Saturday, 04 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Osama, Obama e os agitos de domingo à noite

A jornalista Helene Cooper, que cobre a Casa Branca pelo New York Times, lembra que estava de pijama no sofá vendo uma gravação do casamento real pouco antes das 22h quando o editor de final de semana de Washington, David Joachim, ligou para perguntar se ela tinha visto o boletim da Casa Branca informando que o presidente iria fazer uma declaração às 22h30.

Nas horas seguintes do que seria um calmo fim de domingo, o aparato completo do NYTimes iria se mobilizar para fazer a cobertura da morte de Osama bin Laden, conta, em sua coluna, o ombudsman Arthur S. Brisbane [8/5/11]. Como Helene, o fotógrafo Doug Mills estava em casa quando recebeu o telefonema da secretaria de imprensa da Casa Branca, lhe informando do discurso presidencial. Quando se aproximou do local com o carro, notou a presença massiva de veículos do Serviço Secreto. Ao entrar, perguntou a uma fonte se eles haviam capturado o ditador líbio Muamar Kadafi, quando ouviu a resposta: ‘Não. Foi bin Laden’.

Quando Helene recebeu a ligação de Mills, ele já havia lhe sugerido que podia ter algo a ver com bin Laden. Ela, então, passou rapidamente um email para Mark Mazzetti, que cobre a CIA, e Dean Baquet, chefe de redação da sucursal de Washington, contando suas impressões e as do fotógrafo. Ao tentar confirmar a informação, Helene enviou emails para nove fontes com a mesma pergunta: ‘Foi bin Laden?’. Um respondeu que não poderia responder, mas sugeriu que os repórteres que cobrem segurança nacional deveriam ser mobilizados.

Capturado não, morto

Depois disso, a repórter escreveu uma matéria com dois parágrafos dizendo que bin Laden havia sido capturado – mas não a enviou. Helene lembrou de uma fonte que poderia confirmar o dado, perguntou-lhe se haviam capturado o terrorista e ouviu dela a resposta: o haviam assassinado. A jornalista mudou em seu texto o termo ‘capturado’ por ‘morto’, e o enviou para a redação em um email com o assunto ‘Urgente: postar o mais rápido possível’.

A esta altura, Baquet estava já na redação em Washington, em contato com Alison Mitchell, editora encarregada da cobertura nos fins de semana em Nova York, e com a chefe de redação Jill Abramson. Depois de ele ter achado que a confirmação de Helene com a fonte era suficiente, Alison e Jill decidiram colocar a informação no site. Um alerta de uma linha foi publicado às 22h40, divulgando a morte de bin Laden.

Parem as máquinas!

Correndo contra o tempo, Jill estava trabalhando com Mitchell para a cobertura impressa, pedindo para interromper as máquinas na gráfica para mudarem a capa. Quatro artigos sobre o assunto, incluindo um obituário de duas páginas, colocariam de lado matérias e anúncios. Em uma troca de emails com Bill Keller, editor-executivo, que estava em casa, ela disse que não achava que o NYTimes deveria usar o pronome de tratamento ‘senhor’ (Mr. Bin Laden). Ele concordou, acrescentando que não é usado para Stalin, por exemplo.

Segundo a porta-voz Eileen Murphy, gráficas em seis cidades diferentes, fora de Nova York, conseguiram imprimir cópias com a manchete da morte de bin Laden: Boston; Springfield, na Virginia; Chicago; Concord, na Califórnia; Los Angeles e Seattle. No Queens, cerca de sete mil cópias que já haviam sido impressas tiveram que ser destruídas. No total, 165 mil exemplares extras foram impressos.

No mundo virtual, a mobilização também foi grande. Depois de o alerta de Helene ter sido postado no site, Jeff Zeleny, correspondente político do jornal, postou no Twitter a confirmação da morte de bin Laden e afirmou que o presidente a anunciaria em breve na Casa Branca. Jim Roberts, editor assistente, fez o mesmo. As próximas 24 horas foram de muito esforço nas edições impressa e online para produzir especiais e aguentar o aumento do tráfego na rede.