Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Diário cria polêmica ao não tirar gay do armário

No dia 22/3, o Washington Post publicou o obituário do major Alan G. Rogers, herói de guerra morto em uma explosão em Bagdá. Apesar de amigos de Rogers terem afirmado à repórter do diário que ele era homossexual, esta informação não foi mencionada no texto. O Washington Blade, jornal direcionado ao público gay, criticou o Post por não identificar a orientação sexual do militar.

A morte de Rogers, que tinha 40 anos, levantou uma pergunta que nunca terá resposta: será que ele queria ser identificado como gay?, indaga a ombudsman do diário, Deborah Howell, em sua coluna de domingo [30/3/08]. Os amigos do major afirmam que se fizeram a mesma pergunta, mas optaram por revelar ao Post a informação porque sabiam que ele queria que a política militar do ‘não, pergunte; não conte’ fosse extinta. A política de sigilo, estabelecida em 1993, proíbe militares de perguntarem sobre a vida sexual de membros em atividade, mas exige que aqueles que reconheçam abertamente sua homossexualidade sejam dispensados. Já para um primo e um amigo próximo do major, sua orientação sexual não era algo que merecesse destaque no obituário.

Na matéria do Post, Rogers é elogiado por seus superiores como um militar de conduta exemplar. Um grupo gay, no entanto, escreveu ao jornal defendendo que fosse feita uma matéria afirmando que ele foi o primeiro soldado ‘abertamente gay’ a morrer no Iraque. A repórter Donna St. George, escalada para fazer o artigo, entrevistou diversos amigos do major – todos disseram que ele era realmente gay, mas não dizia isto por conta do ‘não pergunte, não conte’.

Decisão difícil

Inicialmente, a repórter incluiu na matéria a observação dos amigos sobre a orientação sexual de Rogers, o que foi considerado por algumas pessoas no Post a solução ideal. Mas, antes da publicação, esta informação acabou omitida. Muitos editores discutiram sobre o assunto e, segundo eles, foi uma ‘decisão agonizante’. A palavra final sobre a não publicação coube ao editor-executivo Leonard Downie, que alegou não haver provas de que Rogers era gay e nenhuma indicação clara de que ele gostaria que a informação fosse tornada pública. Segundo Downie, a alegação de que Rogers era ex-tesoureiro do American Veterans for Equal Rights (AVER), associação pela eqüidade de direitos de veteranos americanos, não era suficiente, pois muitos jornalistas heterossexuais também pertencem à Associação Nacional de Jornalistas Gays e Lésbicas.

Segundo as normas do Post, ‘a orientação sexual de uma pessoa não deve ser mencionada a não ser que seja relevante à matéria. Nem todos que são associados a causas gays são considerados homossexuais. Quando identificar um indivíduo como gay, tenha cautela sobre invadir a privacidade de alguém que pode não querer que sua orientação sexual seja conhecida’.

Pontos de vista

Cathy Long, prima que era bastante próxima a Rogers, acredita que ‘o Post fez um ótimo trabalho’. ‘Pessoalmente, a família não sabia disto até sua morte. Era algo que imaginávamos, mas nunca tocávamos no assunto’. Por esta razão, Cathy ficou satisfeita com o Post não ter revelado que ele era gay.

Já os amigos têm opiniões distintas. James A. ‘Tony’ Smith, veterano da Força Aérea americana, disse ter conhecido Rogers através da AVER. Para ele, Rogers era ‘muito aberto sobre ser gay’. ‘Era algo importante em sua vida. Não mencionar isto é um desserviço a sua memória. Ele só não assumia porque queria continuar sendo militar’, afirma. Em e-mail ao Post, Kevin Naff, editor do Washington Blade, escreveu que estava claro que, ‘dentro do possível’ para um militar, Rogers levava uma vida abertamente gay. Ele trabalhava para uma organização de direitos gays, tinha amigos gays e freqüentava clubes gays em Washington. ‘É uma pena que o Post tenha optado por não apresentar um panorama completo da vida deste bravo homem’, lamenta.