Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

A história do jornalismo em Pernambuco

[do release dos organizadores]

Prisioneiros da objetividade, profissionais do ‘contar o caso como o caso foi’ – como mandam os manuais de jornalismo –, os profissionais de imprensa raramente dão seus testemunhos pessoais sobre os fatos. Até porque, como também determina uma premissa transformada em cultura em todas as redações, o jornalista não é e não pode ser notícia.

Pensando de forma diferente, alguns profissionais do setor decidiram desenvolver um trabalho, cujo objetivo principal é registrar as experiências de vários jornalistas, partindo-se exatamente do princípio de que eles sabem muito mais a respeito dos fatos do que lhes foi permitido escrever e que suas opiniões e vivências pessoais podem acrescentar muitos aspectos importantes ao que se conhece da história política, social e cultural de Pernambuco nos últimos 60 anos.

Foi assim que surgiu o projeto Memória Viva da Imprensa de Pernambuco, ligado ao Centro de Estudos da Mídia (CEM), uma ONG criada sob a liderança dos jornalistas Evaldo Costa e Rossini Barreira para realizar estudos e pesquisas sobre a história da comunicação no Estado, dentro de amplo conjunto de abordagens e perspectivas.

Na quarta-feira (15/3), o projeto estará apresentando ao público o seu primeiro produto, um pacote que agrupa um livro e um DVD de título Palavra de Jornalista – As entrevistas do projeto Memória Viva da Imprensa de Pernambuco, que será lançado às 19h, na Academia Pernambucana de Letras, na avenida Rui Barbosa.

Com mais de 350 páginas, incluindo o prefácio de Ricardo Noblat, o livro resume cerca de cem horas de entrevistas com 20 dos mais destacados jornalistas que atuaram na imprensa do Estado. As entrevistas foram gravadas em vídeo num estúdio de televisão. Cada uma delas teve duração média de cinco horas e foi feita por uma equipe constituída por jornalistas e professores universitários.

Primeiro de uma série de três, todos com 20 entrevistas, o livro é acompanhado por um DVD, que registra trechos (em média quatro minutos) dos depoimentos dos jornalistas. A íntegra das entrevistas do projeto será dentro em breve disponibilizada aos pesquisadores através de convênio que o CEM firmará com uma instituição local.

Os entrevistados desta primeira etapa são, em ordem alfabética, Abdias Moura, Aldo Paes Barreto, Alexandrino Rocha, Aluízio Falcão, Carlos Garcia, Divane Carvalho, Eduardo Ferreira, Fernando Menezes, Francisco José, Geraldo Freire, Homero Fonseca, Ivanildo Sampaio, Ivan Maurício, José do Patrocínio, Lenivaldo Aragão, Olbiano Silveira, Ronildo Maia Leite, Ricardo Leitão, Vera Ferraz e Zezito Maciel.

Atuaram como entrevistadores, entre outros, Aline Grego, Mário Hélio, Michel Zaidan, Paulo Cunha, Paulo Fradique, Túlio Velho Barreto, Ayrton Maciel, Ciro Carlos Rocha, Antonio Magalhães, Jair Pereira, Antônio Portela, Heitor Rocha, Laurindo Ferreira, Marco Bahé, Rossini Barreira, Sérgio Miguel Buarque e Vandeck Santiago.

Paralelamente às suas histórias pessoais e profissionais, os entrevistados traçam um panorama formado por várias décadas, um amplo e diversificado painel pintado a 40 mãos, por onde desfilam governadores, generais, tipos populares e personagens de destaque nos esportes e em outras áreas. O principal pano de fundo é a ditadura militar, da qual a maioria foi vítima – alguns de forma bastante cruel.

‘Este conjunto de entrevistas não resgata apenas a história de um grupo de homens e de mulheres corajosos – resgata parte da história do país em determinada época. Há um pouco de tudo por aqui – episódios saborosos, outros infames e mesquinhos, histórias engraçadas e preciosas lições para quem pretenda fazer jornalismo, para quem tenha começado a fazer jornalismo ou para quem apenas queira entender o que é jornalismo’, definiu Ricardo Noblat no prefácio à obra.

Como iniciativa, o projeto Memória Viva da Imprensa de Pernambuco é praticamente inédito, fazendo par apenas com o projeto do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, que visa estudar a influência da mídia no processo político brasileiro entre as décadas de 1970 e 1980: ‘Cultura e política no Brasil do final do final do século – a mídia’. Deste projeto, foi publicado o livro Eles Mudaram a imprensa – depoimentos ao CBDOC, organizado por Alzira Alves de Abreu, Fernando Lattman-Weltman e Dora Rocha e publicado pela editora da FGV.

Os organizadores ressaltam outra importante dimensão do projeto – a possibilidade de acompanhar a evolução do modo de produzir e publicar notícias no Brasil. No grupo de entrevistados estão profissionais que vivenciaram a introdução da técnica da redação jornalística conhecida como ‘pirâmide invertida’ e os que comandaram a introdução das modernas tecnologias digitais no ambiente das redações.

Há também importante documentação a respeito da evolução do telejornalismo e do jornalismo radiofônico, constituída a partir das entrevistas de profissionais que acompanharam e influíram nas mudanças.