy Greenslade, professor de Jornalismo na City University de Londres e ex-editor do Daily Mirror, também não acredita na morte da mídia tradicional, mas acha que haverá menos jornais e os sobreviventes terão que sofrer novas adaptações.

A tendência predominante, segundo as conclusões do estudo, não indica que o público esteja dando menos importância a notícias, mas aponta uma crescente negação a pagar por notícias. Esse é o grande risco para a ‘velha imprensa’, que perde de um lado para a internet, que ganha diariamente novos protagonistas, e de outro sofre a concorrência dos jornais gratuitos.

No frigir dos ovos, a grande ameaça aos grandes jornais nasce mesmo de sua pouca flexibilidade e baixa capacidade para rever seus conceitos.

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Jornalista