Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Erivaldo Carvalho

“Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes – Abraham Lincoln, político norte-americano

Olá, leitores e internautas.

A fórmula é bastante conhecida nas redações de imprensa e do público em geral: no rastro de fatos impactantes, eis que de repente surge a figura de um letrado entendido no assunto. Uma rápida conversa – de preferência, por telefone, porque o tempo é curto – e a pauta está garantida. Bastam algumas aspas de efeito, curtas e pretensamente conclusivas. Pronto. Mais um movimento foi decifrado. O formato vale para todos as coberturas. Do escândalo político à queda na bolsa. Do trânsito estrangulado à questão ambiental. Da crise diplomática à rebeldia artística. E assim se passaram décadas de jornalismo e gerações de jornalistas. Se duvidar, o recurso do ‘diz especialista’ existe desde que os primeiros especializados vieram ao mundo. Com a internet e as geladas entrevistas por e-mail, a pretensa facilidade virou regra.

Mas onde estão esses estudiosos, diante das ruas flamejantes dos últimos e longos dias? Parte da resposta pode estar no fato de que pouco importa o que eles digam. As declarações não alcançarão o que está acontecendo. Difusas, sem interlocutores nem pautas de reivindicações claramente definidas, as manifestações que sacodem dezenas de cidades Brasil afora também chacoalham os veículos de comunicação. A imensa dificuldade de interpretação está no próprio nascedouro dos protestos: as redes sociais da internet. Ironicamente, é a mesma grande rede em que estão todos os veículos, ávidos por explorarem e se capitalizarem com o novo território livre da informação. Nesse sentido, não foram só os governos e suas estruturas institucionalizadas que foram pegos de surpresa. Os veículos, sem exceção, tiveram de ir para as ruas.

Chama muito a atenção a mobilização das redações de todos os tamanhos e tipos para levar a cobertura ao grande público. As empresas de maior estrutura mandaram, simultaneamente, dezenas de seus profissionais para os locais de protesto. Esse é o caminho. Não há outro. Em situações assim, não adianta procurar especialistas, disparar telefonemas para quem quer que seja nem ficar diante do computador acompanhando, de longe, a voz rouca das multidões. Meio que parafraseando a Fiat, que deu o mote para grande parte das convocações, as ruas são, há mais de uma semana, a maior redação do Brasil.

O difícil equilíbrio

Toda a imprensa esforça-se em distinguir a legitimidade dos protestos com os atos de quebra-quebra pelas ruas das principais cidades brasileiras. Não há como evitar o chavão de que democracia e violência não combinam. Nessa linha, veículos como O POVO procuram se diferenciar. Na última sexta-feira, o jornal levou a diferença aos dizeres da manchete. Não tenho lembrança de ter lido, visto ou ouvido tantas expressões como ‘vândalos’, ‘arruaceiros’, ‘bandidos’, ‘baderneiros’ e ‘criminosos’ juntas, durante tantos dias. Na outra ponta, há relatos de excesso no uso da força e armas ditas não letais por parte da Polícia. O grande problema é que o discurso dos veículos pode parecer apoio à atuação dos órgãos de segurança. A busca do equilíbrio de onde termina a rotulação e começa o vale-tudo policial é uma das tarefas mais difíceis.

Até domingo.

FOMOS BEM

PERFIL DOS MANIFESTANTES

Na media geral, mostramos quem é e o que pensa o jovem que vai às ruas

FOMOS MAL

PREÇO DA PASSAGEM

Soubemos pela concorrência que a Prefeitura de Fortaleza discute redução de tarifa”