Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Editoras britânicas acusam Amazon de ação predatória

Quem tem medo dos e-books? A pergunta já não é mais esta. Se pequenas e grandes editoras temem como nunca a concorrência com publicações digitais em geral – a quem atribuem boa parte de suas agruras financeiras –, a ameaça mais imediata pode ter nome. A Amazon.com, gigante americana de comércio eletrônico de livros, confirmou-se um dos vilões do mercado editorial, ou, pelo menos, seu bode expiatório, para muitos especialistas. Prova disso é que o papel da companhia no comportamento do setor virou tema de um dos primeiros grandes debates realizados na segunda-feira (15/4) na Feira do Livro de Londres 2013.

“Concorrência é bom, mas até certo ponto. A Amazon cresceu tanto que deixou de competir para destruir”, destacou o diretor executivo da Associação de Livreiros do Reino Unido, Tim Godfray, durante o fórum “Amazon: amiga ou oponente?” O especialista garante que a empresa ganhou tamanho e poder de fogo para tirar concorrentes do mercado. Não se trata apenas da capacidade de negociar preços menores, afirma, mas do uso de uma política extremamente agressiva e predatória. Godfray acusa a Amazon de instalar parte de suas operações em Luxemburgo, onde regras de tributação são mais amigáveis, como artifício para entrar com vantagens, por exemplo, em um mercado notadamente caro e tributado como o britânico. “Nos últimos anos, houve uma queda de 18% nas vendas das livrarias independentes e atribui-se a esse fenômeno a concorrência com a Amazon, que teria se tornado seu inimigo número um”, completou.

Para Eoin Purcell, editor da News Island Books e da Irish Publishing News, os rivais da Amazon ainda não entenderam o que está acontecendo de fato com o mercado e tampouco estão preparados para uma concorrência mais ferrenha. A empresa americana saiu na frente e ocupou um nicho que poucos teriam se arriscado a explorar.

“Falso amigo”

“Agora, lamentam que perderam o momento. Mas não descarto que outra empresa venha a dividir ou tomar o lugar da Amazon no futuro. Ela não é invencível”, afirmou.

Outra defensora do papel da companhia americana, Jennifer 8. Lee, uma das mais jovens jornalistas contratadas pelo New York Times, hoje editora da The Daily Lit-Plympton, ressalta a importância da Amazon ao transformar a leitura digital em um canal global. “Também conseguiram experimentar novos formatos, o que foi uma grande coisa para o mercado e para os próprios leitores”, disse ela.

Para o especialista Robert Levine, autor do best-seller Free ride, a Amazon é um “falso amigo”. Ele acusa a empresa de vender livros para o Kindle por preços muito baixos para “aprisionar” os leitores. “Quando aumentarem os preços, dificilmente perderão clientes. Isso acontece não só com a Amazon, mas com a Google e com a Apple. O fato é que os escritores também querem viver do que escrevem e sua margem é mínima”, lembrou.

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Vivian Oswald, do Globo, em Londres