Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tânia Alves

Leitor enviou email no domingo passada (3/4) questionando o teor da manchete do O POVO daquele dia, que informava: “Lula: Temer sabe que impeachment é ilegal”. A fala se referia à participação do ex-presidente em evento contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff na Praça do Ferreira, no dia 2 último. Após destacar que sempre gostou do O POVO, mesmo encontrando algumas matérias com as quais não concordava, escreveu: “Hoje, domingo, dia 3 de abril de 2016, finalmente, a pá de cal para o meu desembarque do O POVO! A manchete vergonhosa, nitidamente partidária, mostrando claramente que, assim como muitos outros, este também não é um periódico independente, me fez desistir. Abandonar o jornal, coisa que raramente aconteceu em toda a minha vida, é a minha decisão, infelizmente. Sugiro pintar o jornal de vermelho, pois, pelo menos assim, sua posição ficaria clara e não mais enganaria ninguém. Lamento, mas percebi o engodo ainda a tempo.”

Naquele dia, as críticas do leitor que enviou o email para a ouvidoria foram seguidas por outros usuários que deixaram comentários no Facebook do jornal em postagem da capa do O POVO. Eles também questionaram a manchete. “Quem vê, diz que não tem notícia mais relevante por aí”, “abordagem ridícula”, “a página dele é a policial”. Foram alguns dos comentários deixados em alusão à manchete.

Respondi para o leitor que remeteu mensagem eletrônica perguntando se ele teve acesso à capa do 2º clichê daquele dia que já apresentava como manchete a resposta do vice-presidente Michel Temer com os dizeres: “Temer diz que não há ‘golpe’ em curso”. Vale ressaltar que o 2º clichê, atualização do noticiário, é geralmente feito na tarde de sábado, pois a primeira edição do jornal de domingo é encerrada por volta das 13h30min. O leitor considerou que a edição em uma folha não era tão vista quanto a capa normal do jornal.

O leitor tem razão em parte. Quando a atualização das notícias deixa de vir na sobrecapa, o 2º clichê se perde nas partes internas. Fica difícil para o leitor encontrar. Por isso, muitas vezes eles reclamam, por exemplo, que não localizaram o resultado dos jogos que ocorrem após as 16 horas de sábado. Não foi este o caso. Naquele dia, a página com a resposta do vice-presidente veio encobrindo a capa. (ver fac-similes da capa e 2º clichê). Portanto, era a primeira notícia que o assinante encontrava ao receber o jornal. Funcionou muito bem como contraponto, pois tanto a palavra do Lula como a resposta imediata do Temer foram publicadas com destaque. Por outro lado, quem comprou o exemplar ainda no sábado de tarde não foi contemplado com as duas versões. E isso foi um pecado.

DISCERNIMENTO

Em relação à relevância da notícia, é preciso ter discernimento para separar o jornalismo de torcida para o lado A ou B. Jornalisticamente, não dava para desconhecer ou deixar de cobrir o evento na Praça do Ferreira. O ato e a fala do ex-presidente em Fortaleza mereciam ser registrados. Ele veio especialmente para o protesto. Levou muitas pessoas ao Centro e fez discurso, que ganhou repercussão não somente local, mas também na imprensa nacional. Foi tanto que, no mesmo dia, o vice-presidente Michel Temer tratou de responder, também de forma firme, à fala de Lula. As duas versões estão postas na edição daquele dia do impresso.

A cobertura que O POVO vem fazendo do momento político atual tem buscado o equilíbrio. Escorrega em alguns momentos, conforme já apontei em outras colunas em domingos recentes. Não foi o caso desta vez.

O JORNALISMO VIVO

Dois momentos, durante a semana passada no O POVO, me fizeram lembrar um trecho do capítulo “Normas Jornalísticas do O POVO”, do “Guia de Redação e Estilo”, que aponta: “O trabalho do jornalismo deve ser regido, acima de tudo, pelo princípio da responsabilidade social das informações que o profissional coleta e transmite. Informar bem é um serviço público, de sustentação da democracia e da cidadania”.

O primeiro momento foi a matéria “A menina que enfrentou alagamento para ir à escola”, publicada na edição de quarta-feira (6/4). A editoria Cotidiano foi buscar a história da menina Raissa, de 4 anos, a partir de uma foto dela publicada em redes sociais e replicada pelo O POVO. Na imagem, a criança andava na água a caminho da escola, usando farda e segurando um caderno. A foto foi publicada no dia 31 de março, e clicada por um usuário da rede (Robson Schoeder) após chuva intensa. Contar a história dela, a partir dos relatos da mãe, trouxe à luz uma Fortaleza que a gente nem percebe que existe, mas que precisa ser retratada em todas as plataformas. Às vezes, o noticiário se esquece dela.

O segundo momento diz respeito à manchete da quinta-feira passada (7/4), que informava: “38 policiais são indiciados por chacina”. O título se referia à investigação dos assassinatos de 11 pessoas, num só dia, na região da Grande Messejana em novembro do ano passado. O assunto nunca foi abandonado pelo jornal. O POVO buscou suítes (seguimento do noticiário) regulares para manter o assunto em pauta. A manchete foi resultado desta investigação. Mesmo agora, ainda é preciso insistir. Matérias como as duas citadas acima são exemplo do conteúdo feito com responsabilidade e qualidade. Mostram um jornalismo vivo.