Saturday, 04 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Suzana Singer

“COMO NA Fórmula 1,‘ser o primeiro’ é uma das metas do jornalismo on-line. Em ritmo frenético, os sites disputam diariamente quem vai dar a notícia antes dos outros.

Na quarta-feira, a Folha.com derrapou feio nessa corrida. Às 18h34, quando ainda acontecia o julgamento no Supremo Tribunal Federal, saiu a notícia ‘‘Supremo decide extraditar Cesare Battisti à Itália’. Antes do título, um aviso: ‘‘NÃO PUBLICAR – TXT FAKE’.

O erro foi percebido em apenas cinco minutos, tempo suficiente para repercutir no Twitter. ‘Folha extradita Battisti antes da hora.’ ‘Serra deve ter ligado para Gilmar de novo e barrigou.’

Piadas à parte, o erro do site diz muito sobre a lógica -ainda mal digerida- do noticiário na web. Com milhões de internautas aptos a publicar, sem mediação, em blogs ou redes sociais, há uma pressão crescente pela notícia em primeira mão.

O assassinato de Bin Laden, a notícia do ano até agora, foi furo do Twitter. Numa noite de domingo (22h25, horário dos EUA, de 1º de maio), um ex-membro do Departamento de Defesa postou: ‘Uma pessoa de confiança me contou que mataram Bin Laden. Caramba!’

Minutos depois, fontes da Casa Branca confirmavam a informação a repórteres de confiança, mas em ‘‘off’, para não tirarem do presidente Obama a primazia do anúncio.

Enquanto ele escrevia o discurso, a notícia bombava no Facebook. O ‘‘New York Times’ deu às 22h40. TVs interromperam a programação, cinco minutos depois, para anunciar o fim do ‘inimigo nº 1’. Quando Obama começou a falar, às 23h35, mais de uma hora depois de ser furado no Twitter, havia milhares de espectadores esperando para ouvir a confirmação do presidente.

A morte de Michael Jackson, em 25 de junho de 2009, vazou também fora dos principais órgãos de imprensa. Um site de fofocas, o TMZ, deu a notícia às 14h44 (horário da Califórnia), apenas 18 minutos depois de a morte do astro pop ter sido constatada pelos paramédicos.

Com medo de confiar num site controverso, a mídia esperou que o ‘Los Angeles Times’ soltasse a notícia, o que aconteceu às 14h51.

Os principais órgãos de imprensa vêm percebendo que credibilidade é o que os diferencia nesse mar de informações da rede. Se é verdade que houve uma democratização das fontes, também é fato que, quando acontece algo realmente importante, as pessoas correm a certificar-se nos sites de prestígio -quase todos extensões de marcas do meio impresso ou televisivo.

Não se trata de ignorar a importância da velocidade, mas de colocar mais peso na checagem e na formulação dos textos. Pressa é quase sempre sinônimo de frases malfeitas, de parágrafos descosturados e de falta de contextualização.

A queda de Palocci, por exemplo, foi noticiada primeiro na Folha.com, mas o texto à disposição dos leitores na noite de terça-feira era confuso e mal-ajambrado. O parágrafo inicial já falava de mais um ministro em processo de fritura, antes mesmo de explicar o que havia sido decidido sobre a Casa Civil.

Para sobreviver na era do jornalismo digital, é preciso ser ágil para atender a sede frenética por novidades do internauta, mas qualidade será cada vez mais importante.

Seções somem sem um aviso

Sem aviso aos leitores, algumas seções sumiram. O ‘‘Toda Mídia’, que desde 2004 trazia os destaques da imprensa mundial, foi extinto. A novata ‘‘Por aí’, que faria um ano no Cotidiano, parou de ser publicada aos sábados. O caderno ‘Fovest’, para vestibulandos, foi suspenso.

Duas colunas também deixaram o Folhateen: ‘‘Escuta Aqui’, escrita por Álvaro Pereira Júnior, e ‘‘02 Neurônio’, de Jô Hallack, Nina Lemos e Raq Affonso. Álvaro passa a escrever quinzenalmente, aos sábados, na Ilustrada.

Para a Secretaria de Redação, ‘é natural que o jornal promova mudanças periódicas’. Diz, por exemplo, que o ‘Toda Mídia’ serviu por um bom tempo como uma ponte entre as plataformas de papel e on-line da Folha, que hoje estão integradas. ‘O objetivo é apresentar um jornal mais ágil e atualizado aos leitores’, afirma.”