Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Fox ameaça migrar para canal pago

Há quem acredite que a internet vá matar a TV. Poucos projetam que as próprias emissoras de televisão determinem seu fim. Mas a News Corp, de Rupert Murdoch, disse no dia 8 que poderá encerrar os 26 anos da Fox como canal gratuito de TV se a Justiça dos Estados Unidos continuar a permitir que a empresa iniciante de internet Aereo retransmita sua onerosa programação.

A Aereo – respaldada por Barry Diller, presidente do conselho de administração da empresa de internet IAC – usa uma rede de antenas para captar o sinal gratuito da Fox e o revende. Se CBS, NBC Universal e ABC seguirem o exemplo da News Corp e suspenderem a transmissão gratuita, isso vai acelerar o fim do sistema de TV que perdura desde que CBS, NBC e ABC entraram no ar, nos anos 40.

“Temos de conseguir ser devidamente remunerados por nosso conteúdo”, disse o diretor operacional da News Corp, Chase Carey, em simpósio do setor. “Não podemos assistir de braços cruzados e permitir que roubem nosso sinal. Vamos mudar para um modelo por assinatura, se esse for o único recurso que nos restar.”

A CBS poderá também seguir a Fox rumo ao canal a cabo, disse seu principal executivo, Les Moonves. “Pode crer, os caras do cabo vão adorar ver a gente fazer isso”, disse ele à Bloomberg Businessweek. Representantes da ABC e da NBC preferiram não comentar. Mas a Univision Communications, a maior emissora americana em língua espanhola, também está falando grosso. “Temos que defender nosso produto e nossos fluxos de receita; portanto, nós também estamos examinando todas as nossas opções, inclusive a mudança para a TV paga”, disse Haim Saban, presidente do conselho de administração da emissora, em comunicado.

Concorrência acirrada

Com cerca de 100 milhões dos 114 milhões de lares americanos dotados de aparelhos de TV já tendo aderido à TV paga por cabo, satélite ou fibra óptica, segundo as empresas de pesquisa Nielsen e a SNL Kagan, essas declarações não podem ser minimizadas como ameaça vazia. “É um sinal de advertência para a Justiça, e talvez para o Congresso, de que as emissoras levam essa ameaça representada pela Aereo muito a sério”, disse Paul Gallant, diretor-executivo da corretora Guggenheim Securities.

A Aereo disse que a lei está do seu lado. “Quando as emissoras pediram ao Congresso uma licença gratuita para transmissão digital pelas ondas eletromagnéticas públicas”, disse a empresa em comunicado, “elas prometeram que fariam as transmissões no interesse e conveniência do público e que manteriam o sinal livre.”

A News Corp e a Aereo são extremos opostos no panorama em transição da TV. A News Corp paga bilhões por conteúdo de TV de sucesso, que vai desde os jogos da Liga Nacional de Futebol Americano até “Os Simpsons”. A Aereo não paga nada por esse conteúdo; capta as transmissões e as revende por US$ 8 ao mês para assinantes que usam seu serviço de gravação digital de vídeo para ver os programas em computadores ou smartphones.

A News Corp quer proteger as taxas que cobra das operadoras locais a cabo e por satélite que captam seu sinal, mesmo se isso significar a perda de telespectadores. Este ano, a Fox vai receber US$ 472 milhões nessas taxas, segundo previsão do analista Michael Morris, da Davenport.

As redes de transmissão de TV processaram a Aereo em março de 2012, sob acusação de terem infringido direitos reservados de reprodução. Após perderem a causa em uma decisão de instância inferior, um tribunal de recursos voltou a rejeitar os pedidos das emissoras de que a Aereo fosse fechada. Agora, a Aereo pode levar adiante a pretendida expansão nacional de seu serviço, disse Diller por e-mail. (A Bloomberg LP, controladora da Bloomberg Businessweek, mantém um acordo com a Aereo para transmitir on-line a TV Bloomberg por meio de seu serviço, mediante pagamento de uma taxa.)

Embora as quatro principais redes de TV ainda respondam por mais de 21% da audiência de TV em horário nobre – em relação aos 75% que dominavam na década de 50 –, elas enfrentam um campo muito mais densamente povoado, que abriga serviços de internet como o Netflix e a Amazon.com.

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Edmund Lee, Andy Fixmer e Alex Sherman, da Bloomberg Businessweek