Saturday, 14 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Prata da casa

Quem vê Sergio Chapelin narrando aventuras no Globo Repórter, que completa 40 anos no ar hoje, nem imagina que sua voz já foi emprestada para missões pouco empolgantes. “Fiz muitos trabalhos fora da TV. Já inaugurei piscina de clube, abri baile de debutante e até aula magna eu já gravei, porque a pessoa que ia apresentar achava que não tinha a voz adequada. São 55 anos lendo textos”, conta o apresentador, que esteve à frente da primeira edição do jornalístico.

Aos 71 anos, Chapelin ainda sai do estúdio para gravar. “Eventualmente, me convocam. Faço algo como uma pseudorreportagem. Se me chamam, eu não recuso. Eles (produção) são muito camaradas, não me exigem muito. Nesta minha fase da vida eu estou pisando no freio”, confessa ele, que costuma dar expediente duas vezes por semana. “Queria gravar um dia só, mas minha chefe não deixa. Ela está sempre inventando coisas”, disse em conversa com o Estado.

Entre idas e vindas no Globo Repórter desde os anos 1970 – ele já comandou o Jornal Nacional e o Fantástico –, o apresentador está direto no programa desde 1996 e avalia que a atração passou por muitas mudanças desde a estreia. “Por uma questão política, tínhamos temas mais fortes, uma característica de documentário cinematográfico. Depois, foi se transformando em programa de notícias. Hoje, há preocupação com o factual. Não podemos nos meter em discussões filosóficas ou políticas. Mas é um programa útil. Os de entretenimento e aventura as pessoas amam”, analisa ele, que mantém contato com o público nas ruas.

“Como sou um cara de antigamente, não me preocupo com internet, Twitter. Se entro numa loja, me dizem que gostaram do programa”, conta Chapelin, constantemente abordado por fãs que pedem para ele falar ao telefone com amigos e parentes. “Eu pago um mico danado. É constrangedor, mas não posso dizer não, tenho de ser simpático. É o ônus por ter a cara na TV por tanto tempo. Só não gravo (recado) de caixa postal. Não fiz nem quando quiseram me pagar. E tive proposta boa. É um horror quando a gente ouve a caixa postal. Você quer xingar a mãe do cidadão. E quero deixar a minha mãezinha sossegada”, brinca.

Passado e futuro

Apesar da voz característica, Sergio Chapelin afirma não ter voz de locutor. “Quando adolescente, queria ser locutor e vi um anúncio que dizia 'precisa-se de locutor que não fale como um'. Não tenho voz de locutor, mas desenvolvi uma técnica de falar”, defende ele, que trabalhou no rádio antes de chegar à TV. O apresentador não dá muita atenção ao assunto. “Não tenho cuidado. Bebo gelado e não faço exercícios (vocais)”, disse.

Mesmo trabalhando ao lado de Cid Moreira em sua última temporada no Jornal Nacional, entre 1989 e 1996, ele jura que os dois não são amigos. “Nunca, nem durante nem depois que fomos colegas de bancada. No ambiente de trabalho nunca tive problema de relacionamento nem fiz amizades”, minimiza.

Entre as incursões fora do jornalismo, há uma participação na novela Espelho Mágico (1977), de Lauro César Muniz, da qual não se recorda. “Posso ter feito, mas não me lembro. Alguém devia mostrar isso para mim”, pede. Sergio Chapelin afirma ter “muitas histórias para contar”, entretanto, não sabe se gostaria de publicar suas memórias. “Tem muito livro bom aí. Seria apenas para atender ao restinho de vaidade que ainda tenho. Pode ser que entretenha o público um pouco. Eu tenho muito passado. Não sei se tenho futuro.”

******

João Fernando, do Estado de S.Paulo