Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Paulo Rogério

‘‘Todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral …’ – Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5º, inciso XXXIII.

Desde o dia 14 de maio, O POVO está encontrando dificuldades em ouvir a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, ou assessores dela para confirmar informações sobre a questão do estaleiro. O obstáculo é visível nos inúmeros procedimentos das matérias. A justificativa é que sempre os celulares estão desligados ou não houve retorno aos e-mails. Informar as tentativas de contato é uma das regras do Guia de Redação e Estilo para comunicar ao leitor que houve o esforço na apuração completa.

A informação dada no próprio O POVO Online (Blog do Eliomar) era de que a prefeita estava em ‘greve com o jornal’. A decisão seria uma resposta às críticas feitas na matéria ‘Luizianne na cidade das maravilhas’, publicada dias antes e que confrontava o anúncio de projetos com o que havia realmente saído do papel na atual gestão. O resultado é que, durante a semana, os leitores do O POVO ficaram sem saber da possibilidade do estaleiro ir para o Pirambu e que o Titanzinho e Inace estavam descartados, informações dadas a outros veículos de comunicação.

As reais vítimas

Se há ou não greve, não importa. É direito do cidadão ter as informações sobre as decisões que podem influenciar sua vida. Indagado, o jornalista Demétrio Andrade, coordenador de Jornalismo e Publicidade da Prefeitura da Fortaleza, não confirmou nem negou a decisão da prefeita. A chefia de Redação do O POVO diz estar ciente da situação e desde então há dificuldades. ‘Reconhecemos à prefeita o direito de discordar de nossa cobertura, mas ela não tem direito de criar obstáculos para o acesso à informação de interesse público’, alega a Chefia, citando o artigo 242* da Constituição Estadual. ‘A atitude, portanto, merece ser repudiada fortemente, não porque ela atinge a nós, mas porque atinge a todos os que têm direito a receber essas informações’, afirmou.

Tudo é possível

A luta do Ceará, sem grandes estrelas, diante do Santos, campeão paulista e sensação do futebol brasileiro da atualidade. Esse era o panorama que a matéria ‘Reza e retranca’ do O POVO anunciou ao falar do confronto entre os dois times, na edição de domingo, dia 16 de maio. Segundo o texto, uma ‘missão (quase) impossível’ para os cearenses. Os leitores não gostaram. ‘Pensar como os poderosos do Sul e Sudeste que nos enxergam como outro tipo de raça é fomentar o abismo entre as regiões’, protestou Sérgio Figueiredo. Outro leitor, Carlos Edmundo Medeiros, cearense que mora no Rio de Janeiro, disse que a matéria tinha um tom jocoso. A maior queixa, no entanto, foi com o título. ‘A palavra reza é um deboche. Bastaria escrever -Ceará aposta na defesa para barrar Santos’, explicou.

Sempre quando se falar (ou se escrever) sobre futebol é importante lembrar o fator paixão. O texto criticado mostrou o bom retrospecto do Santos e de suas estrelas, o que é inegável. Assim como também é inegável a inferioridade técnica do time cearense em relação aos santistas. O texto está perfeito. Já com relação ao título, concordo com os leitores. O termo ‘reza’ pecou na irreverência e não encontrou apoio no texto. O repórter Demitri Túlio, que editou o GOL! naquele dia, descarta o deboche. ‘No jornalismo esportivo cabe também o humor. E quanto ‘a missão quase impossível’, tratava-se da metáfora de um Davi contra um Golias. Ou isso não foi fato?’, argumentou. O fato é que o Ceará empatou e no futebol nada é impossível.

Figurinha fácil

Em época de eleições como esta, os jornais precisam estar atentos ao incessante bombardeio de políticos e seus assessores em busca de ‘propaganda’ gratuita. Colunas e a editoria específica da área são as mais assediadas. Quem pensa que os leitores não percebem os excessos está enganando. O leitor Ireleudo Benevides é um deles. ‘Por que toda a matéria que fala do Eunício Oliveira (pré-candidato ao Senado pelo PMDB) tem que ir com foto dele?’, indagou o leitor. Provocado, fiz um levantamento nas edições dos dias 9 a 20 de maio, sem qualquer conotação científica e sem levar em conta a importância factual. A análise recaiu também sobre os outros pré-candidatos ao Senado: José Pimentel e Tasso Jereissati. Mais uma vez, o leitor tinha razão. Durante o período foram publicadas 19 fotos dos personagens. A maioria é de Eunício Oliveira, com oito fotos, sendo duas em colunas sociais. Tasso aparece com seis, também com duas fotos em colunas e Pimentel com cinco, com uma em coluna social.

Espaço perdido

Jornalismo é informação não publicidade. O leitor Francisco Assis dos Santos Filho concorda com esta máxima e questiona a importância da notícia veiculada no ‘Dois Minutos’ da Página 2, edição do dia 20 de maio, com o título IODICE. ‘Qual a relevância da inauguração de uma loja particular? Propaganda gratuita ou paga? Sendo gratuita, gostaria de ter uma veiculada no mesmo espaço de minha clínica e que também tem a presença do seu fundador, ou seja, eu ‘ironizou’. Ele tem razão. A nota é pura publicidade da loja de jeans que estava sendo inaugurada e da firma autora do projeto de iluminação. Nunca foi jornalismo.

* Art. 242. Os órgãos públicos da administração direta e indireta são obrigados a atender a pedidos de informação dos profissionais de comunicação social, dos veículos de comunicação de massa ou de quaisquer cidadãos interessados em questões de relevante interesse público.’