Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma chatice exagerada

Janeiro, mês morno para as emissoras, marca a estréia de dois grandes produtos de faturamento para a Rede Globo: a novela Caminho das Índias e a nona edição do Big Brother Brasil. Visando atrair o público, os fins de semana que antecederam as duas estréias mostraram a tentativa de a emissora reverter a situação ruim que vem caracterizando a estréia de suas atrações. A idéia foi bombardear o telespectador com o máximo de chamadas e/ ou informações sobre as duas novas apostas da casa.

Não há grandes novidades nas campanhas de divulgação de novelas e programas. As emissoras investem pesado a cada nova tentativa de atrair o público. Publicidade em jornais, revistas, coletivas de imprensa, festas e outras estratégias marcam sempre a estréia de um novo produto de televisão. Fórmula que vem sendo usada há muito tempo. Mas o que se viu nos três primeiros fins de semanas do mês de janeiro foi algo inédito para quem já pensava ter visto tudo, no que diz respeito à disputa por audiência.

Em 9 de janeiro, um dos programas jornalísticos mais tradicionais do Brasil abriu espaço em sua pauta para os vencedores de antigas edições do programa Big Brother Brasil. Naquela do Globo Repórter, o programa, que está há 36 no ar, deixou reportagens sobre comportamento, meio ambiente e aventuras – suas marcas nas últimas décadas – para abrir espaço a oito ex-participantes do reality show a mostrar como suas vidas foram radicalmente transformadas após a participação no BBB, cuja nona edição estrearia na terça-feira seguinte. Os expressivos e surpreendentes 34 pontos de audiência no Ibope foram tão bem-vindos que a mesma estratégia foi usada na semana seguinte, com o mesmo êxito.

Mas o que se viu nos dias que se seguiram, sobretudo aos domingos, foi um exagero que somente encontra alento no desespero de mudar a situação que vem marcando as últimas estréias de programas da Globo. A antecessora de Caminho das Índias, A Favorita, estreou com média de 34 pontos, teve momentos de recordes negativos para o horário e somente foi dar um alivio para autor, diretores, elenco e à própria emissora em sua reta final.

Estratégia de divulgação

Tanto Domingão do Faustão quanto o Fantástico deram destaque exagerado aos dois programas. O desespero eufórico começou no domingo (11/1) no Fantástico com quadro ‘Anjo da guarda’, cuja atração foi a ex-participante do Big Brother Brasil Graziele Massafera. Daí seguiram-se duas matérias sobre a saturada canção Beijinho doce – ‘Beijinho doce 1‘ e ‘Beijinho doce 2 . Ainda no mesmo dia, mais duas matérias sobre atrações da casa: a cobertura da festa de abertura de Caminhos das Índias e uma entrevista com o ator Tadeu Matos, intérprete do compositor Ronaldo Bôscoli na minissérie Maysa.

Uma semana depois, a emissora retoma a abordagem. O Globo Repórter de 16 de janeiro levou ao ar matéria sobre as pitorescas características da Índia do novo século. O programa também antecedia a estréia da novela Caminhos das Índias, que estrearia no dia 19 e que tem como trama central o amor entre um casal de descendência indiana.

No domingo (18/1), o Domingão do Faustão reuniu os protagonistas de Caminhos das Índias. Mas coube ao Fantástico o papel de grande porta-voz no quesito divulgação. E naquela mesma noite, muito do que foi levando ao ar no programa esteve relacionado às ‘novidades’ da casa: uma matéria sobre a ‘Casa da vidro‘ do Big Brother Brasil; a participação das protagonistas de A Favorita – as atrizes Claudia Raia e Patrícia Pillar – ao vivo para falar sobre novela; uma matéria sobre a paixão dos brasileiros por novelas. O Fantástico ainda deu espaço para a protagonista de Caminhos das Índias, a atriz Juliana Paes, em matéria sobre a moda indiana. Como ainda não fosse o suficiente, seguiram-se mais duas matérias: uma sobre as belezas da Índia, do jornalista Mauricio Kubrusly, e outra sobre a música-tema da nova novela.

A estratégia de divulgação comercial desenvolvida pela Central Globo de Comunicação está deixando de ser um trabalho bem elaborado – a exemplo dos teasers ao final das novelas, que anunciam uma nova atração – para se tornar uma chatice exagerada. Razão provável dos números mornos das estréias dos últimos tempos.

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Crítica de TV, Brasília, DF