Saturday, 05 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Erivaldo Carvalho

“‘A sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor.’ Alberto Dines

Manchete do O POVO da última quarta-feira, dia 30: ‘Economia] Anúncio da Petrobras: Gasolina 6,6% mais cara a partir de hoje’. No resumo, logo abaixo, seguia o seguinte texto: ‘O diesel também teve alta, em 5,4%. Os reajustes são para os combustíveis nas refinarias, mas Sindipostos diz que repasse para o consumidor deve ser imediato’. Na página 24, o gancho do texto principal foi a fala do representante do setor no Ceará. O dirigente comentou a liberalidade do mercado, no que foi arrematado pelo jornal: ‘O índice poderá ser até maior’. Em outras palavras, o leitor do O POVO que fosse abastecer o veículo a partir dali iria pronto para amargar, no mínimo, os aumentos oficializados pela Petrobras. Só que a história não era bem assim. Entenda por que a seguir.

O discurso que prosperou

A mais importante informação, depois do anúncio em si, era a de que o Governo Federal tinha segurado o aumento no preço do etanol, que representa, atualmente, 20% da gasolina. A mesma decisão foi estendida para o biocombustível, importante componente do diesel. Assim sendo, não se sustentava a informação de que os preços finais para o consumidor seriam os índices aplicados pela Petrobras. Ou seja: no trajeto das refinarias até a bomba, a diferença do ‘aumento zero’ do etanol e do biocombustível deveria aparecer. Sem essa explicação necessária, ignorada pelo O POVO, o discurso do setor empresarial prosperou e se firmou como quase verdade.

A distorção e o desserviço

No relatório interno de avaliação da edição da mesma quarta-feira, depois de idas e vindas das discussões entre o ombudsman e os responsáveis pelo conteúdo publicado, sustentei a versão de que erramos. Cheguei, inclusive, a citar os índices com os quais as consultorias estavam trabalhando, já no dia anterior à manchete, depois de descontadas as diferenças do etanol e do biodiesel. Mostrei que o jornal tinha publicado uma informação, no mínimo, distorcida ou incompleta. O reforço dessa posição veio no dia seguinte, quando a cobertura foi aprofundada, focando nos exatos pontos levantados pelo ombudsman. O jornal não chegou a admitir o erro. Mas deve ter chegado à conclusão de que quando isso acontece, o leitor do jornal, que é o mesmo consumidor de gasolina e diesel, fica nas mãos do empresariado, vítima indefesa do desserviço de informação.

A resposta da redação

Sobre as considerações acima, a editoria de Economia enviou a seguinte nota para a coluna: ‘Na cartola (Anúncio da Petrobras) está claro o nosso gancho, a decisão da estatal de reajustar a gasolina em 6,6%. A explicação de que o índice incidiria sobre as refinarias está no texto logo abaixo da manchete. A Estatal não controla os preços nos postos e optamos por ouvir quem determina os valores repassados ao consumidor final, os postos de combustíveis. Partiu do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Ceará (Sindipostos) a declaração de que o índice poderia ser repassado de imediato. A informação está devidamente atribuída ao presidente da entidade, na manchete e na matéria. Quanto ao etanol, não procede a crítica de que não o incluímos no texto. Ele está lá, destacado com um intertítulo. As lacunas deixadas pela matéria – cujo objeto, o anúncio da Petrobras, nasceu depois das 19 horas, estava sujeito à disponibilidade das fontes – foram preenchidas na edição seguinte. Fizemos uma boa suíte, abordando os diversos fatores que envolveram o reajuste.’

No próximo domingo, seguiremos no debate sobre os erros. Até lá.

FOMOS BEM

TRAGÉDIA

com frequentadores da boate Kiss, em Santa Maria (RS)

FOMOS MAL

ELEIÇÃO DO NOVO presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)”