Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma coluna feita de elogios

A semana passada foi muito boa para o New York Times, avalia a ombudsman do diário, Margaret Sullivan, em sua coluna. Na segunda-feira (15/4), o jornalão venceu quatro Pulitzer – duas vezes mais do que qualquer outra organização este ano. Na quarta (17/4), o NYTimes tomou a decisão sensata de não publicar, como outros veículos fizeram, que uma prisão havia sido feita ou que um suspeito do atentado de Boston estava sob custódia. Quando a polícia então apontou os suspeitos das explosões, no final da semana, o diário divulgou informações rapidamente.

Margaret tem sido crítica do NYTimes de muitos modos nos últimos oito meses, escrevendo que o diário já se mostrou disposto demais a cooperar com o governo, que cometeu erros factuais na cobertura do massacre de Newtown e que optou, algumas vezes, por ignorar ou minimizar temas importantes. Mas agora é preciso dar créditos aos bons feitos. O NYTimes provou que soube honrar sua reputação como o “padrão de ouro” do jornalismo e que serviu bem seus leitores ao ficar longe de informações não confirmadas. Suas matérias sobre o atentado em Boston durante toda a semana foram rápidas, aprofundadas e precisas, diz a ombudsman.

Já outras organizações de notícias morderam a isca e mantiveram informações erradas por mais de uma hora na quarta-feira à tarde. Elas divulgaram imediatamente uma prisão, depois voltaram atrás, alegando que os dados estavam conflitantes, e fizeram retratações. Jill Abramson, que em seu primeiro ano completo como editora-executiva liderou o trabalho vencedor do Pulitzer de 2012, disse à Margaret que passa frequentemente a mensagem aos editores e repórteres de que precisão vem em primeiro lugar. “Todos na redação sabem que sou competitiva, mas tenho muito cuidado em não passar a mensagem de que há um valor premium para velocidade nas notícias de última hora”, disse.

O que o NYTimes pode oferecer a seus leitores é a garantia de que, se eles tiverem lido no jornal, então a informação é verdadeira. Nesse sentido, o jornal não pode competir com o Twitter ou com canais a cabo, mas é o lugar da precisão, da perspectiva e da profundidade. Na medida em que as ferramentas digitais continuam a revolucionar o jornalismo, o NYTimes está se tornando mais consciente e acertando seu papel próprio e necessário, afirma Margaret.

Celebrar e informar

Além dos fatos, leitores tiveram outras preocupações sobre a cobertura de Boston. Alguns criticaram o jornal por ter enviado quase ao mesmo tempo alertas por email e mensagens no Twitter sobre os Pulitzer e notícias sobre os acontecimentos do atentado. Como destaca a ombudsman, é importante observar que, na redação do jornal, centenas de funcionários estavam reunidos para celebrar o prêmio na hora em que as explosões aconteceram. Os longos discursos continuaram, como planejado, mesmo com editores começando a postar uma excelente cobertura no blog The Lede e a distribuir pautas entre os repórteres para começarem a ir às ruas. A cena surreal era dissonante, mas não impediu o trabalho de ser feito. Em uma outra coincidência, um repórter do NYTimes, John Eligon, tinha acabado de correr a maratona e escreveu um artigo junto com Michael Cooper.

Uma outra preocupação foi sobre a publicação de fotos sensacionalistas. O leitor David Slarskey, do Brooklyn, criticou uma foto de uma mulher ferida que foi publicada na capa de terça-feira. O chão estava ensanguentado, assim como a parte superior de sua perna. A foto, sem dúvida, causava desconforto e era forte. A ombudsman respeita a opinião do leitor, mas defende a publicação da imagem. O imperativo jornalístico é dar aos leitores o sentido preciso do que aconteceu – ou seja, contar a verdade. Deve-se pensar, também, sobre as fotos de pessoas ensanguentadas do Iraque e da Síria – que leitores aceitam sem questionar. Eles parecem reclamar mais quando essas imagens são de americanos.

Por outro lado, a leitora Darryl Campagna, que é jornalista e professora em Albany, criticou uma foto “cortada” de um jovem, Jeff Bauman, cujas pernas tiveram de ser amputadas, sendo levado pelas ruas. Ela observou que outros veículos, como o The Huffington Post, optaram por colocar a foto original, mostrando as feridas completamente. Ela questinou se os leitores não eram adultos o suficiente para ver as consequências terríveis do atentado. Michele McNally, editora chefe responsável pelas fotos, disse que, depois de considerar as fotos originais e cortadas enviadas pela Associated Press, achou que a cortada era mais forte. “Você não vê o resto da foto. As pernas na verdade te distraíam de ver o olhar intenso no rosto pálido que mostrava o quanto de sangue havia sido perdido”, disse. A ombudsman concorda com a escollha. O NYTimes está longe de ser perfeito, completa Margaret, mas, na semana passada, em sua maneira inteligente e moderada de lidar com imagens e fatos, mereceu a glória do prêmio Pulitzer.