Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tânia Alves

Uma nota publicada na coluna Lúcio Brasileiro, edição da quinta-feira passada (23/6), causou incômodo em leitor que se manifestou. No conteúdo, o colunista, em tom jocoso, se apresentava para receber o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Como catedrático de Bom Tom via Jangadeiro presumo que já posso pretender doutor honoris causa da UFC” (ver fac-símile).

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O usuário classificou de inadequado o comportamento do colunista. “Ele utiliza o precioso espaço do jornal para pedir medalhas e condecorações. Ele usa o espaço em benefício próprio. É uso inapropriado do (espaço) jornal”. Ressaltou ainda que não foi a primeira vez que o jornalista cobra homenagens. Lembrou que, na época em que Lúcio Alcântara era governador (2003/2007), o colunista “fez campanha” para receber a Medalha da Abolição. O assunto, destacou, chegou a ser tema de coluna externa do então ombudsman Plínio Bortolotti, hoje diretor institucional do O POVO.

A indignação do leitor faz sentido. Há 13 anos, O POVO publicava a terceira edição do “Guia de Redação e Estilo”, em que estabelece normas a serem seguidas pelos jornalistas da casa. No capítulo VI – “Normas jornalísticas do O POVO”, item “Colunas”, entre outras coisas está escrito: “O colunista não pode utilizar o espaço das colunas para promoção de interesses particulares. Também deve ficar atento à utilização excessiva de alguns personagens. Nas duas situações, cabe à direção de Redação alertar o colunista e adotar as medidas cabíveis para casos reincidentes”. Portanto, não tem razão para um colunismo social do O POVO fazer esta abordagem. Mesmo que em tom espirituoso, a nota, com forte interesse particular, funciona como coerção para a UFC, e como um vexame para o jornal.

O leitor também está correto quando destaca que problema não é de agora. Ele lembrou, corretamente, que Plínio Bortolotti escreveu parte de uma coluna externa criticando nota em que o colunista cobrava do governador a indicação para a Medalha da Abolição. Foi em novembro de 2006. Escreveu Plínio, para finalizar a escrita: “O colunista não tem o direito de constranger o governador do Ceará, de forma extremamente deselegante e desrespeitosa, na tentativa de arrancar-lhe benesses. Coluna não é feudo pessoal, da qual cada colunista pode dispor como quiser. O POVO tem de zelar pela sua credibilidade, portanto, a obrigação de conter tais investidas”. O colunista recebeu a medalha em 2012 por indicação do governador Cid Gomes.

Enviei email para o editor do Núcleo de Conteúdo Social e Relacionamento, Clóvis Holanda, responsável pelas colunas, com pedido para destacar as providências a serem tomadas no caso. Não recebi resposta.

Confesso que, quando li a nota da coluna, após ser advertida pelo leitor, de tão inacreditável, pensei que poderia se tratar de uma brincadeira. Mas como ser brincadeira se O POVO é uma empresa que trabalha com notícia? E notícia pressupõe verdade. Citar-se como merecedor de comenda não é papel para colunista. Uma nota com aquele teor jamais poderia passar pelo crivo de qualidade do jornal, pois é apenas um constrangedor momento de um jornalista movido por vaidade, que um dia tende a se extinguir. Aliás, o esnobismo não deveria ter prioridade sobre as muitas histórias de interesse público que o colunista, por sua longa caminhada no jornalismo, adquiriu e pode contar naquele espaço.
EM RESPEITO AO LEITOR
No dia 13 passado, recebi do leitor Cláudio Roberto Rodrigues de Lima, um email em que fazia contraponto à nota “Eles só querem aumento”, publicado na coluna Vertical S/A, escrita pelo jornalista Jocélio Leal, no dia anterior. Ele classificou a nota de “infeliz” e listava quatro razões. Por duas ocasiões, enviei a nota no comentário interno. Da segunda vez, dia 14/6, com pedido para que fosse dada uma resposta ao servidor público ou que publicasse o email enviado. Comentários do tipo, sem ofensas, podem muito bem ser editados no “Fala, Cidadão”, em Opinião, que é espaço reservado para o leitor e seus contrapontos. Até a última sexta-feira 24/6, nem a ombudsman recebeu qualquer resposta e muito menos o leitor. Em respeito a ele, publico abaixo os motivos elencados para classificar a nota de “infeliz”:

“1 – O jornalista escreve sobre algo que desconhece, pois, de há muito, os servidores federais têm um salário base e uma parte variável decorrente da avaliação de desempenho.
2 – Os servidores públicos federais são seres humanos com família para sustentar e precisam de reajustes salariais como todos os demais, ínfimos por sinal, estando eles há mais de um ano sem correção nos seus salários.
3 – A baixa qualidade dos serviços prestados pelos servidores públicos tem a ver diretamente com o “sucateamento” da máquina administrativa que é imposto pelo Governo Federal com a redução de concursos para reposição dos quadros de pessoal e a nomeação por comissão de profissionais despreparados apadrinhados políticos, que não são servidores públicos federais.
4 – Servidor público federal é limitado por lei de exercer outras atividades remuneradas, portanto, extremamente dependente da sua remuneração.”

Para finalizar, o leitor pede ao colunista mais seriedade nas opiniões e diz que, antes de escrever ele “deveria se inteirar da realidade e ler mais”.