Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Crítica interna

’25/08/2006

Reviravolta nos céus, reviravolta na economia.

Depois de meses de bonança na economia, os jornais chegam hoje carregados de más notícias para o governo federal e a candidatura Lula.

Folha – ‘Desemprego é o mais alto em 15 meses’ (manchete), ‘Carga tributária supera 37% do PIB e é recorde’.

‘Estado’ – ‘Lula fala em cortar impostos; carga tributária bate recorde’ (manchete), ‘Desemprego sobe e renda cai, apura IBGE’ e ‘Superávit do setor público cai 46,2% no mês de julho’.

‘Globo’ montou um contraste entre a campanha eleitoral e os dados da economia: ‘Promessas para o segundo mandato – Lula: mais investimentos, menos gastos e impostos’ e ‘Os números oficiais do primeiro mandato – Menos investimentos, mais gastos e impostos’.

Outros jornais também destacaram as notícias negativas:

‘Jornal do Commercio’ (PE) – ‘Renda do brasileiro cai após cinco meses’.

‘Zero Hora’ – ‘Carga de impostos é a mais alta da história’.

‘Valor’ – ‘União está perto de revés bilionário sobre a Cofins’.

Nos céus:

Folha e ‘Estado’ – ‘Plutão não é mais planeta’. No ‘Globo’: ‘Plutão é rebaixado e deixa de ser planeta’.

Fez bem a Folha em destacar na Primeira Página os casos de Natascha Kampusch (‘Garota austríaca foge do cativeiro após 8 anos’) e de João Pereira da Silva (‘Justiça de São Paulo confunde Joões’).

Eleições 2006/Presidência

O ‘Estado’ fez uma cobertura mais completa e consistente do que a Folha do discurso do presidente Lula no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Não foi um discurso qualquer. Diferentemente das bravatas de palanque e das entrevistas para a imprensa que se caracterizam pela troca de xingamentos, este discurso, para o bem ou para o mal, merecia melhor atenção do jornal. A Folha fez apenas um texto – ‘Lula agora fala em reduzir juros e impostos’.

O ‘Estado’ editou o relato do discurso (‘Lula pede união nacional por país rico e justo’) com outras reportagens de apoio (‘Presidente já costura coalizão para eventual 2º mandato’, ‘O candidato promete o que o governante não faz’, acompanhado de indicadores sobre carga tributária e déficit do INSS, e ‘Furlan e empresários cobram pressa’), com uma repercussão com políticos e com a íntegra do discurso.

No final, o material do ‘Estado’ é mais crítico em relação a Lula do que o da Folha, mas o leitor tem a oportunidade de conhecer o que disse o presidente, avaliar o seu discurso e decidir se concorda ou não com as críticas do jornal.

O ‘Globo’ também deu ao discurso do presidente a importância que ele merecia, remeteu o leitor para ler a íntegra na internet (iniciativa que não ocorreu à Folha) e foi mais consistente na crítica, com infográficos, repercussão e uma análise crítica.

Eleições 2006/PCC

O jornal esclarece hoje a origem da gravação que provocou a abertura de inquérito policial para investigar suposto ele entre o PCC e o PT – ‘Grampos foram feitos pelo Ministério Público’ de Presidente Venceslau.

Continuam confusas, por causa dos métodos de trabalho da Secretaria de São Paulo, as informações sobre o tal inquérito. Está claro que a secretaria está fazendo uso político do caso. É curioso que acusações de 2004 ainda não tenham tido as investigações concluídas. O jornal deveria se empenhar mais no questionamento aos procedimentos de investigação da secretaria.

O ‘Globo’ abandonou o caso. O ‘Estado’ continuou a acompanhar, hoje com mais destaque do que ontem, mas ainda com informações diferentes das da Folha sobre o inquérito policial.

Drogas

Ficaram sem destaque e mal editadas na Edição Nacional as reportagens e arte que recuperam a notícia de que o governo sancionou a lei que extingue prisão de usuário de droga (pág. C3). Mereciam o destaque e o cuidado de acabamento que tiveram na Edição SP (pág. C5).



24/08/2006

Os três grandes jornais publicam manchetes sobre as eleições, mas com enfoques distintos. A Folha destaca o resultado da pesquisa Datafolha para o governo de São Paulo: ‘Serra mantém vitória no 1º turno’, assim, sem nenhum acréscimo ao que já fora divulgado na véspera. ‘Estado’ e ‘Globo’ dão mais importância à ação moralizadora dos Tribunais Regionais Eleitorais: ‘Rigor inédito dos TREs aperta cerco a candidatos’ (‘Estado’) e ‘Rio veta candidaturas de Eurico e 4 sanguessugas’ (‘Globo’).

Eleições 2006/PCC

Nenhum dos jornais que li deu o destaque que a Folha vem dando para o caso do inquérito que estaria apurando o suposto elo entre o PC e o PT. Não sei a razão, mas com certeza não é porque o caso teria sido divulgado com exclusividade pela Folha. As insinuações sobre o tal elo vêm desde maio e o ‘Terra Magazine’ (internet) já havia colocado no site, no dia 9, um outro diálogo, também gravado legalmente, entre criminosos (‘Escuta telefônica está por trás de insinuações’) sem que tivesse havido interesse dos jornais em dar continuidade. Imagino que a pequena repercussão do caso hoje nos outros jornais se deva a uma justificada cautela.

O ‘Estado’ fez uma pequena menção, em nota de pé de página (‘Deic apura ação de preso em ataques’), em que traz uma informação diferente da Folha: só hoje ou amanhã o Deic deve instaurar um inquérito policial para investigar a participação de um dos presos citados ontem pela Folha nos ataques de maio do PCC. A ver. Os jornais das Organizações Globo (‘Globo’ e ‘Extra’, no Rio, e ‘Diário de S. Paulo’) dão o caso de forma parecida, sem destaque na Primeira Página e com o mesmo enfoque: ‘Investigação da polícia de SP gera crise política’ (‘Globo’).

Para mim, o caso continua confuso em duas frentes:

– Na frente policial, ainda não está claro se foi de fato instaurado inquérito ou não, quando e com que objetivo. A própria Secretaria de Segurança informou ontem, em nota oficial, que o inquérito não visa investigar o suposto elo entre o PCC e o PT (o que não quer dizer muita coisa, visto que a polícia de São Paulo vem trabalhando sem qualquer preocupação com transparência). E, se foi instalado, por que corre em sigilo?

Toda a justificativa do jornal para a publicação da notícia se prende à instauração do inquérito policial.

– Na frente eleitoral, a Folha ainda não investigou para valer o uso político que pode estar ocorrendo desde maio. Lembro que a imprensa patinou em outros casos semelhantes. Mais recentemente, lembro o caso da lista de Furnas, que envolveu parlamentares do PSDB e sumiu do noticiário sem que tenha ficado comprovado se era falsa (como tudo até agora faz supor) ou verdadeira.

Eleições 2006/Pesquisas

Continua uma pobreza o aproveitamento das pesquisas eleitorais do Datafolha. Não há uma análise e elas não são aproveitadas para um ‘mergulho’ na campanha estadual. Apenas repetem os números, conhecidos desde ontem.

O único texto que se debruçou sobre os números da pesquisa, publicada ontem, que avaliou o governo Lula e tentou entendê-la – ‘Surpresos, acadêmicos associam pico de aprovação de Lula a Bolsa-Família’, pág. A12 da Edição Nacional – caiu na Edição São Paulo.

Eleições 2006/Sugestão

Uma sugestão para o jornal: a leitura do artigo do cientista político Jairo Nicolau no ‘Globo’ de hoje, ‘A cláusula de barreira em 2006’. Nicolau explica que a lei que criou a cláusula de barreira não foi regulamentada, é dúbia e exigiria um pronunciamento antecipado da Justiça Eleitoral. Como está, diz ele, permite a interpretação de que os eleitos por partidos que não alcançaram a barreira dos 5% (e 2% em pelo menos nove Estados) possam tomar posse e exercer plenamente os seus mandatos. Será? Não vi esta discussão colocada desta forma. Tudo que li até agora dava como líquido e certo que haveria nesta eleição o tal enxugamento de partidos por causa da cláusula. É um assunto importante a ser esclarecido.

‘New York Times’

O ‘Estado’ traz reportagem que mostra que o jornal dos Estados Unidos vive nova crise de credibilidade, a terceira ou quarta grave nos últimos anos: ‘´NYT´ é alvo de críticas por ter segurado informação’.

Não vi na Folha.



23/08/2006

A cobertura eleitoral ocupa quase toda a Primeira Página da Folha e está espalhada por vários cadernos do jornal: ‘Aprovação sobe e Lula amplia vantagem’ é a manchete da Edição SP redesenhada; na Edição Nacional estava ‘Com aprovação recorde, cresce vantagem de Lula’. As outras chamadas: ‘Presidente antecipa 13º de aposentados no ano eleitoral’, ‘Renda cresce com eleições, mas recua no ano seguinte’, ‘Crivella recorre a Cristo para isentar Planalto de culpa’. Devem ser consideradas ainda dentro do contexto eleitoral as duas outras chamadas fortes: ‘Polícia de SP apura se existe ligação entre PCC e petistas’ e ‘Câmara abre processo contra 67 deputados’.

O ‘Globo’ também deu destaque para as investigações de parlamentares: ‘Câmara abre processo de cassação de 69 deputados’.

‘Estado’ e ‘Valor’ chamam a atenção para os problemas no campo: ‘Agronegócio cai 1,9% e perde R$ 10,2 bilhões’ (‘Estado’) e ‘Crédito rural recua pela primeira vez em 10 anos’ (‘Valor’).

Eleições 2006

Embora editada fora do noticiário das eleições, a reportagem da capa do caderno ‘Cotidiano’ – ‘Polícia apura se há elo entre PCC e petistas’ – coloca o PCC definitivamente na campanha eleitoral.

A Folha informa que tinha desde julho a fita em que criminosos do PCC, em 12 de maio, orientam ações contra políticos, especificamente contra os do PSDB, e ordenam que os do PT sejam preservados. Só publicou o material hoje depois que soube que a polícia abriu inquérito para apurar o tal elo entre o PCC e o PT. O fato de haver inquérito policial torna o caso público e justifica a divulgação. Por que não publicou antes? O jornal não informa, mas é de se supor que para evitar manipulação eleitoral.

O caso, tal como aparece na Folha, me pareceu mal contado e faltou ao jornal apurar melhor.

O que achei inconsistente (por parte da polícia e do governo de São Paulo) e sem questionamento do jornal:

– A policia sabe desde 12 de maio dos planos do PCC contra o PSDB e de preservar o PT. O governador e vários deputados do PSDB tomam conhecimento das ameaças já no dia seguinte, com a polícia mobilizada para dar segurança. Mas, segundo o jornal, só ‘recentemente’ a Secretaria de Administração Penitenciária recebeu as fitas e as repassou para a Secretaria de Segurança Pública. A polícia sabia desde o início, mas a Secretaria de Segurança não sabia? Segundo a reportagem que segue na página C4 (‘Segurança de políticos foi reforçada’), ‘delegados ligados ao secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, se encarregaram de avisar os deputados sobre os riscos’. Mesmo assim o Secretário só foi tomar conhecimento ‘recentemente’ e só agora abriu inquérito?

– A Folha não informa quando o inquérito foi aberto. Mas se foi só ‘recentemente’, depois de a fita ter sido entregue pela Secretaria de Administração Penitenciária à Secretaria de Segurança, por que a polícia levou tanto tempo para tomar uma providência legal de investigação se já tinha conhecimento desde maio do teor das fitas?

– Se o inquérito foi aberto há mais tempo, já naquela época, a notícia deveria ter sido, passados três meses e meio, o resultado do inquérito – confirmando os vínculos do PT com o PCC ou comprovando que não há vínculo – , e não a sua abertura. O que a polícia fez nestes meses todo em relação ao caso?

– Segundo o jornal, só agora, passados três meses e meio, a polícia deverá ouvir os dois criminosos flagrados nas gravações. Por que não foram ouvidos antes? Não deveria ter sido a primeira providência da polícia?

– As gravações foram feitas por uma ‘autoridade da região oeste de SP’. Nunca vi uma definição assim; se a gravação era legal e foi aberto inquérito policial, por que o jornal omite o cargo da autoridade?

– No espaço em que tenta ouvir o PT (‘Presidente do PT paulista não comenta o caso’), o jornal informa que o partido só se dispôs a responder ao repórter se obtivesse respostas para sete perguntas, ‘entre as quais sobre a fonte de informação do grampo’. Ora, se já há inquérito policial aberto conforme o jornal noticia, a fonte é o inquérito policial. Não há mais segredo, suponho. Ou não?

A minha conclusão: a história está até agora cheia de buracos. Os bastidores levantados pela Folha até aqui não ajudam a entender o que está ocorrendo.

Chamei a atenção, na coluna de domingo passado, para as dificuldades que a imprensa tem, por desconhecimento, de questionar os procedimentos de investigação das polícias. Este caso é um bom exemplo. E é um caso importantíssimo porque mistura criminosos e partidos políticos às vésperas de uma eleição. Tal como aconteceu em 89 com o seqüestro de Abílio Diniz.

O comportamento do jornal agora foi correto ao esperar a instauração do inquérito – fato público que não pode ser omitido – para noticiar; mas erra ao não questionar as falhas gritantes nos procedimentos da polícia e das secretarias estaduais envolvidas e demonstra dificuldades para levantar os bastidores políticos que norteiam o caso.

O jornal demonstra cautela, no meio dos textos, com o uso eleitoral da informação, mas a própria publicação e os títulos escolhidos na Primeira Página e internamente já colocam o caso no centro do debate eleitoral em São Paulo. Cabe à Folha agora continuar a apuração com o objetivo de esclarecer se existe ou não elo entre o PCC e o PT. É evidente que só as gravações não são suficientes para provar que existe.

Acabamento

O relato da sabatina com o candidato Marcelo Crivella ao governo do Rio está prejudicado, na Edição Nacional, por erros de acabamento, provavelmente provocados por cortes mal feitos. E é exatamente a edição que vem para o Rio.

Corrupção

Segundo o ‘Estado’ e outros jornais com correspondente em Genebra, a relatora especial da ONU para o Combate à Corrupção foi aconselhada a adiar para depois das eleições de outubro a investigação que faria no Brasil (‘Missão da ONU sobre corrupção, só após eleições’).

O jornal recuperou hoje a notícia divulgada ontem por vários jornais de que o Banco Mundial ‘estuda formar `time anticorrupção´ em países’ (B7), mas continua atrasado no noticiário anticorrupção.



22/08/2006

O ‘Estado’ destaca, como manchete, que ‘MP pede à Justiça anulação da escolha de TV digital’. A Folha, primeiro jornal a informar que o governo se decidira pelo modelo japonês, registrou a iniciativa do Ministério Público, mas apenas internamente. A manchete foi para o caso dos sanguessugas: ‘Senado vai abrir processo de cassação de 3 senadores’. Manchete do ‘Globo’: ‘Banco Mundial vai negar dinheiro a país corrupto’. Não vi a notícia na Folha.

Eleições 2006

É curioso o critério adotado pelo jornal para os textos que complementam o noticiário eleitoral do dia (‘Saiba mais’ e ‘Memória’). Os dois textos de hoje, na página A7, acompanham as declarações do candidato Alckmin com títulos que reforçam críticas ao adversário, Lula.

Alckmin acusou Lula de ‘exterminador de empregos’ (‘Alckmin chama Lula de `exterminador de empregos´ por conta de juros altos’). Embora o texto ‘técnico’ informe que Lula criou muito mais empregos do que o governo do PSDB (FHC) e o Ministério do Trabalho tenha anunciado ontem um aumento de 34% de emprego formal, o título foi ‘Lula não criou todos os postos necessários’; ou seja, reforça a crítica de Alckmin.

Na outra reportagem, ‘Alckmin diz que vai usar Forças Armadas no combate ao crime’. Era de se supor que o texto de acompanhamento (no caso, uma ‘Memória’) fosse questionar a política de segurança do candidato no período em que governou São Paulo. Mas não, o jornal preferiu jogar o foco para Lula, que nada tinha a ver com a história: ‘Petista também já fez elogios aos militares’. E daí? O jornal ficou incomodado com os elogios feitos por Alckmin aos militares?

Não consegui entender as escolhas editoriais.

O TRE não proibiu o PT de atacar o candidato José Serra, como está no título ‘TRE proíbe candidatos de atacar Serra’ (pág. A8 da Edição Nacional). Como a reportagem explica, a propaganda do PT foi suspensa porque estava sendo veiculada no horário das candidaturas proporcionais. Ou seja, ela pode ser veiculada no horário destinado à disputa pelo governo de S. Paulo. Como está no título, fica parecendo que o candidato José Serra tem uma proteção indevida.

Líbano

O repórter do ‘Estado’ que ainda envia correspondência de Beirute conseguiu uma boa reportagem: ‘O diário de sobrevivência do gerente da TV Al-Manar’ conta como o canal do Hizbollah conseguiu se manter no ar durante os 34 dias do conflito com Israel apesar de seguidamente bombardeado.



21/08/2006

Folha e ‘Estado’ deram, no domingo, manchetes para investimentos jornalísticos próprios na economia. Não diria que chegam a ser pessimistas, mas os dois jornais prevêem, às vésperas das eleições, problemas para o futuro: ‘Endividamento chega ao limite e inibe crescimento’ (Folha) e ‘Atividade cai e PIB não deve passar de 3,5%’ (‘Estado’). A ver.

O ‘Globo’ foca na campanha eleitoral: ‘Justiça investiga 43% da bancada federal do Rio’.

Na edição de hoje, a Folha volta para a campanha eleitoral: ‘Em reduto de mensaleiro, Lula esconde ex-líder do PT’. O ‘Estado’ se volta para o Oriente Médio: ‘Líbano diz que punirá quem atacar Israel’. E o ‘Globo’, para a cidade: ‘Rio triplica o número de câmeras no trânsito’.

Eleições 2006

A cobertura eleitoral da Folha de hoje voltou a se render à inutilidade da troca de ofensas entre os candidatos: ‘Lula acusa os tucanos de `vomitarem´ preconceito’, ‘Alckmin chama Lula de arrogante’, ‘Heloísa diz que Lula fez `favelização agrária´‘.

O jornal fez bem em tentar ouvir o candidato ao governo de São Paulo José Serra depois que o candidato a presidente Lula acusou-o de ‘vomitar preconceito’ (‘Lula acusa os tucanos de `vomitarem´ preconceito’, pág. A5). Preocupado em garantir o direito de defesa de Serra, o jornal ainda fez um ‘Saiba mais’ em que explica que ‘Serra não citou nordestinos em sua entrevista’. São iniciativas jornalísticas corretas que ajudam a esclarecer os contextos das trocas de ofensas e garantem amplo direito de defesa aos ofendidos. Ótimo.

Melhor seria que estes princípios fossem aplicados a todos os candidatos. Imaginei, por exemplo, que no relato da campanha de ontem de Alckmin, em que ele diz que Lula é arrogante e virou as costas para a Justiça (‘Alckmin chama Lula de arrogante’, pág. A6), o jornal informaria que pelo menos tentara ouvir o presidente ou sua campanha para obter uma resposta. Mas não há registro de tal iniciativa. Imaginei também que haveria um ‘Saiba mais’ explicando as circunstâncias em que Lula falou na reeleição e gerou a resposta de Alckmin, de que fora arrogante. Também não encontrei. Imaginei ainda que o jornal tentaria ouvir Lula e Fernando Henrique Cardoso, para que respondessem à acusação da candidata Heloísa Helena de que não fizeram reforma agrária, mas ‘favelização agrária’ (‘Heloísa diz que Lua fez `favelização agrária´‘, pág. A6). Não há registro de que o jornal tenha tentando ouvi-los.

O jornal continua tratando as candidaturas de formas diferentes.

Se o jornal pretendia comparar os discursos de Lula com os de seus correligionários, deveria ter feito uma pesquisa melhor. A pauta era boa, mas o texto ‘Fala de petistas contrasta com o discurso de Lula’ (pág. A4) parece improvisado.

Correção

Correta a iniciativa do jornal de editar hoje o texto ‘Aécio não contabilizou despesas com praças como gastos na saúde’ (pág. A7). Corrige uma informação publicada domingo retrasado em reportagem sobre a gestão do governador Aécio Neves em Minas. A informação errada já havia sido corrigida na seção ‘Erramos’ de quinta-feira. Em caso de erro de informação, é melhor pecar pelo excesso. Imagino que a iniciativa passará a ser adotada em casos semelhantes.

Um caso que merecia mais do que a correção no ‘Erramos’ é o do resultado da pesquisa Datafolha sobre o aborto. Parte do raciocínio do jornal na Primeira Página do dia 13 partiu do entendimento errado de que 63% dos eleitores brasileiros condenam o aborto, quando este percentual se referia aos que acham que a lei atual – que permite o aborto nos casos de estupro e de risco de vida da mãe – deveria ser mantida. É bem diferente. O jornal reconheceu o erro no ‘Erramos’ de sábado (pág A3), mas acho que deveria ter feito uma reportagem, mesmo que pequena, com a leitura correta dos números.

Imprensa

São gravíssimas as acusações que pesam contra a imprensa de Manaus, segundo a reportagem de hoje ‘Para ter aposentadoria, vice do AM pressionou deputados’ (pág. A7). Não é o caso de se ouvir as entidades de classe?’