Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O pior do Big Brother não é o Big Brother

Nestes últimos dias, a população brasileira está tendo a chance de assistir ao o que podemos chamar de ‘o melhor exemplo da falta de ética das TVs brasileiras’.

No programa Vídeo Show, da Rede Globo e no canal Multi Show da TV a cabo, podemos assistir a alguns vídeos enviados por pretendentes a ‘morador’ da casa do famigerado Big Brother Brasil.

Um misto de tristeza e solidariedade envolve o cidadão mais antenado com seu mundo e mais bem formado moralmente, quando esses canais exibem os vídeos de apresentação dessa gente simples e ignorante que pretende pertencer ao ‘seleto’ grupo de participantes do programa besteirol da Globo.

A emissora, certamente, fez essa gente assinar contratos que garantem a ela a total liberdade de expor para toda a população esses vídeos onde se vê gente de todo o lugar do país tentando mostrar seus ‘talentos’. Uns rebolam, outros tentam cantar, uns dão depoimentos sobre suas vidas e expectativas, enfim, tem de tudo.

Já faz algum tempo que as TVs nacionais iniciaram o investimento nesse tipo de programação bronca que desperta certamente a alegria da maioria das pessoas que não possuem qualquer visão ética e de respeito ao próximo. Tanto as pessoas que se expõem dessa forma, quanto as que assistem a esse tipo de programação, não fazem a menor idéia da maquiavélica ‘mensagem’ que está por detrás dessa programação.

Maldade e mau gosto

Sim, porque se a TV mostra o lado bronco, ignorante e fanho dessas existências – todos nós temos defeitos e ignorâncias – pode estar tentando, através disso, rebaixar a existência humana, humilhar, baixar o moral do cidadão e da cidadã que, ingenuamente, não percebe que essa é uma forma bastante antiga de dominação. Já desde a antiguidade muitos chefes de Estado sabiam que não basta apenas explorar o cidadão, é preciso acima de tudo humilhá-lo, rebaixá-lo, para que ele se sinta enormemente distante de sua verdadeira força e poder.

Realmente triste, esse espetáculo tosco que nos é oferecido. Lembra-nos muito propriamente o costume da classe abastada da Roma antiga, que colecionava pessoas e animais com problemas físicos de todos os tipos. Esses romanos possuíam em seus palácios verdadeiros ‘museus vivos’ repletos de gente e bichos. Alguns com três pernas, com rostos e corpos desconfigurados, com membros desproporcionais etc., para a diversão própria e de seus convivas.

Eu me solidarizo com essa gente simples que não consegue vislumbrar a dimensão perversa da utilização dessas imagens pela mídia nacional. Realmente, nossa TV está dando um show de maldade e mau gosto. Não se pode esperar mesmo muito das pessoas que fazem a televisão deste país.

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Lighting designer, Campinas, SP