Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mario Vitor Santos

‘A retrospectiva de 2008, publicada no sábado pelo Último Segundo, parece o resumo de muitas falhas que ainda existem no jornalismo do iG. Talvez uma falta de planejamento tenha forçado este material denominado de ‘especial’ a ser publicado em uma página comum do Último Segundo, na editoria de Brasil. Isso é estranho, pois a retrospectiva é de todas as editorias.

Outro equívoco constrangedor é que infográfico – o maior destaque da página – vem a ser exatamente igual ao da retrospectiva do ano passado, como se pode conferir aqui. Apesar do empenho do especial, eu questiono se 2008 pode mesmo ser considerado um ano bom para o jornalismo do iG como um todo.

Um dos links presentes na retrospentiva remete a uma enquete acompanhada de um vídeo em que pessoas foram entrevistadas não a respeito do impacto dos principais fatos do ano, mas sobre como esses apareceram no iG. É de surpreender que todos os depoimentos publicados sejam favoráveis ao jornalismo do iG.

Com tons de propaganda, outro link apresenta um raríssimo ‘editorial do Último Segundo’ em vídeo. De um editorial se esperam opiniões fortes – não necessariamente assinadas – do veículo. No entanto, a peça restringe-se a resumir os esforços da equipe de jornalismo nas principais coberturas. Onde está a opinião? Quais os pontos fortes e os outros em que seria necesssário ter feito mais?

Mais abaixo da ‘nota retrospectiva’, está o Giro Último Segundo Especial, outro resumo das notícias mais marcantes do ano. Aí sim aparece a opinião do iG, com falas de colunistas como Caio Blinder (Mundo), Ricardo Kotscho (Brasil), José Paulo Kupfer (Economia) e Flávio Gomes (Esportes). Tudo redondo, informativo, não fosse um inaceitável erro de concordância na apresentação da cobertura da Operação Satiagraha, em que se diz que ‘a cena SÃO resultado da operação…’. Outros vídeos, bem feitos, tiveram menor destaque na nota, como o de Cultura, o de Esportes, o de tragédias naturais e o de notícias ‘bizarras’.

Impossível obter a retrospectiva perfeita, mas muito do que apareceu no ‘especial’ do Último Segundo é a síntese de algumas falhas recorrentes já comentadas neste blog, como a falta de cobertura mais profunda em Mundo, o amadorismo do Giro Último Segundo, a ausência de editoriais, as deficiências na reportagem, a falta de cobertura adequada em Brasília, o engessamento da capa do iG, o anúncio de notícias recicladas como novidade e muitos outros detalhes que precisam ser repensados em 2009 para que a próxima retrospectiva reflita realmente o retrato singular de um ano marcante.

A posição do Brasil no IDH, 23/12

Na quinta-feira passada, o iG publicou uma notícia na capa que dizia que apesar do avanço no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil havia sido ultrapassado pela Venezuela. Recebi a seguinte mensagem da internauta Gabriela Campos, contestando a informação:

‘Há um erro na notícia ‘Brasil avança no IDH, mas é ultrapassado pela Venezuela’. A rigor, a Venezuela sempre esteve à frente do Brasil — isso fica muito claro no último gráfico publicado no site do PNUD.

A Venezuela só ultrapassa o Brasil quando se compara o dado divulgado no ano passado (referente a 2005) com o divulgado hoje (referente a 2006). Mas essa comparação é equivocada, pois a metodologia mudou. Ainda bem que o Pnud recalculou os dados anteriores usando a metodologia nova, e aí fica claro que a Venezuela sempre esteve à frente do Brasil (como mostra a tabela Trends divulgada pelo Pnud).

Aliás, com base nessa tabela fica claro que, a rigor, não é verdade que o Brasil estava em 70º no ano passado e ficou na mesma posição este ano. Na verdade, aplicando a mesma metodologia deste ano ao ranking anterior, o Brasil subiu uma posição: de 71 para 70 entre 2005 e 2006.’

Mensagem encaminhada à redação, na sexta-feira, a internauta obteve a seguinte resposta do editor de Brasil, Leandro Beguoci:

‘O texto deixa claro que a Venezuela ultrapassou o Brasil em relação ao ranking passado. Essa informação é divulgada pelo próprio PNUD. Eis o que informa o texto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento:

‘Os números (recalculados com nova metodologia, inclusive para anos anteriores) mostram que o Brasil atingiu IDH de 0,802 em 2005 e de 0,807 em 2006, ficando em 70º em ambos os anos – o índice varia de 0 a 1. O resultado mantém o país entre as nações de alto desenvolvimento humano (IDH maior ou igual a 0,800), posição que passou a ocupar após a divulgação do Relatório de Desenvolvimento Humano do ano passado. No ranking atual, o Brasil aparece abaixo da Albânia e acima do Cazaquistão (ambos com 0,807, com pequena desvantagem ou vantagem no cálculo com cinco casas decimais). Em relação ao ranking passado, o Brasil foi ultrapassado pela Venezuela (61º no ranking, IDH de 0,826), pela ilha de Santa Lúcia, nas Antilhas (66º, IDH de 0,821) e pela entrada de duas novas nações na lista: Montenegro e Sérvia (64º e 65 º, respectivamente).’

Gabriela Campos contesta novamente a informação passada pelo Último Segundo:

‘Você cita um texto do Pnud que diz que a Venezuela ultrapassou o Brasil. Eu citei um que mostra o contrário. Que tal irmos, então, diretamente à fonte dos dados?

*Só há uma tabela que mostra a série história do IDH, calculada de acordo com a nova metodologia (essa tabela, reitero, está na planilha Trends). Se o iG se dispuser a verificar o desempenho de Brasil e Venezuela ao longo dos anos (desde 1980), verificará que em nenhum momento o Brasil esteve à frente da Venezuela (e, portanto, esta não pode tê-lo ultrapassado).

*Comparar o ranking publicado no ano passado com o publicado neste ano é comparar banana com maçã. A metodologia é diferente. É porque a metodologia mudou que o PNUD elaborou a tal tabela Trends a que me referi, recalculando os dados de 2005, 2004, 2003, 2000 e outros anos.

Por isso, insisto que o iG deve uma correção a seus leitores.’

O que fazer?

Na verdade, este ombudsman acredita que o iG omitiu em sua notícia a informação de que a metodologia havia mudado, abrindo espaço para confusões e interpretações erradas a respeito do ranking deste e de outros anos. Na página encaminhada diretamente pelo iG à internauta (e somente a ela, não a este ombudsman, infelizmente ) o PNUD faz a seguinte declaração:

‘Os indicadores e a metodologia usados neste ano foram revisados e aperfeiçoados em relação aos do ano passado. A maior alteração se deu por conta de uma grande atualização do Banco Mundial e da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) nos dados que compõem o Produto Interno Bruto per capita, ajustado pela paridade do poder de compra (dólar PPC, método que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Até o ano passado, para efeito de comparação de PIBs entre países, eram usados preços de 1993. A revisão atualizou os preços para 2005. O novo cálculo fez com que o PIB de 70 países fossem revisados para baixo e os de 60 outras nações, para cima – o que explica grandes diferenças em relação ao ranking divulgado em 2007, como o Equador, que subiu 17 posições, a Venezuela, que subiu 13 (nos dados recalculados, ela não chegou a ser ultrapassada pelo Brasil, conforme mostrava o RDH do ano passado) ou a China, que caiu 13.

Por conta dessas diferenças metodológicas, o IDH não pode ser comparado aos divulgados em anos anteriores. Porém, para permitir a identificação de tendências, o PNUD usou os novos métodos para recalcular o IDH de 2005 e de outros 7 anos de referência: 1980, 1985, 1990, 1995 2000, 2003 e 2004.’

A exigência de correção por parte da internauta é não apenas válida, mas urgente. O iG deve sempre procurar dar todas as informações relevantes a respeito de um assunto. Corrigir, esclarecer, completar as notícias são hábitos que o iG adota com raridade e enorme resistência.

O estado ineficiente socorre as empresas eficientes, 23/12

O leitor veja a força religiosa e objetiva da ideologia, como aponta a preciosa mensagem de Irineu Franco Perpétuo, abaixo:

‘Há exatos 20 anos, a euforia neoliberal da queda do muro de Berlim. Collor surfou nessa onda: dizia-se que tudo tinha que ser privatizado, porque as empresas estatais eram corruptas, ineficientes, etc.

Pois bem: olha só que virada interessante no jogo aconteceu com esse pacote das montadoras americanas. O governo dos EUA não está simplesmente dando dinheiro para salvar a Chrysler e a GM. Não: ele está IMPONDO que as montadoras SE TORNEM MAIS EFICIENTES, CORTEM GASTOS, ETC. Ah, e tem mais: como não dá para garantir que elas consigam fazer isso sozinhas, está criando um cargo de chefia, um tsar das montadoras, um funcionário DO GOVERNO para zelar pela gestão correta, profissional e eficiente das empresas.

Moral da história: se deixadas sozinhas, guiadas pela ‘mão invisível’ do mercado, as montadoras não conseguem serem rentáveis, eficientes, competitivas, etc. É necessária uma pesada intervenção ESTATAL para garantir que as ineficientes empresas privadas consigam funcionar direito…’

Os analistas e editorialistas deveriam agora levar o tema em consideração. Será que vão?

iG publica edital velho, 22/12

O internauta Miguel Nicolau Gagliardo chama atenção para grave erro no canal de Concursos do iG:

‘Realmente tá difícil. Vocês veiculam uma chamada de um concurso no Banco Central só que enviam o edital do concurso do ano de 2005/2006. Assim não dá, ou melhor, quem fez a chamada nem leu o edital para ver se estava certo’.

Como disse o internauta, o edital linkado é mesmo o de 2005. A falta de atenção do iG compromete a inscrição de interessados em um dos principais concursos do país.

O portal deve uma boa explicação aos internautas.’