Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Um sonho de liberdade

[do material de divulgação da editora]

Tudo começou na madrugada de 22 de janeiro de 1961, quando o transatlântico “Santa Maria”, um dos dois mais luxuosos navios de Portugal, navegava pelo mar do Caribe, levando mais de 600 passageiros, de várias nacionalidades, e 350 tripulantes portugueses, no que deveria ser um alegre e tranquilo cruzeiro marítimo. A maior parte da tripulação e dos passageiros dormia. De repente, as duas portas da ponte se abrem ao mesmo tempo e dois grupos armados invadem a sala iluminada apenas pelos instrumentos de navegação, um a bombordo, outro a estibordo. Há um rápido tiroteio e, acesas as luzes, o terceiro piloto e o navegador estão caídos, gravemente feridos. Poucos minutos depois, o navio está nas mãos de um grupo formado por espanhóis e portugueses que pretendiam levá-lo, sigilosamente, para a África e de lá iniciar um movimento para a derrubada das ditaduras de Antonio Salazar, em Portugal, e Francisco Franco, na Espanha (no final da apresentação do livro, uma breve entrevista com o autor).

Colocando os sentimentos humanitários acima dos objetivos políticos, para proporcionar assistência médica adequada ao ferido, os sequestradores alteraram a rota prevista, permitindo a sua localização e perseguição pelo Caribe e pelo Atlântico por navios e aviões de vários países. A epopeia veio a terminar no Brasil, com a entrega do navio, mas durante 13 dias o “Santa Maria” foi notícia nos jornais de quase todo o mundo e a “Operação Dulcinéia” atingiu um dos seus objetivos, pondo em foco os regimes ditatoriais dos dois países.

Entrevista com Ludenbergue Góes

Ludenbergue Góes começou a carreira em São José do Rio Preto, em 1953. A partir de 1959, trabalhou por 32 anos no jornal O Estado de S. Paulo como repórter e editor de esportes e co-secretário de redação. Trabalhou também na TV Bandeirantes, na TV Globo e na Assessoria de Comunicação do governo do estado de São Paulo.

Quando surgiu a ideia de escrever sobre “O Sequestro do Santa Maria”?

Ludenbergue Góes – Na época do sequestro, eu já trabalhava no Estadão e, embora não participasse, acompanhei de perto a cobertura. Naquela época, eu, como tanta gente, víamos o capitão Henrique Galvão como o único idealizador e o herói da operação. Muitos anos depois, por ligações familiares (ele é casado com minha prima Vera), aproximei-me de Vitor Velo, um dos integrantes do grupo de sequestradores, e, ouvindo o seu relato e vendo os documentos de seu arquivo, tive outra visão. Houve mais gente e com atuação até mais importante naquele episódio. E foi para mostrar esse outro lado e resgatar a história verdadeira (ou a mais próxima da verdade) que decidi escrever o livro.

O sr. encontrou dificuldades para levantar os dados em suas pesquisas?

L.G. – Não. Não tive dificuldades. Primeiro, graças à colaboração do Vitor Velo, com a liberação de todo o seu arquivo e outros livros já escritos. E ainda pessoas que trataram do assunto; arquivo do jornal O Estado de S. Paulo; material de vários outros veículos e sites com credibilidade, de órgãos oficiais.

“O livro vai além da Operação Dulcineia”

Com foi a cobertura jornalística deste episódio?A mídia foi fiel aos fatos ou houve interferências? Tanto a nacional como a internacional?

L.G. – Foi uma cobertura ampla e detalhada, dentro, é claro, das condições da época. Os jornais e rádios brasileiros foram mais fiéis, embora todos dependessem, basicamente das agências internacionais, nem sempre isentas. Nos países envolvidos, como se vê no livro, o noticiário era maciçamente contra os sequestradores.

Quais os pontos mais significativos de toda esta jornada do Santa Maria?

L.G. – Acho que há vários episódios marcantes antes, durante e depois da operação. Antes, as divergências entre Galvão e os demais mentores da operação; durante, as escaramuças para o embarque; a tomada da ponte de comando; a difícil decisão de mudar de rumo para garantir assistência ao tripulante; a corrida de gato e rato, depois que o navio foi localizado. Depois, as brigas e disputas entre os envolvidos na operação.

O que gostaria de acrescentar?

L.G. – Gostaria de destacar que o livro vai além da Operação Dulcineia. Numa primeira parte, dá uma ideia da situação mundial que levou vários países a regimes ditatoriais. Faz o perfil dos principais personagens e acompanha a vida deles, antes e depois do episódio, assim como dá detalhes dos regimes de Franco e Salazar e dos acontecimentos que culminaram com a queda deles.

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