Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Paulo Coelho,
o de sempre

Assim como Nelson Rodrigues era obcecado pela figura de D. Hélder Câmara, e como Diogo Mainardi, por mais que não queira, sempre volta a falar do presidente Lula, eu também não consigo me desgrudar da figura e da obra de Paulo Coelho.

Fui um dos primeiros a comprar o seu mais novo livro, O Zahir. Aproveitei a Semana Santa para, em espírito de penitência e contrição, ler as 300 e poucas páginas, sem nenhum preconceito, sem antecipar críticas, disposto, com sinceridade de coração, a ser conquistado para as fileiras de admiradores nacionais e internacionais do escritor brasileiro mais conhecido no planeta.

Traí minhas intenções a partir da página 22. Meu exemplar repleto de anotações perplexas, perguntas desesperadas, pontos de exclamação… Uma história simplória, construções gramaticais primárias, lugares-comuns para dar e vender… E como vendem!

Páginas derradeiras

Paulo Coelho, em plena Páscoa, que trazes para mim? Ao longo do livro, sem a menor sutileza, o autor distribui auto-referências. O protagonista é o escritor Paulo Coelho disfarçado de Paulo Coelho. Elogios velados a si mesmo, como escritor incompreendido pela crítica, como escritor cujo poder está em ter aceitado o milagre de ser escritor.

Diálogos entediantes, mergulhados na espiritualidade aguada de sempre, um estilo sem estilo que, como demonstra Janilto Andrade, em seu livro Por que não ler Paulo Coelho (Editora Calibán, 2004), não exige do leitor ‘qualquer esforço mental’ e produz ‘reações idênticas, controladas e desprovidas de lances de encanto e de novidade’.

De repente, percebi que estava dando voltas no deserto, e que volta e meia sempre aparecia o advérbio ‘sempre’, em construções como ‘Esther sempre comentara…’ (pág. 15), ‘aquele tipo de coisa que sempre…’ (pág. 22), ‘tomar chocolate quente com Esther sempre que…’ (pág. 23), ‘Esther sempre descrevia…’ (pág. 24), ‘tanto eu como Esther sempre…’ (pág. 26), ‘logo eu, que sempre…’ (pág. 27), ‘elas sempre em busca…’ (pág. 30), ‘sempre poderei ser…’ (pág. 34), ‘Sempre poderei voltar…’ (pág. 34), ‘sabendo que sempre posso…’ (pág. 35), ‘que está ali com seu jeito sempre silencioso…’ (pág. 37) – fiquei hipnotizado, jamais vi tantos ‘sempres’…

Confesso minha fraqueza. Folheei com rapidez as noventa páginas derradeiras, li as duas últimas sem surpresa e sem remorso. Influenciado pela leitura, porém, passei a ter visões: em 2007, ao completar 60 anos de idade, Paulo Coelho receberá o Prêmio Nobel de Literatura… Ou da Paz.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; site (www.perisse.com.br)