Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paulo Rogério

‘Não se faz jornalismo sem se fazer vítimas’

Heródoto Barbeiro, jornalista

“O ‘escândalo dos banheiros’ denunciado pelo O POVO na quinta-feira, 14 de julho, deu uma completa reviravolta em uma semana colocando no mesmo vaso problemas maiores. Uma suposta irregularidade entre a Secretaria de Cidades e entidades do Interior terminou envolvendo o deputado Téo Menezes e funcionários do Tribunal de Contas do Estado (TCE), órgão responsável – ironicamente – em fiscalizar contas do Estado. Pressionado, o presidente do TCE, Teodorico Menezes, pai de Téo, deixou o cargo. O jornal teve força, fôlego e sensibilidade para investir na pauta. Foram sete manchetes em nove dias – do dia 14 ao dia 22. Trabalho que obteve reconhecimento dos leitores. ‘As páginas honram o melhor jornalismo. O silêncio pode ser cúmplice; O POVO não silenciou, felizmente’ afirmou Célio Facó. ‘Tenho o Grupo O POVO como minha ‘arma’ de manifestação. Por isso falo que continuem com esta cobertura’ reiterou Gerson Lima. De fato a editoria de Política ampliou a cobertura visitando cidades, ligando fatos e pessoas e mostrando ramificações do esquema. Na quinta-feira (21) usou de forma excelente o recurso do infográfico contextualizando toda mazela sanitária. A iniciativa asséptica gerou demandas. Segundo o editor executivo do Núcleo de Conjuntura, Guálter George, cresceram as sugestões. ‘Temos sido muito estimulados pelos leitores/internautas a manter o tema em pauta’.

SEM BERÇO ESPLÊNDIDO

Mas junto com os elogios surgiram cobranças. ‘Porque o Secretário de Cidades não viu que o endereço – das associações – era frio? Queremos uma explicação, já!’ exigiu a leitora Carolina Barreto. Outro leitor, Antônio Araújo, queixou-se que o jornal não se empenhou em apurar a responsabilidade de quem liberou dinheiro. Para ele falta questionar Camilo Santana, atual secretário e forte candidato à sucessão na Prefeitura de Fortaleza, e Jurandir Santiago, secretario anterior, e hoje presidente do BNB. ‘Cadê a responsabilidade do Governo do Estado? Completou Fernanda Alves. Há razão para a chiadeira. O jornal foi com profundidade para um lado e nem tanto para a outra ponta da latrina. Camilo Santana, até sexta-feira, não se manifestou. Ora, em 2010, foram gastos R$ 8,7 milhões para o ‘pipi saudável’. Não é pouco não. Ainda há tempo para esclarecer questões como quais os critérios para escolha das associações? Quem aprova? Quem fiscaliza obras? Porque o dinheiro foi liberado sem as ‘casinhas’ prontas? Vou mais adiante: falta ao jornal cobrar explicações do governador Cid Gomes e um posicionamento dos deputados. É correr atrás.

MENINO VÉI

Antes de dar a descarga no caso ficam algumas reflexões para o jornalismo cearense, principalmente nos veículos impressos. Primeiro a necessidade de ouvir os leitores – a pauta foi sugerida pelo leitor Ricardo Ruiz. Depois, os bons resultados de matérias investigativas locais como forma de fugir do noticiário factual, já explorado por sites, rádios e tevês.

Ao mesmo tempo sobra uma constatação negativa. Os jornais – todos – continuam com um vício de mais de 30 anos: o que um publica o outro despreza. No ‘escândalo dos banheiros’ O POVO ficou sozinho na cobertura por sete dias. Somente na quinta-feira é que o Diário do Nordeste registrou a saída do presidente do TCE, sem qualquer contextualização dos fatos. Um mero registro. O Estado nem isso.

Ora, o cearense mal lê um jornal todos os dias, quem dirá os três. Porque privá-lo de informações só porque o concorrente divulgou primeiro? Não sou ombudsman nem do DN nem do O Estado, mas, em defesa do jornalismo e do direito do leitor, considero a atitude já ultrapassada.

Concorrência não é isto. Para mim parece mais coisa de ‘menino véi amarelo’. É hora de evoluir.

FOMOS BEM

ANIVERSÁRIO

Caderno Especial sobre o centenário da fundação de Juazeiro do Norte, publicado na última sexta-feira.

FOMOS MAL

MORTE NO HOSPITAL

Jornal chegou atrasado ao caso da idosa morta por troca de medicamento em Missão Velha.

Esquecido pela mídia: Como anda no TSE processo de cassação de mandato de 10 governadores.”