Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Reconstituição vira programa de domingo

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 28 de abril de 2008


CASO ISABELLA NARDONI
Folha de S. Paulo


TVs transmitem simulação durante todo o domingo


‘Alguns canais de televisão transmitiram a reprodução simulada do dia do homicídio de Isabella praticamente na íntegra, durante a manhã e a tarde do domingo. Porém dados preliminares do Ibope, que mede a audiência das TVs, indicam que a Rede Globo, que manteve a sua programação normal, ficou na liderança durante o horário.’


 


Valdo Cruz


Fora da ordem


‘BRASÍLIA – Seja qual for o desfecho do caso Isabella Nardoni, um ministro do Supremo Tribunal Federal diz que algo está fora da ordem legal no episódio que hipnotizou boa parte dos brasileiros.


Falando reservadamente, na semana de troca de comando no STF, esse ministro avalia que o caso foi se transformando num espetáculo, estimulado principalmente por quem devia evitá-lo, criando na população não um desejo de Justiça, mas uma sede de vingança.


O integrante do Supremo critica a atitude das autoridades policiais e do Ministério Público no caso. ‘Polícia e promotoria alimentaram o espetáculo, firmaram uma convicção e divulgaram desde o início dados para comprovar sua tese.’


O ministro sintetiza seu sentimento com a seguinte frase: ‘Parece que decidiram massacrar a monstruosidade com outra monstruosidade. Pior, aqueles que deveriam zelar pelo Estado de Direito incentivaram o sentimento de Justiça com as próprias mãos’.


Na sua avaliação, num inquérito correndo sob segredo de Justiça, delegados e promotor deveriam evitar o vazamento de informações a conta-gotas, como ocorreu. Tinham a obrigação de aguardar o final das investigações para só então divulgar suas conclusões.


O ministro acredita que as autoridades policiais e o promotor usaram a imprensa como um motivador de comportamento. Sucumbiram ao apelo midiático, encarnaram a figura do justiceiro e fizeram essa imagem ganhar mundo. Faz bem para o ego de alguns, mas pode destruir a vida de inocentes.


Talvez não seja o caso do pai e da madrasta de Isabella Nardoni, mas, pelo nosso Estado de Direito, eles ainda não foram condenados. O risco é deixarmos casos como este, de forte apelo emocional, serem usados para justificar o atropelo das leis vigentes. Se hoje me sinto nesse direito, amanhã posso ser vítima de igual sentimento. Nosso passado está repleto de cenas semelhantes. O final nunca é o melhor.’


 


Alba Zaluar


Família brasileira?


‘UM EVENTO inusitado e chocante causa horror e comoção pelo país afora, ajudado pela rapidez e pelo fascínio do espetáculo televisivo. O horror significa repulsa, nojo, aversão, repugnância, medo, pavor à atrocidade ou crueldade cometida contra uma pessoa inocente e indefesa. O alvo do horror é patente: os que deveriam proteger a menina e violaram esta expectativa.


Tentar explicar o ato insano e cruel como efeito de uma suposta família brasileira é negar esta reação de repulsa quase que geral. Nega-se o consensual para fazer do excepcional a guia do entendimento da nossa ‘cultura’. Mas quantas são as culturas brasileiras? Quantas são as famílias brasileiras?


Não resta dúvida de que as transformações recentes nas relações familiares criaram novas tensões, mas a família tradicional, que alguns insistem em chamar de patriarcal, também foi marcada pelos conflitos. Mesmo assim, até nesta a capacidade de incluir os filhos ilegítimos e os agregados esteve fortemente presente. Não faltam exemplos.


Bastardo nunca foi um palavrão ofensivo no Brasil, como é até hoje na língua inglesa. A figura da madrasta má chegou até aqui pelas histórias infantis européias e continua chegando pelos desenhos de Walt Disney, diretamente dos Estados Unidos da América. E basta lembrar os conflitos recentes da família real inglesa, no país que inventou a democracia parlamentar, para rechaçar a interpretação de que, aqui, não se aceitam os filhos de outros casamentos.


Um dos piores vícios do culturalismo é, pela comparação com outras sociedades tomadas como a realização do igualitarismo, incutir o desalento quanto às possibilidades de que possamos mudar a sociedade desigual e, em alguns locais e circuitos, anacrônica. Entretanto, dos gritos da turba ouve-se, entre os clamores incivilizados, o que pede a igualdade: o urro de justiça também significa justiça igual para todos, pobres e ricos. Que os ricos sejam julgados e presos.


Amém.


Entretanto, há o que aprender na comparação com os países que aprimoraram suas instituições estatais. O que essa investigação, mais que pública, espetacular, nos demonstra é que há graves falhas na lei de processo penal brasileira.


Por que os acusados podem mentir para salvar sua pele e não são processados também por perjúrio, como em outros sistemas de justiça?


Por que os que obstruem a Justiça não são igualmente processados, mas se apresentam como se estivessem exercendo seus direitos de camuflar evidências para que os seus familiares, com dinheiro para contratar bons advogados, não sejam condenados?’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


A encenação


‘O ‘Jornal Nacional’ deu sábado a manchete ‘Quase tudo pronto para a encenação do crime’. Dia seguinte e, apesar das entradas ao vivo de Globo, Band, com locução e comentaristas, sobrou para a Record a transmissão contínua -com âncora, repórteres e analistas diante do prédio e até Badan Palhares no estúdio. Foi a rede que entrou com a boneca, na imagem que ocuparia as demais, inclusive o intervalo do futebol na Globo, e também os portais todos. E foi encenação de alto custo, US$ 2,5 mil só pela boneca, para a gravação não apenas das redes, dos canais de notícias e dos vídeos de internet, mas da própria polícia, com várias câmeras, para apresentar no teatro da Justiça.


OUTRO LADO


O caso Isabella não ecoa no exterior. Ontem o destaque de Google News e Yahoo News era outro corpo, diante de outras crianças, estendido no Recife que é ‘popular junto aos turistas’, mas ‘mortal para seus moradores’


‘EXISTE SOLUÇÃO: O BRASIL’


O ‘Financial Times’ deu dossiê sobre a ‘agonia’ de EUA e Europa diante dos biocombustíveis. Citou a oposição dos governos britânico e francês e a persistência de EUA e Alemanha. Destacou que as montadoras, como a GM, mostram ‘alarme e irritação’ crescentes.


O editor de energia, Ed Crooks, foi direto, ‘existe uma solução: EUA e Europa podem se abrir para mais etanol de cana do Brasil’. O correspondente Jonathan Wheatley foi além, ontem, e defendeu não apenas o etanol, mas o Brasil como ‘cesta de alimentos do mundo’.


NOVA ORDEM


Ecoou a entrevista da Strategic Forecasting, ‘a CIA paralela’, dias atrás à Bloomberg, sobre o impacto dos campos de Tupi e Carioca na política externa dos EUA para o Oriente Médio. O site Investor’s Business Daily deu no editorial ‘New World Order’ que agora ‘o interesse estratégico dos EUA muda para o nosso hemisfério’. Mais precisamente, para o Brasil.


ADEUS, ORIENTE?


Outros sites nos EUA, na Índia e no próprio Oriente Médio ecoaram a Stratfor, com variações da pergunta ‘os investimentos vão agora para o Brasil, deixando o Oriente Médio’? Ou: a Arábia Saudita vai deixar de ser ‘capital do petróleo’ global?


Ao fundo, por aqui, registros das operações navais de Brasil e EUA, este com aparato nuclear, pela costa.


‘SOAP OPERA’


O ‘Wall Street Journal’ deu em longa reportagem, no sábado, a compra da BrT pela Oi. Mas foi no blog Deal Journal que relatou em detalhes a ‘telenovela’, uma ‘saga envolvendo escutas telefônicas, buscas policiais, acusações de lavagem de dinheiro e acordos secretos’.’


 


EDGAR MORIN
Samy Adghirni


Mal-estar de Maio de 68 é ainda mais profundo hoje


‘O FRANCÊS Edgar Morin é um dos últimos grandes pensadores vivos. Filósofo, historiador e sociólogo, aos 87 anos se empolga ao falar dos movimentos estudantis atuais e diz que uma das maiores conquistas de Maio de 68 foi a afirmação da adolescência como entidade social autônoma. Mas o intelectual acredita que a crise moral que provocou o levante de 40 anos atrás é hoje muito mais grave porque o mundo, segundo ele, perdeu totalmente a crença num futuro melhor.


Edgar Morin passou boa parte de sua trajetória intelectual defendendo a transdisciplinaridade, a idéia segundo a qual as ciências são complementares e o conhecimento só é válido quando colocado sob a luz da abrangência.


Convidado a abrir a segunda edição do ciclo de palestras ‘Fronteiras do Pensamento Braskem-Copesul’, em Porto Alegre, Morin avisou que o tema de sua intervenção seria ‘1968-2008: o mundo que eu vi e vivi’. Foi uma oportuna maneira de analisar os rumos da humanidade às vésperas do 40º aniversário da revolta francesa de Maio de 1968, o evento estudantil e operário que ultrapassou fronteiras, disseminando os valores que até hoje norteiam boa parte da modernidade ocidental. Horas antes da palestra, no último dia 14, Morin conversou por 40 minutos com a Folha no saguão de um luxuoso hotel da capital gaúcha. Os gestos frágeis e a voz definhante não condizem com o discurso vibrante e apaixonadamente engajado de um homem que dedicou a vida ao entendimento humano. Eis os principais trechos da entrevista.


FOLHA – Quarenta anos depois, o que ficou dos acontecimentos de Maio de 68?


EDGAR MORIN – 1968 foi, antes de mais nada, um ano de revolta estudantil e juvenil, numa onda que atingiu países de naturezas sociais e estruturas tão diferentes como Egito, EUA, Polônia… O denominador comum é uma revolta contra a autoridade do Estado e da família. A figura do pai de família perdeu importância, dando início a uma era de maior liberdade na relação entre pais e filhos.


A revolta teve um caráter mais marcante nos países ocidentais desenvolvidos. Teóricos achavam que vivíamos numa sociedade que resolveria os problemas humanos mais fundamentais. E, de repente, percebeu-se que havia uma insatisfação na parte mais privilegiada dessa sociedade, que é a juventude estudante. Jovens de classes privilegiadas que desfrutavam de bens materiais preferiram buscar uma vida comunitária, num sinal de que o consumismo da sociedade ocidental não resolvia os problemas e aspirações humanas. Muitos desses jovens trocaram a cidade pela vida com as cabras, em busca de felicidade. Esses grupos não duraram, porque não conseguiram resolver os problemas e conflitos -só perduram comunidades que têm o cimento religioso.


Mas o importante é que houve um processo de auto-afirmação da adolescência como entidade social e cultural. O rock, muito além da música, consiste em agrupamentos de jovens. É uma maneira de se vestir e se comportar. É a autonomização da adolescência, que se afirma por oposição ao mundo adulto dos professores e pais.


Depois disso, a poeira baixou e tudo pareceu voltar ao que era antes. Mas houve mudanças, sim. Foi depois de 68 que os homossexuais e as minorias étnicas se afirmaram e que o novo feminismo se desenvolveu. A imprensa feminina francesa pré-68 dizia: ‘sejam bonitas e façam uma boa comidinha para agradar aos seus maridinhos’.


Depois de 68, essa mesma imprensa passou outro recado: ‘vocês estão ficando velhas, seus filhos foram embora e seus maridos as traem, então resistam’. Foi uma verdadeira crise da idéia de felicidade, que é a grande mitologia da sociedade ocidental.


FOLHA – Um levante semelhante seria possível hoje em dia?


MORIN – Fatos históricos dificilmente se repetem, mas eu me pergunto se a comemoração de Maio de 68 não vai estimular jovens a seguirem o mesmo caminho. Na França, houve recentemente uma pseudo-reforma do ensino que despertou mais uma vez movimentos estudantis consideráveis. Claro, não tem nada a ver com Maio de 68, mas é alguma coisa.


Hoje em dia, movimentos estudantis se generalizam rapidamente e prosseguem mesmo quando o governo satisfaz os seus pedidos. É a alegria de estar juntos na rua, de desafiar os professores e a polícia. Até quando as reivindicações são ridículas, o fenômeno é importante, pois permite ao jovem tornar-se cidadão, escapando assim da crescente tendência ao apolitismo.


FOLHA – Mas o mal-estar que causou Maio de 68 permanece…


MORIN – Não só permanece, como agravou-se. Onde há vida urbana e desenvolvimento, há estresse e ritmos de trabalho desumanos. A poluição causa males terríveis, e nossa civilização é incapaz de impedir a criação de ilhas de miséria. Mas o que piorou mesmo foi o fato de termos perdido a fé no progresso. O mundo ocidental dava como certa a idéia de que o amanhã seria radioso. Mas, nos anos 90, percebeu-se que a ciência trazia também coisas como armas de destruição em massa e que a economia estava desregulada, enterrando de vez a promessa de que as crises haviam deixado de existir.


O sentimento de precariedade é agravado pelo fato de os pais não saberem se seus filhos terão um emprego. Tampouco há esperança vinda da esfera política. Os políticos hoje se contentam em pegar carona no crescimento econômico. Não bastasse a ilusão de que esse crescimento da economia resolveria os problemas, eis que agora impera a estagnação. O mal-estar está mais profundo, inclusive nas classes que têm acesso ao consumo. E quando não há mais futuro, a gente se agarra a um presente desprovido de sentido ou ao passado -nação e religião.


FOLHA – O senhor acredita no choque das civilizações?


MORIN – Parece cada vez mais grave a confrontação entre os mundos árabe-islâmico e ocidental. Mas isso não é um choque de civilizações, até porque boa parte do mundo muçulmano está amplamente ocidentalizada. O problema é que os países árabe-islâmicos estão tomados por um desespero ligado ao fracasso da democracia e do socialismo naquela região e à imensa corrupção trazida pelo capitalismo. Diante disso, parte da população torna-se ultra-religiosa e pensa que a salvação está numa interpretação integrista da sharia, a lei islâmica.


O choque das civilizações é uma profecia que se auto-realiza. Acreditar nela é estimulá-la. Além disso, islã, cristianismo e judaísmo têm um tronco comum. São fés monoteístas muito parecidas. Por isso me tranqüiliza saber que grandes civilizações como a China e a Índia tiveram a felicidade de escapar disso. Muitos males advêm dos monoteísmos.


Olhe o que acontece com a questão israelo-palestina. Nos dois lados impera cada vez mais a visão religiosa de um problema fundamentalmente nacionalista. Repare na força dos evangélicos nos EUA, berço da sociedade mais materialista do mundo e onde a teoria do criacionismo não pára de se espalhar. Tudo isso é uma grande regressão. Não acredito no choque das civilizações, acredito na volta da barbárie em suas mais diversas formas.


FOLHA – Uma das maiores mudanças mundiais das últimas décadas, a internet, na sua opinião, afastou ou aproximou as pessoas?


MORIN – Se considerarmos o fato de a internet ser um instrumento polivalente, que serve até aos interesses do crime, acho que a rede aproxima as pessoas. A internet tornou-se um sistema nervoso artificial que tomou conta do planeta. É algo que ajuda muito na hora de desenvolver afinidades, encontrar amigos, amores ou parceiros de hobby. A internet é um fato universal importantíssimo.


Mas os sistemas de comunicação não criam compreensão. A comunicação apenas transmite informação. É preciso estimular o surgimento de uma consciência planetária. Se a internet não desenvolver a idéia da comunidade de destinos da humanidade, terá apenas uma função limitada e parcelar.


FOLHA – Que papel restou para o intelectual hoje?


MORIN – O intelectual é alguém que toma a palavra em público para levantar problemas fundamentais. Infelizmente, os intelectuais foram levianos quando se tornaram stalinistas ou maoístas. Eles enganaram as pessoas.


Por outro lado, é ruim quando nos deparamos com um mundo entregue a peritos, especialistas e economistas, que são incapazes de enxergar a abrangência dos problemas essenciais e globais.


Intelectuais são necessários, mesmo quando eles se enganam. Quanto mais o mundo acha que não precisa deles, mais eles fazem falta (risos).


O jornalista SAMY ADGHIRNI viajou a convite do evento Fronteiras do Pensamento’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Programa da Record maquia safári africano


‘A edição do ‘Câmera Record’ do último dia 18 induziu o telespectador a acreditar que estava vendo imagens de ataques de leões capturadas pela própria emissora na África. Eram imagens de arquivo.


No programa, que é uma cópia do ‘Globo Repórter’, um repórter fez um safári turístico em um parque da Tanzânia.


Nesses safáris, raramente se consegue ver uma caça. Mas o programa mostrou leões atacando girafas, comendo zebras e até copulando -o que a BBC leva anos para captar. Animais difíceis de filmar, como guepardos, também apareceram.


Essas imagens eram quase todas de arquivo. Isso era perceptível até pela diferença de textura do material. Mas em nenhum momento o programa avisou ao telespectador que ele via imagens velhas. Nem nos créditos finais. Houve apenas uma passagem em que uma imagem foi atribuída a ‘um viajante’. E uma legenda rápida creditando ‘imagens e produção’ à Baboon Filmes, produtora brasileira que oferece em seu site um banco de imagens de ‘mais de 50 viagens e expedições no Brasil e no exterior’.


A Record admite que usou imagens de arquivo, ‘mas apenas algumas’. Argumenta que isso ‘faz parte da linguagem da TV’, porque era necessário ilustrar ‘como é a alimentação dos leões’. Afirma que ‘o repórter não disse que essas imagens eram de sua equipe’ e sustenta que captou cenas de caça.


JURADOS 1


A cantora Marina Lima, o compositor Michael Sullivan e o empresário musical Luís Calainho são fortes candidatos a comporem o corpo de jurados do reality show ‘Ídolos’, que a Record começa a gravar nesta quinta, em Porto Alegre.


JURADOS 2


Sullivan é co-responsável por boa parte do que de pior foi gravado no Brasil nas últimas décadas, principalmente na de 80, incluindo a atual -de Xuxa a banda Calypso. Calainho foi namorado de Angélica.


NOVO CIRCO


O ‘Circo dos Famosos’ volta ao ‘Domingão do Faustão’ no segundo semestre com mudanças. A cada domingo, três artistas diferentes disputarão uma modalidade circense. O vencedor irá para a final.


CHUVA SECA


O aplique de cabelo de Suzana Vieira é à prova de chuva. No capítulo de ‘Duas Caras’ da última quinta, sua Branca tomou chuva (fraca, diga-se), mas seus cabelos continuaram intactos.


ACERTO


Pelo menos uma das mudanças feitas por Silvio Santos na programação do SBT deu certo. A vespertina sessão de filmes ‘Cinema em Casa’, exibida na faixa antes ocupada por ‘Charme’ e ‘Fantasia’, dobrou a audiência da emissora no horário. Tem dado médias de seis pontos. Sua audiência é masculina, de 12 a 17 anos e da classe C.


QUANTO AMOR


De passagem pelo Brasil, o cantor Bryan Adams gravou o programa ‘É o Amor’ (Band). Deu entrevista e mini-show a casal de fãs. Vai ao ar amanhã.’


 


VIRADA CULTURAL
Folha de S. Paulo


Virada para o centro


‘A 4ª Virada Cultural, que exibiu em torno de 800 atrações na capital paulista por 24 horas ininterruptas a partir das 18h do último sábado, foi vista por cerca de 4 milhões de pessoas, segundo estimativa da Secretaria Municipal de Cultura, promotora do evento.


O centro foi a região da cidade com a maior concentração de palcos (26) e de público, que circulou pelas ruas com o medo da violência posto de lado.


‘Fiquei meio apreensiva pelo que teve no ano passado [o conflito no show dos Racionais MC’s, na praça da Sé], mas tem que vir. Paulistano não pode deixar de sair de casa por essas coisas’, diz Darcilinha Andrade, 60, fã de Gal Costa há 40.


A cantora baiana se apresentou no sábado (21h), no palco São João, o maior do centro, onde a cabo-verdiana Cesaria Evora abrira a noite, às 18h. ‘Cortei meu cabelo. É um sinal de virada pra mim’, disse Gal.


No show seguinte (0h), de Zé Ramalho, a multidão flertou com a irresponsabilidade. Uma avalanche de pessoas começou a retornar da av. São João pela r. Aurora, num empurra-empurra que arrastava os demais.


Quando Zé Ramalho abriu o show, com ‘Beira-Mar’, só restava a Amanda Panuncio, 18, espaço para mover os braços, espremida contra a grade de proteção. ‘Tudo bem. Cheguei de Bragança Paulista aqui às 19h30, comi alguma coisinha e vim para esse lugar.’ Até o fechamento desta edição, não havia sido divulgado o número de atendimentos médicos.


Os Mutantes sucederam Ramalho às 3h. Havia público, literalmente, nas árvores. Simoni Bampi, 43, veio de Porto Alegre para ver o show, que ‘superou todas as expectativas’ dela.


Assim como Bampi, visitantes de outros Estados foram atraídos pela Virada. Mas moradores de São Paulo tiveram seu dia de turistas na cidade.


Margareth e Josiane Penha, mãe e filha, foram ao palco de dança, no Anhangabaú. Moradoras do Jardim Educandário (zona oeste) elas nunca freqüentam o centro a lazer. ‘Só passamos aqui correndo, por dever ou trabalho. É bom poder aproveitar’, diz Margareth.


Perto dali, na pista de música eletrônica em frente ao CCBB, o publicitário Décio Freitas, 27, admirava o local. ‘Este espaço é alucinante, o ápice do urbano.’


O volume de público impressionou habitués da Virada. ‘Neste ano, tem muito mais gente na rua’, afirma o servidor público Vitor Casimiro, 32.


Sem registro de incidentes graves, a maratona não foi livre de atropelos. Além do aperto na circulação pelo centro, houve atrasos e falhas de som e luz.


Uma delas interrompeu o show da Orquestra Imperial (15h de ontem), quando o secretário de Cultura, Carlos Augusto Calil, estava no palco. Nos teatros da praça Roosevelt, houve quem esperasse três horas e meia na fila por ingresso. Banheiros químicos em número insuficiente (350) resultaram em sujeira e mau cheiro.


‘Sucesso’ e ‘contratempos’


O coordenador da Virada, José Mauro Gnaspini, diz que ‘o sucesso e os contratempos vieram juntos’, dada a ‘lotação muito grande’. O público de 2007 foi estimado em 3,5 milhões. Calil avalia que ‘funcionou. Com vários problemas’.


A concentração das atrações no centro, diz Gnaspini, deve-se a que ‘é o lugar mais democrático, mais adequado para uma festa com todas as tribos’.


As tribos da noite e do dia se alternaram ao longo da Virada. Às 9h de ontem, no palco São João, o vocalista do Teatro Mágico Fernando Anitelli fez do poema ‘De Ontem em Diante’ um coro seguido pela platéia: ‘Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada são coisas distintas, separadas pelo canto de um galo velho’.


No Teatro Municipal, que deu a partida na Virada, às 18h de sábado, com show de Luiz Melodia, os lugares ainda estavam tomados às 6h de ontem, pelo público que foi ver Pepeu Gomes reeditar ao vivo faixas de ‘Geração de Som’ (1978), seu primeiro disco-solo.


Às 15h, andando com dificuldade, o compositor Paulo Vanzolini, 84, foi ao palco do Municipal, sentou-se do lado esquerdo, abriu uma latinha de cerveja, bebericou, tomou notas e comentou as músicas do show inspirado em seu disco ‘Onze Sambas e Uma Capoeira’ (67).


Quando a platéia e os cantores convidados (Cristina Buarque, Carlinhos Vergueiro, Ana Bernardo, Cláudia Morena, Germano Mathias) o aplaudiram por quase cinco minutos, Vanzolini respondeu: ‘Isso não é bem uma homenagem para mim, mas uma homenagem para São Paulo. Sou pedaço desse chão e não abro mão’.


No Municipal, o ‘grand finale’ foi de um endiabrado Jair Rodrigues, que, alheio à circunspecção do teatro, chegou a saltar do palco à platéia. Na São João, Ben Jor encerrou a festa pedindo ‘Chove Chuva’. E não choveu. (ADRIANA PAVLOVA, AUDREY FURLANETO, BRUNA BITTENCOURT, CRISTINA MORENO DE CASTRO, GUSTAVO FIORATTI, IAGO BOLÍVAR, JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR, LUCAS NEVES, SILVANA ARANTES e VALMIR SANTOS)’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 28 de abril de 2008


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Comerciais colocam o consumidor na tela


‘Mães com um câmera na mão e sem qualquer idéia na cabeça sobre como mostrar o seu cotidiano em um comercial de cerca de um minuto tomaram de assalto os bastidores de gravação da campanha publicitária da rede varejista Casas Bahia. A iniciativa para o Dia das Mães, que estréia amanhã e fica no ar até 11 de maio, foge do padrão habitual da comunicação adotada pela empresa, quase sempre tomada por anúncios de vendas promocionais que, com a preocupação de desovar estoques, são produzidos a toque de caixa e têm som com volume acima do aconselhável.


A razão do capricho na elaboração das mensagens passa pelo crescimento do setor e não difere das investidas de outros varejistas. Caso do Magazine Luiza que está gastando 20% a mais em marketing este ano, somando inéditos R$ 60 milhões. Ou da rede mexicana Elektra, que desembarcou no Nordeste prometendo barulho com a ajuda da agência Fala!, de um ex-diretor das Casas Bahia.


O consultor Eugenio Faganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, vai além e explica o aumento de gastos com marketing como decorrência das disputas no atual cenário do consumo. ‘O grande concorrente do varejo de eletrodomésticos não é mais o competidor direto, mas a concessionária de automóveis. É a compra do carro zero que está impactando o negócio’, diz ele.


Para o consultor, há uma intensificação da disputa pela renda do consumidor, mesmo com as vendas vivendo um dos melhores momentos dos últimos anos. ‘O empresário sabe que, mais do que nunca, precisa de uma comunicação mais agressiva e mais atraente, como a experiência de levar o próprio comprador para ser o protagonista do anúncio’, acrescenta.


Rafael Klein, diretor de marketing das Casas Bahia, não gosta de falar sobre concorrência. Prefere creditar a atual campanha para o Dia das Mães, que foi pautada por filmetes elaborados pelas próprias consumidoras das lojas, como uma decorrência natural das investidas publicitárias que a empresa faz em datas sazonais. ‘Essa ação é resultado de pesquisa, o que sempre fazemos, especialmente no caso das campanhas institucionais que tendem a ser diferentes dos anúncios voltados para promoções’, explica ele.


SEM TEMPO A PERDER


O som mais alto, recorrentemente adotado na propaganda de varejo no Brasil, é uma característica que, em que pesem as críticas, se mantém eficiente, como reconhecem os profissionais do ramo. ‘A empresa faz uma negociação boa e não tem tempo a perder. Precisa destacar essa vantagem para que a venda aconteça rápido e a operação gere ganho no giro’, diz o profissional da área de criação Jorge Murtinho, da equipe da agência Young & Rubicam, que detém a conta das Casas Bahia. A agência mantém um time de 112 profissionais na sede da rede varejista em São Caetano (SP), para assegurar a agilidade nesse processo. A empresa mantém nos últimos cinco anos o posto de maior anunciante do País, com verba estimada em R$ 700 milhões por ano.


As gravações da série de filmes que serão vistos no período de celebração pelo Dia das Mães, surpreende não só pelo contraste da peça em relação às anteriores, como pela inovação. Seguindo uma forte tendência no meio publicitário, apela ao consumidor como protagonistas. Estão no ar várias campanhas do gênero, como as da Fiat e do Banco Real.


A dona de casa Erica Batista de Souza, 31 anos, a estudante Andréia Duran da Silva, 24, e a médica sanitarista Denise Carvalho, 32 , estão entre as 30 selecionadas. Foram olheiros da agência que as convidaram a participar ainda no interior das lojas. Todas têm filhos e todas toparam pegar a câmara emprestada e filmar com seus rebentos para deixar para eles uma mensagem em seus 15 minutos como cineastas. A onda de o público assumir o papel de protagonista na propaganda tem mostrado força. Pesquisas detectam que o consumidor não aceita mais ser passivo.’


 


VIRADA CULTURAL
O Estado de S. Paulo


Vira vira vira virou


‘Indies no Pátio do Colégio, metaleiros na Praça da República, eletrônicos na Rua Álvares Penteado, linguagens eletrônicas espalhadas por totens na Rua 24 de Maio. O centro de São Paulo pareceria um gigantesco festival europeu se não fosse a presença (tímida) dos deserdados da metrópole aqui e ali: desdentados, loucos, pedintes, sem-teto com seus cobertores ensebados, meninos cheirando cola.


A presença ostensiva da Polícia Militar, no entanto, inibiu qualquer choque entre os culturettes e o lúmpen-proletariado. Não houve nenhum conflito sério este ano. A Guarda Civil Metropolitana combateu vigorosamente os ambulantes (que fugiam assim que tentavam instalar-se, por causa do ‘rapa’), e o centro ficou ‘higienizado’ durante mágicas 24 horas.


Houve filas de até duas horas para ver Sá, Rodrix e Guarabyra. Filas para ver o metal de Paul Di?Anno, que ficou apenas 4 anos à frente dos vocais da mítica banda Iron Maiden. Filas para ver Naná Vasconcelos e seu berimbau eletrificado.


E estatística de Virada Cultural é igual à dos comícios: sempre é chutada. Quatro horas antes de se encerrar o evento, o balanço oficial já dava conta de que 4 milhões de pessoas passaram pela Virada. ‘A gente tem de fazer uma coletiva ao meio-dia, mas a Virada não acabou’, explicava ontem ao Estado, no final da tarde, o secretário de Estado da Cultura, Carlos Augusto Calil. ‘A informação de que esta Virada superou todas as outras e a Parada Gay veio do pessoal da segurança, durante a noite. Não sou eu que estou dizendo que foram 4 milhões de pessoas, é quem está acostumado a trabalhar com isso. Não estou muito me importando se bateu recorde ou não. Que venham quantos couberem.’


José Mauro, coordenador da Virada, arriscou-se a dizer que 40% do público veio do interior de São Paulo e outros Estados, o que parecia muito provável, diante do número de ônibus de turismo nas imediações. Segundo Mauro, o critério para medir o volume de pessoas em frente de cada palco é também por meio das catracas do metrô. ‘A idéia é que ajustemos esse número. Não queremos ter a obrigação de aumentá-lo a cada ano.’


A SPTuris, empresa municipal para promoção de turismo em São Paulo, divulgou uma nota estimando que esta quarta edição da Virada Cultural venha aportar um montante de R$ 90 milhões à economia da cidade, o que colocaria o festival entre os eventos mais lucrativos do município, que inclui o campeonato de Fórmula 1, a Parada GLBT e a SP Fashion Week.


Três mil e 300 policiais militares foram responsáveis pela segurança das 24 horas de shows de música, espetáculos de dança, rodas de capoeira, piano na praça e circenses equilibristas. ‘Não houve nenhum incidente grave. A maior ocorrência foi o excesso de bebida’, garantiu o tenente-coronel Sidney Camera Alves, do comando de policiamento da área centro.’


 


TELEVISÃO
Shaonny Takaiama


Diretor nega crise


‘Diretor da novela Caminhos do Coração, Alexandre Avancini nega que esteja enfrentando dificuldade para escalar o elenco de Os Mutantes – Caminhos do Coração, a segunda temporada do folhetim. A estréia está prevista para 2 de junho.


O diretor afirma que 85% do cast original será mantido e desmente boatos de que alguns atores teriam se recusado a participar da continuação ou exigido cachê maior. ‘Nenhum ator se recusou, aconteceu o inverso’, defende. ‘Alguns personagens, nós tínhamos planejado tirar da trama e os atores disseram: ‘Não! Nós queremos ficar’.’


Segundo Avancini, alguns atores deixaram a novela porque já tinham compromissos agendados, estavam reservados para outras produções da Record ou porque a função de seus personagens na trama se esgotou.


Estão confirmados para a próxima safra: Lavínia Vlasak, Petrônio Gontijo, Maytê Piragibe, Raul Gazolla, Cláudia Alencar, Taumaturgo Ferreira e Babi Xavier. Os atores Bianca Rinaldi, Leonardo Vieira, Gabriel Braga Nunes e Patrícia Travassos continuam na trama . ‘A Lavínia fará uma médica, a doutora Gabriela. E a Babi será July, cheia de mistérios.’’


 


LITERATURA
Ubiratan Brasil


A tortuosa relação entre o autor e seu estranho leitor


‘Jonas tem um emprego modorrento (carimba papéis sem pressa em uma sala da Biblioteca Nacional, no Rio), uma vida sentimental pouco efusiva (duas colegas do trabalho revezam-se em sua cama), mas o futuro não lhe atemoriza – Jonas desenvolveu um sistema próprio de adivinhação, baseado no estudo compenetrado das formas de seu bolo fecal. É por meio do exame diário de suas fezes que ele orienta seus passos, até o dia em que se descobre plagiado. ‘Eu me diverti muito ao criar essa história, soltando verdadeiras gargalhadas’, confessa a escritora Patrícia Melo sobre Jonas, o Copromanta, que ela lança hoje à noite, na Livraria da Vila da Alameda Lorena.


As aparências enganam, na literatura de Patrícia Melo – seu mergulho nas raízes da violência urbana, marca definitiva de obras como O Matador e Acqua Toffana, a caracterizou erroneamente como autora de literatura policial. Afinal, solucionar crimes é menos importante para a condução de sua prosa que identificar a cicatriz fixada pelo destino na pele de seus personagens. Em Jonas, também a realidade é turva.


Leitor contumaz, a ponto de se sentir confiante em apontar novas soluções para romances clássicos de Dostoievski e Nabokov, Jonas é fã de Rubem Fonseca até se surpreender com o conto Copromancia, que figura no livro Secreções, Excreções e Desatinos: o enredo, inusitado, fala de um homem obcecado em observar e catalogar diariamente as próprias fezes. Imediatamente, Jonas alimenta uma alucinação na qual seu autor favorito desenvolveu uma técnica mirabolante que lhe permite entrar em seu intelecto e se apropriar de suas idéias.


‘Logo depois que terminei Mundo Perdido, há dois anos, que traz uma história muito angustiada, comecei a trabalhar nessa trama e fui especialmente movida pela curiosa relação existente entre leitor e autor’, conta Patrícia que, amiga fraterna de Rubem Fonseca (juntos, já desenvolveram projetos no cinema), decidiu transformá-lo em personagem, pois o escritor passa a freqüentar a Biblioteca Nacional, despertando a ira de Jonas, que começa a persegui-lo.


Para conferir mais credibilidade à narrativa, Patrícia aprendeu, embora desordenadamente, os princípios da criptologia que, ao lado dos hieróglifos e da escrita hebraica, fornecem a base do sistema desenvolvido por Jonas para decifrar as figuras formadas por suas fezes.


Apesar de alterar sua rotina, transformando-o em uma pessoa perigosa por causa da sua fixação em Fonseca, a loucura é benéfica para Jonas, no entender de Patrícia. ‘Apesar de sua rotina ordinária, da sua vida desprezível, ele tenta descobrir ali um sonho, uma promessa, um advento importante’, observa. ‘Essa é a inversão do romance: Jonas acredita que sua vida foi subtraída por um escritor. Com isso, ele se sente vulnerável e essa vulnerabilidade é o grande trunfo de sua vida, nada mais. O resto é rotina – a única novidade é o sentimento de estar fraco.’


É nesse ponto que o enredo de Jonas, o Copromanta mergulha em uma espiralada aventura de perseguição e loucura. Ciente de ser vítima de um plágio, Jonas, aos poucos, condiciona sua existência à prosa de Rubem Fonseca, acreditando que toda a obra do escritor seria uma transfiguração da sua vida. Para alimentar essa alucinação, surge Zoé, uma mulher que se aproveita da loucura daquele homem, alimentando-a ao mesmo tempo em se que aproveita material (e até sexualmente) disso. ‘O final, que aparentemente é triste, revela na verdade a felicidade de um homem que se agarrou a um ideal’, comenta Patrícia.


Ela se diverte ao lembrar que só avisou Fonseca que seria personagem do romance quando a obra já estava para entrar na gráfica. Não havia, no entanto, motivo para preocupação – Jonas, o Copromanta exalta a literatura de Fonseca, criando um caminho cruzado entre as obras que resulta em uma terceira, original. ‘Essa sensação de que algo pode mudar é maravilhosa: a pessoa não está presa a um destino, no sentido condenatório. Nos meus romances, essa concepção de destino está sempre presente. É o caso de O Matador, no qual personagem luta contra o destino.’


Trecho


A sensação que no início era de vazio e perplexidade aos poucos transformou-se em expectativa e apreensão, características de momentos proféticos. De alguma forma, ainda que não pudesse explicar, os dejetos que fermentavam em meus sonhos tinham um papel central no que eu supunha ser um vislumbre do futuro. É preciso dizer ainda que naquele momento eu estava bastante envolvido com a idéia da criação de sistemas, palavras, códigos, linguagens e, principalmente, acesso a algo prodigioso e terrível. No meu subconsciente, eu já intuía estar em busca de significado.’


 


 


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