Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Postesquece o noticiário local

Nas próximas semanas, o ombudsman do Washington Post vai escrever sobre como imagina o futuro do jornal e o que é necessário para que ele prospere, e não apenas sobreviva. Parte de suas reflexões será baseada em suas análises e seu instinto, mas a maioria se dará a partir do que dizem os leitores do jornal. “Eles são muito observadores, inteligentes, têm muitas ideias e uma crítica construtiva”, escreve, em sua coluna de domingo [11/11/12]..

Uma das queixas mais comuns entre os leitores é a seguinte: “O jornal está tão fino que não é preciso jogá-lo no portão da frente; basta enfiá-lo debaixo da porta.” Quando o ombudsman pede aos leitores para explicarem, eles começam por citar a seção “Metro” [editoria de notícias locais, da área metropolitana]. “Quase nem está lá. Em muitos dias, tem apenas seis páginas; às vezes, oito. A previsão do tempo ocupa a última página da seção; os obituários, normalmente mais duas; os colunistas e o box das loterias tomam mais uma fatia; e em muitos dias, a página B2 da seção é dedicada a um conteúdo especial, como educação, religião, a comunidade afrodescendente ou os servidores públicos federais”.

Isso significa que, em determinado dia, a seção “Metro” tem cinco matérias locais com chamada de primeira página e mais duas ou três nas páginas de dentro, além de alguns comentários. Isso não é correto – e não se trata de criticar o empenho dos editores e repórteres da seção “Metro”. Há mais notícias locais no jornal online. Mas a maior parte da receita do Post ainda vem de pessoas que compram o jornal impresso via assinatura ou nas bancas – e essas pessoas querem mais notícias locais no jornal.

O desafio é a oportunidade

Não se trata de uma opinião pessoal. Em maio, o investidor Warren Buffett escreveu em correspondência enviada aos editores e diretores de jornais que ele compra: “Acho que os jornais que cobrem em profundidade suas comunidades terão um bom futuro. Cabe a você tornar seu jornal indispensável para quem se preocupe com o que ocorre na cidade. Isso significará manter seu alvo de notícias – um jornal que reduz a cobertura de notícias importantes para a comunidade também reduz o seu número de leitores – e cobrir a fundo todos os aspectos da vida comunitária, em especial esportes locais. Nenhum leitor jamais irá parar no meio de uma matéria que é sobre ele e seus vizinhos.”

A impressão de um jornal é um processo caro e os bons anúncios são raros, mas seria o caso de aumentar o número de páginas diárias da seção “Metro” e enviar alguns repórteres para aumentar o foco sobre notícias locais, tanto no Distrito de Columbia (Washington) quanto nos condados vizinhos. A cobertura local é um desafio para um jornal de Washington. Abrange o Distrito de Columbia, os condados de Montgomery e Prince George, no Estado de Maryland, os condados de Fairfax, Arlington, Loudon e Prince William, na Virgínia, Alexandria, Rockville, Bowie e mais uma porção de pequenas municipalidades. E ainda as capitais Richmond e Annapolis. Exige muitos recursos. Mas o desafio é a oportunidade.

Woodward e Bernstein faziam cobertura local

Os condados vizinhos à capital são diferentes em suas identidades e alguns deles estão entre as jurisdições mais interessantes do país. Crescem rapidamente, são ricos e cada vez mais diversificados. O caso de Prince George é fascinante – um importante subúrbio da capital autogovernado por uma classe média afroamericana. Se Montgomery, Prince George e Fairfax fossem grandes cidades, estariam entre as 20 com maior população do país. A capital é a 21ª.

Há mais notícias locais no Post online. Mas ainda são poucas e difíceis de encontrar no site. O comando “U.S./Regional”, na parte de cima da homepage do Post, ajuda os leitores a encontrarem notícias locais. Mas se os leitores clicarem em “Local” e depois em “Virgínia”, ou “Maryland”, o conteúdo é mínimo – uma meia dúzia de matérias novas e as mais antigas, que ficam ali dias seguidos.

A capital e os condados vizinhos deveriam receber a cobertura das principais jurisdições metropolitanas em que se transformaram. Bob Woodward e Carl Bernstein, vale ressaltar, estavam fazendo a cobertura do governo e da polícia local – e não da Casa Branca – quando entraram para a história.