Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paulo Rogério

‘‘O jornalismo policial tem uma conhecida tendência oficialista. Os repórteres disputam o furo e a exclusividade. Fazem de tudo para ter acesso aos policiais que detêm as informações’’ – Mário Vitor Santos, jornalista

Nem pesquisas eleitorais, nem debates, nem denúncias. Surpreendentemente na última semana da eleição que define a sucessão presidencial, o foco da imprensa local foi a violência. A eleição ficou em segundo plano. O noticiário policial dominou as manchetes e com ele as várias versões de um mesmo fato. Diante da briga por detalhes, o leitor acabou sem saber ao certo em quem acreditar. Em cinco dias, de segunda a sexta-feira, os três principais jornais cearenses – O POVO, Diário do Nordeste e O Estado – usaram como manchete, em três edições, o mesmo tema. E quase com palavras idênticas. Uma homogeneidade preocupante. Mas esse não é o problema. A questão é a forma com que os detalhes foram mostrados. Cada um com sua própria versão. No primeiro caso, segunda-feira, os jornais brigaram entre si ao informar que o policial morto em Aracati estava só, com cinco outros policiais ou se um ou dois bandidos saíram feridos.

No dia seguinte o padre Josenir Santana foi encontrado morto. As versões são variadas. Para um jornal foi um tiro, para outro, dois. Um jornal citou uma festa na cidade onde o padre estava. Outros não falaram nada. Até um suspeito apareceu em cena através de um delegado, o mesmo que desmentiu a versão no dia seguinte, em outro jornal. Já na sexta-feira, após assalto em Ibicuitinga, ficou a dúvida: os ladrões levaram ou não o dinheiro dos caixas eletrônicos? Os jornais entraram em contradição.

Uma questão levantada após comentário interno do Ombudsman merece reflexão: seria leviano publicar informação não confirmada pela Polícia? Sim, respondi. Mais leviano ainda é não checar cada uma delas. A primeira regra é não ficar preso às versões oficiais. Outra: cultivar fontes. A terceira, nem sempre seguida, fazer investigações paralelas. Não que o jornalista vire polícia, mas que ele sempre questione, vá ao local, entreviste testemunhas e confronte dados. A imprensa precisa ir além da simples transcrição do que os delegados declaram.

Na base do tubão

Muitos jornais utilizam a transmissão de partidas pela TV para produzir a matéria do dia seguinte. Entre os jornalistas é chamado de jogo ‘via tubão’. Lembro de um caso, há 10 anos, quando um jornalista, como brincadeira, escreveu que uma transmissão seria feita pela rádio O Povo ‘na base do tubão’. Ele confiou que o editor cortasse na revisão. Não foi o que aconteceu e o resultado acabou sendo uma enorme confusão. A situação não mudou hoje. O resultado é que o jornalista fica refém da transmissão, correndo risco de uma falta de energia ou do canal ficar sem sinal.

O leitor sabe disso. Seis deles ligaram na última sexta-feira, indignados com a troca do nome do autor do gol de empate do Ceará contra o Atlético (GO). Michel marcou, mas O POVO creditou o gol para o lateral Boiadeiro. ‘Um erro deste não tem explicação. Todo mundo viu na TV’ protestou José Felício. Ele tem razão. A matéria, incluindo a chamada de 1º página, estava errada. Para o leitor Paulo Rocha há outros problemas. ‘A descrição do gol do Atlético distorce tudo’ ressaltou. Realmente, o jornal publica que o jogador ‘bateu no canto após receber a bola, sem marcação’. Nada disso ocorreu. O atleta estava marcado e ganhou a jogada após disputa com zagueiro. Tudo via satélite.

Entrevista reveladora

A seção Páginas Azuis é publicada às segundas-feiras e sempre procura trazer um personagem interessante. Nem sempre é fácil, mas no último dia 25, O POVO conseguiu uma boa entrevistar com o ex-governador Adauto Bezerra. O leitor José Mário elogiou: ‘Tinha muitas coisas que a gente nem sabia’. Entre as questões, destaque para a derrota de Tasso Jereissati nas eleições. É bom lembrar que Tasso praticamente acabou com a força política de Adauto na década de 80. Para o leitor Francisco Rolim Junior, no entanto, o jornal exagerou. ‘Tem tantos outros assuntos. Não suporto mais ver essa dor de cotovelo’ criticou. É verdade que o senador perdeu, mas a atuação política dele é forte e merece ser acompanhada pela mídia.

Balanço

O penúltimo balanço de atividades do ombudsman em 2010 demonstra uma queda no número de atendimentos ao leitor em relação ao último levantamento. Durante o período de 31 de agosto a 28 de outubro foram registrados 153 atendimentos, cerca de 10% a mesmos que o anterior (176). A média de atendimentos foi de 2,5 diários com a publicação de 58 erramos.

Esquecido pela mídia: Processo do Tribunal de Contas do Município relativo ao Réveillon 2006/2007.’