Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A eterna polêmica do uso de fontes anônimas

Clark Hoyt abordou, em sua coluna de domingo [22/3/09], um tema sempre polêmico na prática jornalística: as fontes anônimas. O New York Times tem uma política rígida sobre seu uso, mas elas continuam a aparecer nas matérias. Após avaliar o jornal desde o primeiro dia de 2009, o ombudsman observou que elas são uma constante – e deste modo não é surpresa que os leitores reclamem que o diário esconde fontes do público.

Segundo as normas do Times, as fontes anônimas devem ser usadas apenas ‘como último recurso, quando a matéria é de interesse público e a informação não está disponível de outro modo’. Mas, em um artigo recente sobre decoração de entradas de apartamentos de Nova York, uma mulher é citada de modo anônimo para descrever um hall específico como uma ‘entrada do inferno’. Ela falava do apartamento de uma amiga e não quis dar seu nome por medo de ‘ofender a anfitriã’.

Em matéria na última semana, um ‘funcionário do governo’ que não estava autorizado a dar seu nome denunciou bônus ‘inaceitáveis’ que executivos da seguradora AIG estariam recebendo. No mesmo dia, o conselheiro econômico da Casa Branca, Lawrence Summers, teria classificado os ‘bônus’ como ‘ultrajantes’ na TV – o que joga por terra a justificativa de último recurso para o anonimato da fonte.

Regras ignoradas

As políticas do jornal também dizem que não são permitidos ataques pessoais ou partidários feitos por fontes anônimas. Ainda assim, um funcionário do time de beisebol New York Yankees criticou o jogador Alex Rodriguez, sem revelar sua identidade. Além disso, repórteres são avisados que ‘fontes que insistem pelo anonimato’ devem ser evitadas. Mas, desde o dia 1º de janeiro, o jornal publicou mais de 240 citações destas fontes. Algumas razões para não identificar uma fonte são até compreensíveis: uma vítima de um assalto em Manhattan temia retaliações do agressor, que ainda estava solto. Porém, muitas vezes a justificativa não é satisfatória ao leitor. Um artigo recente sobre um cartum publicado no Washington Post, por exemplo, não identificou uma fonte que ‘temia envergonhar um colega de trabalho’.

Aceitar o anonimato é essencial, algumas vezes, para se obter informações importantes, porém editores e repórteres do Times reconhecem que o uso abusivo de fontes anônimas pode prejudicar a credibilidade do jornal. ‘Repórteres reconhecem, assim como editores, que é muito melhor quando se pode nomear as fontes’, opina a chefe de redação, Jill Abramson.

Pesquisa

No ano passado, a pedido do ombudsman, um grupo de estudantes da Universidade de Columbia avaliou o uso de fontes anônimas pelo diário e concluiu que seu uso caiu pela metade desde que uma política mais dura foi adotada em 2004. Mas os alunos/pesquisadores disseram que o jornal falhou em seguir suas próprias regras, ao não explicar o uso de anonimato em 80% das vezes. Bill Keller, editor-executivo, afirmou que o ‘estudo apresentou uma excelente oportunidade para lembrarmos que fontes anônimas não são para serem usadas de modo inconseqüente’.

Hoyt e seu assistente, Michael McElroy, avaliaram esta política do diário, em especial após o NYTimes ser criticado por publicar uma matéria sobre um ataque político sofrido por Caroline Kennedy no processo de escolha do substituto de Hillary Clinton ao Senado americano. ‘É hora do diário fazer uma ‘dedicação forçada’ a seus próprios padrões’, observa o ombudsman.

Editores concordam. ‘A barreira deve ser bem maior antes de um repórter decidir usar uma citação de uma fonte anônima’, diz Craig Whitney, editor de qualidade do diário. ‘Trabalhamos duro para evitar fontes anônimas desnecessárias, mas podemos fazer mehor’, admite Dean Baquet, chefe de redação da sucursal de Washington.