Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paulo Machado

‘‘Navegar nos séculos XV e XVI era uma tarefa muito arriscada, principalmente quando se tratava de mares desconhecidos. Era muito comum o medo gerado pela falta de conhecimento e pela imaginação da época. Muitos acreditavam que o mar pudesse ser habitado por monstros, enquanto outros tinham uma visão da terra como algo plano e , portanto, ao navegar para o ‘fim’ a caravela poderia cair num grande abismo.’(*)

Naquela época, conhecida como a Era das Grandes Navegações, o mundo ocidental lançou-se ao mar, desafiou as fronteiras até então conhecidas para chegar ao ‘novo mundo’ e descobrir que o planeta era redondo, ou seja, sem começo, meio ou fim, e que o único abismo que existia era o da ignorância.

Cinco séculos se passaram e lá vai a humanidade vencendo a mais um desafio: o descobrimento do ‘novo mundo digital’ – navegar é preciso, diz a música. As cartas marítimas daquela época eram bastante precárias mas aos poucos evoluíram graças a instrumentos de navegação como a bússola, o astrolábio e a balestilha. Estes dois últimos utilizavam a localização dos astros como pontos de referência.

Na navegação digital não são novas terras que se descobrem, mas séculos de conhecimento e informação até agora disponíveis para poucos. No universo cibernético os instrumentos de navegação são os sites de busca que nos fornecem as pistas de onde encontrar o que precisamos, e não precisamos – cabe a cada um escolher, mapear seu próprio caminho até o conhecimento desejado. Para isso a informação nos fornece os pontos cardeais – os links são seus pontos de acesso.

Ao ler as matérias da Agência Brasil os leitores ficam sabendo sobre o que está acontecendo e aonde, mas precisam dos pontos cardeais para chegar ao conhecimento específico do assunto.

A leitora Francine Tavares escreveu: ‘Como faço para baixar a Cartilha dos direitos do consumidor da web? Li a nota, mas não encontrei o endereço para download.’, referindo-se à notícia Ministério da Justiça lança cartilha para proteger quem faz compras pela internet, publicada dia 20 de agosto. A ABr respondeu: ‘A leitora vai encontrar a informação no portal do Ministério da Justiça, na Secretaria de Direito Econômico’.

Nem a matéria nem a resposta da ABr fornecem o link do portal do Ministério da Justiça e tampouco explicam que o leitor ainda tem de entrar no Portal do Cidadão e depois clicar na barra ‘Direito do Consumidor’, abrir a Notícia ‘SNDC divulga documento com diretrizes para compras pela internet’ para chegar ao link e baixar a cartilha.

Uma outra notícia: IBGE faz nova seleção para contratar mais 2 mil recenseadores, publicada dia 18 de agosto, despertou o interesse da leitora Joanes que perguntou: ‘eu moro na cidade de Santos- SP, e gostaria de saber onde fazer a inscrição para o IBGE’. A ABr respondeu: ‘Não temos como informar o leitor. Ele deve buscar esta informação no IBGE.’

No entanto, na própria nota divulgada pelo Instituto, de onde a Agência Brasil tirou a referida matéria, consta o link do edital. No Anexo V do mesmo constam os locais de atendimentos.

Outra leitora, Lavinia Dolores, leu a notícia Programa Petrobras Jovem Aprendiz abre inscrições no Rio, publicada dia 05 de julho, e reclamou: ‘Sinto falta do link do edital nas noticias veiculadas pela internet sobre o programa Jovem Aprendiz da Petrobras. Quero novas informações e não tenho o link para buscá-las.’ A ABr respondeu: ‘Não temos o link do edital. A leitora poderá obtê-lo no portal da Petrobras.’

Neste caso, o próprio site da Petrobras não fornece o ‘mapa da mina’ mas a reportagem poderia ter direcionado os leitores para o Serviço de Atendimento ao Cliente – SAC da empresa ou para a Ouvidoria da mesma. Em uma busca mais detalhada por esses ‘mares desconhecidos’ descobrimos o referido edital em: http://www.editaisbrasil.com.br/petrobras-cursos-aprendiz-37629.html. Com um pouco de apuração esta informação poderia constar da matéria.

Assim, fornecer os links, ajudar a navegar, faz parte da missão da empresa pública de comunicação que além de informar deve formar o cidadão para o exercício pleno da navegação no universo do conhecimento. Os jornalistas são os cartógrafos desta nova era das grandes navegações.

Até a próxima semana.

(*) http://www.suapesquisa.com/grandesnavegacoes/’