Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Preocupação e desconfiança

O Brasil será o tema em foco desta semana na rede de TV americana CNN Internacional, que vai dedicar horas de sua grade a programas especiais produzidos recentemente no país. Fato inédito, o Brasil vai ser visto, pela ótica da CNN, por centenas de milhões de pessoas que recebem o sinal de transmissão dessa poderosa cadeia pioneira de TV por assinatura, criada pelo mogul midiático Ted Turner, em Atlanta, nos EUA, há não mais de 25 anos. Foi vendida no final dos noventa a um dos maiores conglomerados americanos de comunicação e entretenimento, Time Warner.

Principalmente, a partir das emocionadas, parciais e muitas vezes ambíguas coberturas do Onze de Setembro e da Guerra do Iraque, a CNN, ao tomar um determinado partido e posição, tem colocado sua credibilidade em xeque, deixando muitas vezes de exercer o indispensável jornalismo sério, investigativo e isento.

Filtro

A conceituada e antiga repórter da CNN Cristiane Amanpour, de abastada origem persa, que tem coberto dezenas de conflitos pelo mundo nos últimos 16 anos, desde o primeiro espetáculo de guerra transmitido ao vivo, via satélite, que foi a primeira Guerra do Golfo –em recente depoimento ao excelente programa Os iconoclastas, revelou ante os olhos estupefatos da atriz Renée Zellweger, que se sente profundamente culpada pela ausência da CNN no trágico conflito de Ruanda. Confessou que a rede tratou na ocasião com displicência e descaso da situação ruandense e que se a CNN não tivesse sido omissa, poderia ter ajudado a evitar o extermínio de 1 milhão de vidas. Isso é muito grave.

Por outro lado, vejo que entre as empresas brasileiras patrocinadoras dos especiais sobre nosso país está uma importante indústria de papel e celulose, e um dos temas candentes que serão tratados nos especiais é a questão da Amazônia, do meio ambiente.

Por tudo isso, a importante semana Brasil na CNN, ao mesmo tempo que me provoca sensação de orgulho e otimismo, causa também preocupação e desconfiança desse Brasil filtrado pelas lentes de uma transnacional de origem sueca, que será observado e analisado por tanta gente, principalmente nessa época de transição política e econômica em que o Brasil, como boa parte da América Latina, parece finalmente estar encontrando seu próprio rumo e identidade, com mais independência e autonomia, deixando de ser o Brasil que se curva mas ao qual se reverencia.

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