Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Notas ao vento

Em tempos de crises recorrentes, a nota é o novo porta-voz das empresas e personalidades. Este fato, secular, revelaria a insegurança da fonte ante o repórter, que muitas vezes suprime informações ou edita posicionamento com interpretação equivocada, ou a fuga da fonte de um questionamento específico, a respeito de algo sobre o que ela não quer falar?

A opacidade das fontes oficiais deve ser revista. O índice de transparência necessário para evoluir a relação fonte e imprensa é o mais próximo possível da pureza. O mito da objetividade. Esse guia recorrente na construção de narrativas. Se a instituição não quer falar, não significa que ela não deva. Algumas diretrizes devem ser cumpridas para garantir a fluência do processo democrático de acesso à informação.

A eficiência das notas está em organizar o argumento da fonte, de modo a evitar respostas emocionais, frases equivocadas, informações desnecessárias. No entanto, elas não estabelecem um diálogo com a imprensa e sociedade, pois não permitem questionamentos. A nota é uma fala oficial, unilateral, de posicionamento a um questionamento chave. Esta ferramenta de comunicação é necessária, pois dribla com elegância os repórteres mal intencionados e é um ponto de partida para os jornalistas bons de faro.

O paradeiro da ética na construção das narrativas é algo a se pensar, debruçar antes de disseminar os discursos, consolidar cenários. Cenários que podem ou não estar em harmonia com a paisagem social (re)construída continuamente. Estabelecer uma narrativa diplomática não significa mentir. Corromper não deve ser uma possibilidade. Assumir a responsabilidade em argumentar diante da expectativa social e especulação dos opositores é inevitável.

Biblicamente já registrado; existe um tempo para todas as coisas. Em paráfrase, há tempo para release, tempo para entrevista, tempo para nota, tempo para coletiva e tempo para o silêncio. A habilidade para compreender e determinar estes momentos é o que torna o profissional um diferencial de mercado, e enriquece o processo de comunicação. Trata-se de um frágil terreno; caminhar por ele exige conhecimento técnico e percepção do fluxo social de construção de significante.

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Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG