Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Falcatruas em ritmo vertiginoso

A mídia noticia quase diariamente denúncias e investigações de escândalos de corrupção e fraudes em prefeituras. A frequência com que certos temas aparecem permitiria estabelecer uma “tipologia”. Educação, saúde, licitações de obras e de fornecimento de produtos e serviços, coleta de lixo seriam, aparentemente, alvos preferidos dos assaltantes da coisa pública.

O catálogo exaustivo de vigarices é por certo muito mais amplo. Assim como mais ampla é a lista de casos que não chegam a ser denunciados. Se as paredes das prefeituras e câmaras de vereadores falassem…

No início da década passada, tiveram destaque na mídia iniciativas como a da criação da Amarribo – Amigos Associados de Ribeirão Bonito (SP) −, encabeçada pelos empresários conterrâneos Antoninho Marmo Trevisan e Josmar Verillo. Em 2003, o Instituto Ethos publicou uma cartilha chamada O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil. Trevisan e Verillo eram dois dos autores. No trabalho, relatava-se a destituição do prefeito de Ribeirão Bonito, por corrupção, em 2002.

Josmar Verillo, agora à frente do conselho da Amarribo, foi entrevistado na EPTV em 17 de maio deste ano. O tema foi um estudo sobre corrupção no país.

População e mídia alertas

Em 2008, o Centro de Referência do Interesse Público, da UFMG, fez uma pesquisa de opinião pública nacional que constatava basicamente, para o que interessa aqui, quatro pontos:

1. A percepção de que a corrupção havia aumentado nos cinco anos anteriores (desde o início do primeiro governo Lula).

2. As câmaras de vereadores, a Câmara dos Deputados e as prefeituras ocupavam os primeiros lugares na lista de ambientes onde a corrupção se fazia presente.

3. A mídia estava atenta ao problema.

4. A mídia costumava ser mais justa/verdadeira/imparcial do que injusta/mentirosa/parcial ao cobrir os escândalos de corrupção.

Alguns slides da apresentação da pesquisa podem ser vistos abaixo (o arquivo está em http://www.interessepublico.org/, escolher a opção Survey Corrupção).

Fenômeno endêmico

Neste primeiro semestre de 2011, só no estado de São Paulo houve denúncias, ou instauração de inquéritos, com ou sem prisões (sempre noticiadas com estardalhaço e revogadas no dia seguinte, ou poucos dias depois), em São Paulo, Campinas, Taubaté, Taboão da Serra, Itapira, Pindamonhangaba, Lorena, São Sebastião, Jandira (onde o prefeito foi assassinado), Orlândia.

Como se diz no jargão das apurações malfeitas, “pelo menos” nessas cidades. Leia-se: não pude pesquisar melhor para descobrir outros casos.

A Folha Online noticiou (16/6) que “Mapa interativo reúne e localiza casos de corrupção pelo Brasil”. Vale a pena conhecer a iniciativa de Raquel Diniz, moradora de São Paulo, e eventualmente colaborar para o enriquecimento dos dados.

A movimentação dos cidadãos não está refletida na mídia, que se limita a receber informações da polícia ou do ministério público e dar o enunciado mais sensacionalista dos problemas. Análise, zero. Constatação de que existe alguma coisa muito errada no funcionamento das prefeituras (foram deixadas de lado, aqui, as numerosas e gritantes manifestação do fenômeno nas esferas estadual e federal, sempre lembrando que a “doença” afeta os três poderes), também não.

Não estaria na hora de se abrir o compasso, dar uma mergulhada metódica nos problemas, ouvir especialistas e prestar aos cidadãos o serviço de apontar os problemas mais frequentes e que tipo de mobilização pode funcionar para preveni-los ou atalhá-los?

Para o bem de todos e felicidade geral da nação.

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Slides da pesquisa sobre corrupção feita em 2008 pelo Centro de Referência do Interesse Público: