Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Grande novidade

É como se tivesse virado regra: não precisa casar. Vive um tempo junto, para se ter re-al-men-te certeza do que se quer e, depois, casa. Todavia, se não der certo, separa. Mas, não apenas corporalmente. Divorciar-se, direitinho, com papel e tudo, está mais fácil. Agora, quem quer fazê-lo, só precisa desembolsar uns trocados – porque, de graça, nem injeção na testa – e dirigir-se a um cartório de notas. Lá, se encaminha tudo para que o casamento seja desfeito. Uma das únicas ressalvas é que não haja menores de idade envolvidos na tramitação. Porque somente cônjuges de fato responsáveis podem tomar uma decisão como essa.

Há duas semanas, o Jornal Hoje anunciou uma reportagem sobre o assunto. E, quando Sandra Annemberg deu a manchete, parecia até que era novidade. Mas, não. Divorciar-se não está mais fácil “agora”. Já era, desde 2007, quando saiu a lei que descomplica o processo para desfazer um casamento.

A matéria mostrada no telejornal teve como case uma moça que priorizou “ser feliz” e não pensou duas vezes para sair fora da relação matrimonial. Foi até um cartório e pronto: desfez os laços que outrora eram para sempre. As imagens mostravam uma mulher bem-resolvida. E uma criança pequena, provavelmente fruto da união que não deu certo.

“Agora, é tudo diferente”

Só alguns segundos depois é que ficou claro o que era, de verdade, tudo aquilo. Explicaram que a lei do divórcio rápido não é nada nova. O que sustenta que a notícia deveria ter sido sobre o aumento no número de divórcios do ano passado para este, conforme uma pesquisa divulgada há pouco. Essa, sim, que poderia ser considerada uma “novidade”, apareceu basicamente pincelada. Nem sei se alguém conseguiu entender do que se tratava. A abordagem foi tão confusa que, após o programa, quem procurou revê-la no site do JH, não a encontrou postada entre as matérias daquela edição. Talvez, a produção tenha se dado conta de que o chamariz deveria ter sido mais condizente com a real informação que seria passada. Antes tarde do que nunca.

Ah, e a menininha que apareceu enfatizando a ideia de que, na busca pela felicidade, os filhos são meros coadjuvantes, não era filha do primeiro casamento. Mas, do segundo, ocorrido dez anos depois, do qual a entrevistada diz não se arrepender. “Agora, é tudo diferente.” Fazemos votos que sim.

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Taís Brem é jornalista, Pelotas, RS